Vou abrir a coluna de hoje fazendo um desenho do cenário internacional – do meu ponto de vista, é claro. E dentro deste cenário, vamos começar a ter a percepção de como e onde Santa Catarina se encontra nesse “novo mapa mundi” social, político e econômico e quais os caminhos e perspectivas futuras poderemos ter e percorrer.  Vivemos uma era de paz sem precedentes na história da humanidade – são 70 anos sem um conflito mundial; mesmo assim, trata-se de uma era de mal-estar e insegurança em vários continentes. Os conflitos de hoje são regionais e, ainda que possam escalar em conflitos maiores, só o futuro dirá. Escapamos “ilesos” da Guerra Fria, mas os conflitos civilizacionais estão em curso, como também o “cara a cara” entre a China e os EUA.

Sabemos que, num mundo superpovoado, muitas questões de recursos, de meios e modos de produção, de sustentabilidade e de saúde emergirão para além do Covid 19. O que já é certo – e vai além da geopolítica e seus contornos – hoje em dia, é a insatisfação das pessoas, numa era de bem-estar material jamais experimentado pela humanidade. Porém, uma era de acesso a informações produtoras de desejos que eleva expectativas para além da compreensão sobre a origem das riquezas dos países.

O caso das recentes e violentas manifestações no vizinho Chile é evidência de que o progresso material abre caminhos para novas demandas e insatisfações. Tanto na Venezuela, aonde as pessoas passam fome e necessidades, quanto no Chile, aonde muitos ascenderam à classe média, há insatisfação e incompreensão. A derrocada da Argentina, que fez a trajetória ao contrário do desenvolvimento para o subdesenvolvimento, acende uma luz de emergência na região.

No Brasil, assistimos todos os tipos de debates sobre melhores serviços públicos e direitos, sem levarmos a sério que a economia do país não cresce a décadas – e sem observarmos que produzimos per-capita um quinto do que produzem os norte- americanos e europeus, por exemplo. Também fazemos de conta que existem investimentos no país que possam fazer o Brasil crescer mais. Pois não há, salvo em alguns poucos estados e setores.

De forma geral, é o Ocidente que se apresenta muito mais desesperançado, em contraste com o Oriente, este como muito mais afluência social, mais progresso, mais trabalho e mais planejamento e intenções estratégicas de cima até embaixo, sejam países democráticos ou não.

Entre todos os conceitos, o mais poderoso e o de maior mobilização é o da afluência social. De um modo muito simplista: se trabalhar vai subir na vida. E não só pagar contas, impostos e juros como no Brasil. Na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina, bem como no Oriente Médio, as gerações atuais têm menos perspectivas sobre a melhora de vida de seus filhos do que seus pais tinham das suas. Nos países orientais, em especial na China, a estratégia é também estratégia de nação. A ideia é poder vencer na vida, algo como o antigo “american dream”, hoje o “sonho oriental”, dos chineses e de dezenas de países daquelas bandas.

Nós, no Brasil, já tivemos um “brazilian dream”, em vários ciclos econômicos, desde os puxados pela imigração, a partir de 1870, até os booms econômicos do “país do futuro”, nas décadas de 1960 a 1980. Destacando-se e até contrastando com esse cenário, Santa Catarina ao longo da sua história e das últimas décadas uma das mais bem-sucedidas e interessantes experiências de desenvolvimento autóctone do mundo inteiro. É neste ponto que o estado se encontra. Pois bem: cá estamos. E para onde vamos? É isso que vamos buscar responder na próxima coluna.