Não bastam sentimentos para mudar o idioma – Coluna da Jayana Nicaretta da Silva
Entre tantas inovações destes tempos modernos, em que parece que tudo muda instantaneamente e baseado em sentimentos momentâneos, decidiram agora que o português ofende às pessoas que se denominam como gênero neutro e então nosso idioma precisa se adequar. Já não bastava escrever o @ no lugar das letras, para que todos se sentissem representados. Já não basta que a nossa ex Presidente da República, Dilma Rousseff, tenha assassinado a língua na invenção da palavra “presidenta”. É preciso agora, representar aqueles que não se admitem como homem, nem mulher.
As coisas não são mais pensadas de maneira racional ou baseadas em evidencias e dados e fatos concretos. Acontece que o português não muda a partir dos sentimentos das pessoas. “Há, hoje eu acordei me sentindo triste porque não acho certo determinado termo, então quero mudar o português. ” Não é assim que funciona.
Já pensaram se os mineiros, com seu modo típico de falar, formassem um movimento para uma mudança do português que atendesse aos seus dialetos locais? Se eles quisessem incluir, na normativa culta, as expressões locais? E se nós decidíssemos então, que o correto é pronunciar o “te” ao final das palavras, tal qual como se escreve, pois hoje nos sentimos excluídos do restante do Brasil.
Isso não acontece porque adultos maduros não querem adequar o mundo aos seus sentimentos. Nem mesmo gays, ou a maioria das mulheres veem problemas na normativa culta atual. O que existe é um grupo pequeno e barulhento que alimenta a ideia de destruição de tudo que é tradicional. Por eles não haveria mais família, nem norma culta. Arte? Só moderna, pós-moderna. Literatura? Para quê, se existe o YouTube.
Durante a história, as mudanças que foram adaptadas ao nosso idioma (como a qualquer outro), aconteceram de forma gradual, baseadas em mudanças culturais que levaram décadas, seja a partir de grandes obras, de grandes autores, ou de algumas práticas e novas palavras que passaram a ser usadas por toda a sociedade antes de serem debatidas nas academias, e só depois deste processo natural, é que foram formalmente aceitas.
Esse processo é o inverso do que estão tentando fazer. De maneira impositiva e baseado em sentimentos momentâneos de pequenos grupos, que sequer conseguem produzir alguma obra relevante para a literatura da sua geração, mas querem, “guela abaixo”, ditar como deveria ser escrito o português. Indo de encontro ao anseio da maior parte da sociedade.
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