Nestes últimos anos, inclusive nestas últimas décadas, me surpreendi com a falta absoluta de interesse geral pela Filosofia, que ao meu ver, é um âmbito enriquecedor, pois as suas ferramentas proporcionam um estímulo para o pensamento. Apesar de tudo, tenho a esperança de que os diversos coautores, pensadores e filósofos brasileiros, tais como Mario Sérgio Cortella, Leandro Karnal, entre outras figuras célebres ressurgidas em um contexto social muito pouco filosófico, possam, algum um dia, reconduzir ao cidadão de bem a despertar o seu interesse por este âmbito de estudo. Enquanto isso, e infelizmente, a Filosofia permanece integramente ausente das nossas vidas.

O perigo da ausência da Filosofia supõe, ao mesmo tempo, o perigo da falta de pensamento no seno das sociedades. O que houve durante todo este tempo? Há muitas explicações para descrever essa tendência decadente da Filosofia no mundo ocidental. Mas gostaria de centrar-me em uma causa específica, que está relacionada sobretudo com a maneira em como o ser-humano passou a divinizar a “imagem” e a desprezar os “livros”.

Recapitulemos por um instante a inauguração dos museus e galerias de arte no período da idade Moderna, ao redor do século XVII. Os museus tornaram-se espaços públicos ao serviço da sociedade e do cidadão, e contribuíram com algo novo: ajudava o cidadão a despertar a sua capacidade crítica através da contemplação (reflexão) das obras de arte. A pintura estimulava o pensamento. Como? O visitante julgava a pintura segundo as suas próprias interpretações, segundo aquelas ideias próprias que realmente considerava sobre a pintura que observava. Deste modo, se estabelecia uma relação de intercâmbios; O visitante ganha a capacidade de julgar (rigorosamente) aquilo que observa, enquanto o quadro desempenha a sua função de ser observado. Neste sentido, a criação das galerias e museus foram importantes (e ainda são) porque ajudaram os cidadãos daquela época a despertar a sua capacidade crítica, que até então encontrava-se reprimida por culpa da ignorância generalizada das sociedades estancadas, e por culpa da própria condição de servos, reprimidos pelos mandamentos do rei.

Naquela época, a relação mantida entre o observador e o quadro era eficiente e proveitosa. O visitante do museu não só observava meramente a uma pintura diante de si, como também realizava o pensamento sobre o conteúdo da pintura (imagem). O visitante pensava sobre a pintura (imagem).

Aquela relação frutífera que se estabelecia entre o visitante do museu e a pintura acabou corrompendo-se alguns séculos mais tarde. A partir do século XX, e com a ascensão exponencial das indústrias tecnológicas, das quais lançaram ao mercado diversas tecnologias de “imagem” (câmaras fotográficas, televisão, e o celular), as sociedades sofreram uma profunda transformação. Uma avalanche de imagens, provinda de diferentes meios de comunicação, tomaram conta das sociedades. Desde a publicação de Slogans publicitários das principais avenidas da cidade, até as imagens transmitidas pelo nosso telefone, as sociedades se encontram dominadas pela imagem.  O que prevalece já não são pinturas ou imagens estáticas (paradas) diante de nós, para que as pensemos de forma serena, tranquila, mas sim, a (sobre) imagem provindas de todas as possíveis direções. A invasão da imagem através de diferentes meios, acabou originando um novo paradigma cultural: “A cultura da imagem”, ou melhor, “a cultura da (sobre) imagem”. Nela, o indivíduo acumula grandes quantidades de informação, porém, sem saber como relacioná-las entre si. Este novo paradigma da nossa sociedade se destaca sobretudo porque mantém aos indivíduos em um estado de permanente distração.

A cultura da (sobre) imagem, com todo o seu poderio de distração sobre uma grande parte da população ocidental, acaba aniquilando muitas formas de pensamento. Deste modo, a banalização da imagem, na qual ocorre em todo o momento, e em todos lugares, seja onde estejamos, reduz a capacidade intelectual do ser-humano a meras formas hedonistas de pensamento, de cujo único fim é ir unicamente em busca do prazer imediato (“curtir” ou “não-curtir”, like ou dislike). A cultura da (sobre) imagem substitui e aniquila a cultura do pensamento.

Diante de um cenário, onde uma maior parte da população reduz a sua capacidade intelectual a meras formas hedonistas de pensamento (rebaixar o pensamento aos prazeres imediatos), se faz estritamente difícil e conturbado de consolidar uma sociedade que, entretanto, aplique minimamente o pensamento de uma forma geral. E se o pensamento decai, a Filosofia decai, e como consequência, as sociedades se vêm gradualmente expostas a uma série de circunstâncias indesejadas: Incremento da injustiça, aumento da violência, risco da democracia, no pior dos casos, pedido de auxílio aos extraterrestres, entre outros fatos indesejáveis…