Bolsonaro fora do jogo. E agora? – Coluna do Paulo Gouvêa
Em que posição o ex-Presidente irá atuar nas duas próximas partidas eleitorais? Isso ainda não está bem claro. O certo, ou pelo menos muitíssimo provável, é que ele não poderá ser escalado pelo seu time porque foi expulso de campo e punido com a proibição de jogar num período que abrange essa parte do campeonato. Ainda lhe cabe recurso, porém com escassas chances de sucesso. Contudo, seja de que jeito for, ele provavelmente terá um papel relevante. No mínimo como chefe da torcida. Mas, se não bobear muito, será o principal líder da oposição.
Pelo que tenho visto e ouvido, muita gente que usa as mesmas cores políticas de Bolsonaro sente-se aliviada porque seu comandante não entrará pessoalmente no gramado onde as pelejas são travadas. Acham que a rejeição que ele acumulou, durante e já depois do seu período presidencial, anulam suas chances de vitória. Não obstante, ele é considerado um poderosíssimo cabo eleitoral, um padrinho de alto quilate para qualquer outro candidato que receba sua bênção. Naturalmente isso não acontecerá no Nordeste. Mas, sobretudo no Sul e no Centro-Oeste, sai da frente.
Conforme se tem falado bastante nos últimos dias, a política ensina que o vácuo provocado pela ausência de alguma coisa – ou de alguém como é o caso – tende a ser rapidamente preenchido. A vaga de um candidato presidencial que represente o lado direito da política brasileira vai ser ocupada por outro eventual candidato. Pode ser um dos governadores eleitos ou reeleitos no ano passado: o de São Paulo Tarcísio Freitas, o de Minas Gerais Romeu Zema, o do Paraná Ratinho Júnior ou o de Goiás Ronaldo Caiado. Não será surpresa se for a esposa de Jair, Dona Michelle. Ou até mesmo o Senador Sérgio Moro se recuperar sua coroa de campeão do combate à corrupção.
Uma coisa é certa. Muito mais do que a disputa entre Fulano e Beltrano, a escolha do próximo presidente ainda dependerá do combate entre as forças anti-PT e as que são antibolsonarismo. Essa dicotomia estará em combate, mesmo que nem Lula nem Bolsonaro concorram pessoalmente. As chances da turma da esquerda dependem, claro, do sucesso, hoje ainda bastante duvidoso, da sua administração. E a vitória de seus adversários só acontecerá se eles conseguirem reunir, numa mesma força-tarefa, os bolsonaristas propriamente ditos e aqueles outros que votaram no Bolsonaro não porque gostavam dele, mas porque desgostavam muito mais do Lula e do PT.
E por falar em Lula, olha a última dele aí
Em entrevista a uma rádio do Rio Grande do Sul, o Presidente do Brasil afirmou, veja só, que a Venezuela pode ser considerada mais democrática do que nosso país. E sabe por quê? Segundo ele, devido ao fato de que a capitania hereditária de Maduro realiza um maior número de eleições do que aqui. Estupefato, o radialista contra-argumentou que a ocorrência de eleições não é evidência de práticas democráticas. Naturalmente ele estava lembrando dos casos da China, Cuba, Rússia e muitos outros países que também fazem, como a Venezuela, eleições para ingleses verem. E nem por isso, podem ser classificados como países democráticos. Foi então, que, em sua réplica, Lula saiu-se com essa pérola da ciência da enganação: “Democracia é um conceito relativo”.
Não é não, Presidente. Quando se trata do que aqui interessa – a diferença entre um sistema político democrático e uma ditadura – é imprescindível verificar se existe ou não existe liberdade de pensamento e de expressão, liberdade de imprensa, e de fazer oposição ao Governo. E, também, se os representantes políticos são livremente escolhidos pelo povo, se há Justiça independente. Pois bem, disso aí, a Venezuela de seu amigo Nicolás Maduro não tem coisa alguma. Agrade ou não ao seu peculiar critério de avaliação, o fato é que ela é uma ditadura escancarada. E, além disso, o governo lá é de uma incompetência atroz.
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