Os erros das pesquisas e a exceção à regra – Coluna do Paulo Gouvêa
Em geral os analistas políticos avaliam as chances dos candidatos em uma eleição levando em conta as pesquisas. No caso do Brasil e especialmente no que diz respeito à escolha do próximo presidente há aí um grave problema: a descrença nas pesquisas por parte da população em geral e, consequentemente, dos nossos leitores. E o fato é que a desconfiança não acontece apenas porque um ou outro candidato desconfia. Qualquer um que olhe a discrepância entre as votações de Lula e Bolsonaro no primeiro turno fica com um pé atrás em relação ao trabalho feito por alguns dos principais institutos de pesquisa do País. Pesquisa é tradução. Transposição da vontade popular. E como diz o ditado italiano, traduttore, traditore. Ou seja: tradutor, traidor. O que todo mundo de boa vontade anda dizendo é que Ipec, o antigo Ibope, e Datafolha erraram feio. Os mais irados dizem que eles praticaram grossa sacanagem. Como se sabe, o turno terminou com 48,43% para Lula e 43,20% para Bolsonaro 43,20%. Mas, o Ipec previu que Lula teria 51% dos votos válidos – podendo, portanto, vencer no primeiro turno – e Bolsonaro 37%. O Datafolha cravou resultado parecido: 50 a 36. Outros institutos, como Ipespe, Quaest, Poder Data, Atlas-Intel e Idea, mostraram previsões parecidas. Todos eles tiveram de engolir, no domingo da eleição, à noite, os sapos da desonra. Só quem chegou perto do que aconteceu na votação foi o Paraná Pesquisas que captou 47% de Lula contra 40% de Bolsonaro.
Eliminada a conspiração, sobra a incompetência
Eu não acredito em bruxas e não acho que foram urdidas por parte das empresas que tentaram descobrir, na véspera, o que os eleitores iriam fazer no dia seguinte. E meu ceticismo decorre da circunstância de que elas são numerosas. A tecitura exigida por uma tramoia desse porte não comporta tantos participantes. Antes que o primeiro turno chegasse o escândalo já teria aparecido. Eu prefiro acreditar em causas. A primeira, possivelmente, diz respeito ao movimento dos eleitores em direção a algum tipo de voto útil. Esse comportamento já se antevia dias antes e se acentuou nas últimas horas antes da votação. Eu me refiro à mudança de voto dos eleitores de Simone Tebet e Ciro Gomes em direção aos dois favoritos. Os dois andaram beirando os 6% dos votos e, na hora H, tiveram entre 3 e 4%. Claro que esses votos foram para os dois lá de cima e, aparentemente, mais para Bolsonaro que para Lula. Isso, no entanto, não explica tudo. Deve existir também algum erro coletivo nos métodos de avaliação das intenções de voto. Os institutos ficam devendo uma séria revisão de seu modo de operar, sob pena de terem de abandonar as pesquisas eleitorais, como sugeriu Bolsonaro.
Racionalmente, quem tem mais chance de ganhar?
É melhor, por ora, desconfiar dessa fonte de informações, talvez prestando mais atenção ao que vier da Paraná Pesquisas. E usar a mais pura racionalidade. Há um número do qual ninguém duvida porque é absolutamente correto: no domingo, dia 2 passado, Lula tinha 48,43% dos votos e Bolsonaro 43,20%. Esse foi o resultado da votação em primeiro turno. O que se sabe, portanto, é que Lula largou, no dia 2 à noite, com 6 milhões de votos a mais que Bolsonaro. E, por outro lado, muitos analistas e eu entre eles, entendem que o Capitão tem algumas vantagens competitivas nesse returno da eleição. Para começar, Lula cometeu um erro grave e tem grande chance de pagar essa conta. Ele estimulou a miragem de que venceria no primeiro turno e, como isso não aconteceu, criou-se uma reversão de expectativas: desânimo no lado dele e animação no de Bolsonaro. E isso se reflete no estado de espírito dos eleitores. Um segundo fator envolve a geopolítica das urnas. Lula levou o Nordeste, Bolsonaro teve a seu lado o Sul e o Centro-Oeste, houve empate no Norte e também no Sudeste. E é aí, no triângulo das grandes votações de São Paulo, Minas e Rio, que, mais provavelmente, será decidida a eleição. E é neste território valioso que Bolsonaro começa com uma grande dianteira potencial: o apoio claro e anunciado dos dois governadores reeleitos em MG e no RJ, o governador atual de SP e, também aí, no Estado mais populoso do País, o candidato de segundo turno que liderou com surpreendente superioridade a votação do primeiro turno.
Aqui, só se a vaca tossir e o boi voar
Para o governo de Santa Catarina parece que a parada está resolvida. O candidato Jorginho Mello só perderá essa eleição se acontecer alguma coisa muito espetaculosa. A entrada de Décio Lima no pódio do segundo turno foi um presente dos partidos de centro-direita. A pulverização nesse lado com as quatro candidaturas fortes de Jorginho, Moisés, Gean Loureiro e Esperidião Amin, mais a quinta de Odair Tramontin, possibilitou que o único candidato da esquerda chegasse lá mesmo com uma votação modesta. Mas, o presentão, no final das contas, tem tudo para se transformar num cavalo de Troia. A grande maioria dos eleitores daqueles candidatos vão dar seus votos agora para Jorginho. O isolamento de Décio mais a provável repetição do sucesso de Bolsonaro em Santa Catarina, provavelmente elegerão com folga o candidato do PL. A não ser que o próprio favorito faça muita bobagem ou que aconteça um espetacular e altamente improvável crescimento de Lula em terras catarinenses.
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