SC, pequenas ou grandes ideias – Coluna do Vinícius Lummertz
Santa Catarina é um Estado formado por grandes e novas ideias. Ainda que muitas tenham começado pequenas. Micros e pequenas empresas natas se transformaram em grandes marcas e conglomerados. Weg, Tupy, Dohler, Hering, Sadia, Perdigão, Aurora, Portobello, Beto Carrero, Costão do Santinho, Duas Rodas, Embraco, Cecrisa, Malwee, Marisol, Battistella, Lepper, Tigre, Oxford e tantas outras são apenas alguns ícones do mais diverso e bem-sucedido capitalismo autóctone brasileiro. Fizemos empresas antes de termos mercado, o que contrasta com a vantagem que teve São Paulo. Santa Catarina teve suas grandes ideias para exportar e conquistar o Brasil e o mundo. Isto é pensar grande. Mas não teria sido possível se governos não tivessem, também, pensado grande. Um olhar detalhado para o nosso passado mostraria que o caminho trilhado por nossas empresas teve, por quase um século, pelo menos, governos catarinenses atentos, atuantes e estratégicos.
Florianópolis, uma pequena cidade capital se estruturou institucionalmente e liderou o embasamento de infraestrutura física e humana, acompanhando as várias vocações regionais – e por isso merece reconhecimento histórico. Planos estratégicos de governo desde a gestão de Hercílio Luz caminharam juntos com as grandes ideias novas – e com ferramentas como o Procape no governo Amin, Prodec e Programa Integrado de Desenvolvimento Econômico (PSIDE) que coordenei no governo Pedro Ivo, além do advento do Badesc e do BRDE, consolidaram a indústria do Estado. No século 21, as grandes ideias novas continuaram a surgir em Santa Catarina, não mais só na indústria, mas também no chamado pós-industrial; e foram estes os campos de interesse majoritário de interesse de Luiz Henrique, motivado pelo pensamento de Domenico De Masi e Emanuel Castells. Descentralização e internacionalização, estética, portos, arte, turismo, náutica, vitivinicultura, tecnologia e inovação fizeram parte da renovada simbiose pública e privada das grandes ideias catarinenses.
Porém, o momento atual não é mais assim. Em Florianópolis observa-se um descolamento do espírito público das grandes ideias em direção a um modelo político de curto prazo, de caráter mais pragmático e eleitoral. Dissocia-se o sentido estratégico do grande alinhamento público e privado que é o cerne do sucesso catarinense – e não se trata de alguma opção política individual de “alguém”, apenas. Criou-se um novo ‘ethos’ da política por si própria, bem mais distante do sonho catarinense. De fato, ouvi esta premonição aqui em SC pelo professor francês Ignacy Sachs, o criador do termo “desenvolvimento sustentável” que deu origem ao termo “sustentabilidade”, de que Santa Catarina correria um grande risco de se homogeneizar ao Brasil.
O Plano 1000 do Governo do Estado, por exemplo, é uma “simpatia política” que propõe repassar 1000 reais por habitante para as prefeituras. Quem pode ser contra este benefício municipalista que deve comprometer orçamentos por anos a fio em incertezas – mas que não responde aos desafios estruturantes do até aqui bem- sucedido Estado de Santa Catarina? Ficaremos cada vez mais com a cara da média brasileira e com menos cara e diferencial catarinenses?
Para o professor Sachs deveríamos resistir, para o nosso bem e para o bem do Brasil. Pensar pequeno ou grande dá o mesmo trabalho? Talvez, mas os resultados são bem diferentes aqui como em qualquer parte do mundo. Em São Paulo, desde Mário Covas se tem pensado grande na relação público-privada – tomemos as rodovias privadas que são 19 entre as 20 melhores rodovias do Brasil. Atualmente, o Governo João Doria bate todos os recordes de investimento de SP e do país, graças às reformas e às privatizações. Isto é pensar grande.
Precisamos retomar a receita de sucesso de Santa Catarina: devolver à Capital do Estado o papel de “cabeça pensante”, em um novo diálogo criativo com a inteligência das regiões e setores econômicos, ampla visão do Estado e das vocações/projetos regionais – e com novas e grandes ideias renovar o diferencial que um dia nos alçou acima da média brasileira e nos transformou numa referência internacional.