Quando assumi a Secretaria Nacional da Juventude, passei a analisar os dados a respeito desta faixa etária, que vai dos 15 aos 29 anos. Esses mesmos dados teriam tudo para serem favoráveis ao Brasil, afinal, passamos pelo chamado bônus demográfico, a maior geração de jovens que o Brasil já teve e que já jamais terá novamente, 1% do nosso PIB tem crescido anualmente em decorrência exclusiva a isso. Somos aproximadamente 24% da população, o que nos torna uma nação com alto potencial produtivo, uma boa base para a pirâmide etária.

No entanto, este potencial é pouquíssimo aproveitado e o bônus demográfico está passando, daqui em diante teremos apenas reduções no número de jovens, de 50 milhões em 2018, já se contabilizam aproximadamente 47 milhões em 2021, e a tendência é seguir declinando.

Tínhamos tudo para ter preparado essa geração e o Brasil ter se tornado uma grande potência, e então, o que faltou?

Educação. O primeiro ponto, e também o mais crítico. As escolas não estão preparando os jovens para serem produtivos, nem para o amadurecimento da personalidade ou compreensão do mundo de forma verdadeira e crítica. Nos tornamos frágeis, passamos a procurar problemas irrelevantes pela falta dos problemas reais que essa geração não precisou enfrentar. Nossos pais viveram com menos recursos, menos informações, acessos, oportunidades e ainda assim, se ergueram, construíram suas famílias e prosperaram nas suas vidas. Nossos avós tiveram ainda mais problemas e viveram uma vida mais decente que a geração de seus filhos. Trabalhavam desde muito jovens, tinham menos problemas psicológicos, relacionamentos mais duradouros, com menos divórcios, mais frequência à igreja e nunca faltou ocupação. Claro que houve avanços, mas me questiono se os avanços são relacionados apenas às tecnologias ou se também se englobam o ser humano e seus relacionamentos.

Toda esperança de sucesso foi depositada no ingresso dos jovens ao ensino superior, independente da área, nos venderam a ideia de que bastava conquistar o diploma. Ledo engano. Além de a qualidade do nosso ensino ser muito questionada pelo número de estudantes que são analfabetos funcionais, parece que ninguém previu ou alertou que existiam áreas já saturadas no mercado. Esse mesmo “fetiche” pela faculdade tirou o foco do ensino básico, que é onde, de fato, as mudanças sociais podem acontecer para as pessoas que mais precisam ascender de classe social. É ali que a desigualdade de oportunidades precisa ser melhor equiparada, no básico.

Outro ponto importante, faltou de visão de futuro. Durante o bônus demográfico tivemos uma grande mudança na forma de trabalho, a chamada quarta revolução industrial. Acontece que os jovens também não foram preparados para isso, afinal, não se ensinam novas profissões na academia brasileira ou, se ensinam, são exceção. Pois bem, se ao atravessar o bônus demográfico as coisas já não estão tão boas (há 10 anos já estamos nesta transição), o que podemos esperar do futuro? O que acontecerá com toda essa mão de obra que foi formada e não está inserida no mercado de trabalho? Deixamos mesmo todo esse potencial “escorrer entre os dedos”?

O tempo dirá. Agora, resta depositar esperanças para que sejamos a grande geração de adultos com potencial aproveitado, já que enquanto jovens, não deu.