Todo produto tem o seu custo e tem o seu preço, que vai desde a produção até os demais custos que o mesmo recebe durante toda a cadeia logística, até chegar no consumidor final. Todos esses custos apurados, mais o lucro que o mesmo deve gerar, compõe o preço final.  

Para se apurar o custo de um produto, principalmente o de produção, a engenharia de produção das fábricas se debruça em equações, para chegar ao valor de venda de um determinado produto, partindo da premissa, que entre a qualidade do produto e o seu preço, seja o determinante para que o mercado aceite.

Esses são os princípios básicos de se ter produto ofertado, e o seu preço ser suportado pelo mercado, de formas quer o consumidor ache o equilíbrio entre a satisfação de adquirir um produto, e o binômio qualidade x preço atendam de forma conveniente e convincente.

Mas não é somente isso que ocorre no mercado. Algumas variantes poderão interferir diretamente no valor de um produto, e aqui nós queremos nos ater somente nos valores atuais dos fretes marítimos, que tomaram patamares nunca vistos.

Quem tem um pouco mais de experiência, vai se lembrar que o mercado de fretes marítimos entre os continentes, eram, de certa forma, isso nos idos das décadas de 80/90, controlados pelas Conferencias de Fretes. Brasil x Estados Unidos tinha a Conferencia Interamericana de Fretes. Brasil x Europa tinha a Conferencia de Fretes Brasil/Europa/Brasil. Brasil x Espanha tinha a Conferencia de Fretes Brasil/Medirerraneo/Brasil. Brasil x Asia tinha a Conferencia de Fretes Brasil/Far East. A grande maioria dos armadores eram conferenciados, e ajustavam os fretes marítimos entre eles, em acordos internos, e cobravam dos embarcadores, tanto de exportação quanto de importação uma certa fidelidade, e quem assim se mantinha, recebia no final de cada período (semestre) uma espécie de bônus.

Os armadores que não eram conferenciados, eram taxados de “outsiders” e ofereciam no mercado, um frete mais baixo, e alguns exportadores acabavam embarcando, e com isso caiam na infidelidade para com os armadores conferenciados, e perdiam o bônus do semestre, e entravam numa chamada “black list”.

Na medida que armadores, chamados de “outsiders” foram crescendo e tendo uma grande oferta de espaços em navios, as conferencias foram implodindo, até que se acabaram de vez, e o mercado de fretes marítimos ficou totalmente aberto.

Os fretes marítimos sempre oscilaram ao longo do tempo, dependendo da oferta de espaço (slots) nos navios contra a oferta de cargas para transportes. Aliado a isso, temos a reposição dos containers vazios. Como o Brasil sempre foi mais exportador do importador, sempre havia a necessidade de reposição de containers vazios da Ásia, Europa e Estados Unidos, e muitas vezes, se aproveitava essa reposição para vender um frete mais barato, já que os containers vinham vazios. Isso foi prática recorrente durante muitos anos. Essa situação se inverteu um pouco a partir do ano de 2020, havendo um equilíbrio entre exportação e importação, naturalmente que estamos nos referindo a cargas conteinerizadas, nos navios chamados “Full Containers”.

Isso fez com que os fretes marítimos tivessem uma alta significativa no mercado. Mas não foi somente esse fator que fez os fretes marítimos alcançarem patamares nunca vistos. A pandemia do corona vírus, os congestionamentos dos portos, o acidente do navio “Ever Given” no canal de Suez, estão provocando esta alta dos fretes marítimos, trazendo dificuldades para as empresas importadoras, principalmente aquelas que dependem de matéria prima do mercado externo.

O frete de um container de 40 pés (12 metros), da Ásia para o Brasil está na casa dos U$ 10.000,00 (dez mil dólares), valor este que vai direto para o custo final do produto, que refletirá para o consumidor. O frete marítimo, como os fretes de outros modais, é definido pela lei da oferta e da procura, e as condicionantes que estão se abatendo sobre as empresas de navegação, portos fechados pela pandemia, portos congestionados, provocando atrasos em navios das mais diversas linhas, como também a omissão de escalas em determinados portos, afeta direto as receitas dos armadores, e o produto dos mesmos, que é o frete, são reajustados para fazer frente as despesas não previsíveis.

Quem é diretamente afetado por essas elevações dos fretes são as empresas e por consequências os seus clientes. Essa pandemia não só, infelizmente, está ceifando vidas, como está provocando fortes mudanças na economia, e na logística de forma geral.

Pergunta-se: Os fretes marítimos voltarão a patamares mais razoáveis, próximo da casa que era a cerca de dois anos? A resposta, segundo alguns especialistas do setor, é não. Essa alta deverá perdurar até pelo menos o primeiro trimestre de 2022, mas ainda não voltando a níveis anteriores.

Todo o produto tem o seu preço, basta saber se o mercado aceitará e absorverá mais esses custos, também não previsíveis.