Venho me manifestar perante meu grande público por um dever de ofício. Afinal, tenho uma grande responsabilidade para com as pessoas que acreditam no meu trabalho e acompanham diariamente as informações divulgadas pela minha coluna no SCemPauta, que está no ar desde 2017. Peço que leiam até o final.

Na segunda-feira, divulguei as seguintes notas:

Fontes ligadas ao Partido dos Trabalhadores informaram que Ideli Salvatti não será a candidata petista à Prefeitura de Florianópolis, caso o ex-vereador Vanderlei Farias, o Lela, decline da disputa. Segundo uma liderança, um nome que vem ganhando força em uma das alas do PT é o de Bia Vargas, que foi candidata a vice-governadora na chapa de Décio Lima. O entendimento é que o fato de ser jovem, negra e mulher faz com que Bia atraia uma boa parte do eleitorado da capital. A informação mostra que há uma divisão entre os petistas.

Aventura

Que Bia Vargas é um nome interessante para a política catarinense, é indiscutível. Acontece que levá-la a disputar a Prefeitura de Florianópolis sem qualquer ligação com a cidade pode se tornar uma aventura perigosa para as pretensões futuras da empresária que sonha com uma vaga na Assembleia Legislativa. O plano A, que é tentar uma vaga à Câmara de Vereadores, tem um potencial maior de alçar Bia para uma disputa ao parlamento estadual em 2026.

Não é preciso muito esforço para entender o que foi escrito, mas vou explicar o óbvio. A nota diz que o nome de Bia Vargas vem ganhando força em uma das alas do PT para ser a candidata à majoritária. Em momento algum, escrevi que ela se coloca como candidata a prefeita, que deseja ser candidata na majoritária ou qualquer outra afirmação no mesmo sentido. Repito, o que é dito claramente é que o nome dela vem ganhando espaço em uma das alas do partido. E comento na nota seguinte que seria uma aventura, pelo fato de Bia, que não se elegeu em Içara, não ser conhecida na capital. Também escrevi que “A informação mostra que há uma divisão entre os petistas”.

Bom, em momento algum foi colocado que a divisão é entre Bia e Ideli Salvatti, até porque a diferença de peso político é muito grande. A divisão é de ideia entre as alas do partido, e não há crime algum que se tenha qualquer diferença, pois quem entende de política sabe que é normal e democrático. Ainda aponto que o “plano A” é a Câmara de Vereadores.

(segue após o anúncio)

Racismo?

Acontece que Bia Vargas, ao invés de enviar uma nota explicando que não pretende disputar a prefeitura, preferiu o caminho da lacração. E o pior, de forma irresponsável, usou temas tão delicados como o racismo e o machismo em causa própria. Ela gravou um vídeo com um tom totalmente desproporcional, falando em terraplanismo, fake news e, o pior, que a informação teve uma intenção “machista” e “racista”, como forma de atrapalhar o avanço dela a espaços políticos.

Desafio essa senhora, que ainda dá os primeiros passos no mundo político, a provar que fui machista e racista. Além disso, se eu fui racista, é uma obrigação dela me denunciar, afinal, cometi um crime. Agora, é importante lembrar que uma acusação ou insinuação tão grave de forma falsa contra qualquer pessoa também é crime e deve ser punida conforme a lei.

O grande público não conhece essa jovem liderança. Por isso, é importante informar que não é a primeira vez que Bia usa o racismo como uma arma, fazendo insinuações de forma leviana. No período pré-eleitoral de 2022, quando o presidente estadual do PSB, Claudio Vignatti, deu preferência para Marcilei Vignatti e Rodrigo Bornholdt serem os indicados do partido para vice de Décio Lima (PT), Bia enviou um áudio a Vignatti dizendo o seguinte em um trecho. “Se o PSB perder essa vaga de vice por conta dessa forçação de barra que vocês estão tentando fazer, vai ir pra rua que o PSB perdeu a vaga porque não quer uma mulher preta na chapa. É isso que vai acontecer. Eu tenho o vídeo de ontem, eu tenho conversas, tudo o que aconteceu naquela confusão. Não existe motivação para vocês negarem o meu nome, a não ser pela minha cor”, afirmou. Em outro trecho ela completa: “A negação do meu nome não tem nada que se nomeie a não ser racismo. Vocês estão preterindo uma mulher preta por nada”, disse Bia no áudio enviado a Vignatti. Provas de racismo? Nenhuma!

Bia Vargas dá os seus primeiros passos na política. Ter sido candidata a vice-prefeita de Içara e a vice-governadora na chapa de Décio Lima ainda não a faz uma grande liderança. Isso que escrevo não é por menosprezo, é a realidade. E chamo essa realidade para alertar a essa senhora que ela tem tomado um caminho um tanto ruim quando usa a pauta do racismo para se beneficiar politicamente, seja na pressão que fez a Vignatti ou para querer lacrar, pois não há qualquer explicação sensata para o que foi falado no vídeo em resposta a uma informação corriqueira, que poderia ter sido respondida através de nota.

Além disso, para Bia pode parecer fake news a informação que divulguei; porém, sinto dizer que percebo que ela não anda bem informada sobre as discussões em seu partido. O que divulguei é um fato. E chamar de “fake” ou “barrigada” é coisa de quem não tem a mínima noção de como funciona a cobertura política.

Portanto, fica o meu repúdio à irresponsável manifestação dessa senhora, que tenta imputar a esse jornalista comportamentos aos quais abomino. Sempre combati e seguirei combatendo o racismo e o machismo. Nunca fui irresponsável e preconceituoso, seja na minha vida privada, em que tenho uma sogra negra, e tampouco na profissional, onde atuo com a máxima responsabilidade.

E aos meus leitores de pele negra e minhas leitoras, não se deixem contaminar por imputações que não têm nada a ver com a minha trajetória. Não se deixem enganar pelos discursos fáceis de quem usa uma causa para lacrar em busca de benefício político. É lamentável que isso ocorra frente a todos os problemas existentes em um país onde o racismo e a discriminação estrutural são uma constante, onde a grande maioria das pessoas em situação de vulnerabilidade são negras, onde pessoas ainda são agredidas e ofendidas pela sua cor. Por isso mesmo, é necessário sim que mais lideranças negras surjam, mas lideranças comprometidas com a causa, não com o uso da causa.