Se você, caro leitor, assiste à televisão, deve ter visto, nessas últimas semanas, um bocado de propagandas do Governo do Estado. A propósito dos tais relatórios de “100 dias de governo”, o Poder Executivo catarinense esmerou-se num oba-oba que, no frigir dos fatos, apresenta escassa coisa efetivamente feita. E nem podia ser diferente. Com pouco mais de três meses de trabalho, há muito pouco o que dizer porque, especialmente em um primeiro mandato, esse tempo preliminar mal dá para entrosar a máquina e os novos funcionários, conhecer o que o antecessor fez ou deixou de fazer, e ainda costurar a necessária base de apoio no Poder Legislativo.

Mas, depois que um marqueteiro qualquer inventou essa tolice de prestar contas dos redondos 100 dias, todos os governantes sentem-se obrigados a apresentar um rol de seus supostos feitos iniciais. Isso, do Arroio Chuí em Santa Vitória do Palmar no extremo sul gaúcho até o Monte Caburai em Uiramutã, Roraima, que foi definido como novo ponto mais ao norte do Brasil. O Oiapoque ficou ultrapassado. Como a cobrança está ali, impiedosa, governos municipais, estaduais e o federal fazem o dever de casa que lhes é imposto por esse costume bobo. Já vi “relatório dos 100 dias” até do Poder Judiciário. A imprensa gosta dessa invenção porque ela lhe dá, numa data certa, abundante matéria para, a seu juízo, falar bem ou falar mal do novo governo.

O governo catarinense, não tendo como escapar da armadilha, escalou para a exibição na tela, um conjunto de promessas ainda por cumprir, um ou outro assunto encaminhado, mas não resolvido, e alguns fatos concretos que não são da sua competência, como é o caso dos sucessos da economia catarinense. Desde quando a exportação de produtos industriais e agrícolas é uma realização governamental? Claro que isso é obra dos empresários e dos trabalhadores. Pode até haver estímulos oficiais, mas, que isso tudo seja obra dos governantes, é história da Dona Carochinha. Eu acho que os governantes não precisariam, e nem deveriam, colocar coisas desse tipo na imprensa só porque os usos e costumes os incentivam a fazê-lo.

Por outro lado, é compreensível que, em algum momento, os governos prestem contas do seu trabalho. Mas, isso seria mais adequado quando houvesse algo de substantivo para divulgar. Uma vez ao ano, talvez. É importante expor aos contribuintes o que o Governo vem fazendo com seu dinheiro. Mas, fazer propaganda, vangloriar-se do que ainda não fez, com o objetivo, quem sabe, de conquistar simpatias e futuros votos, isso é desperdício claro desse dinheiro que o contribuinte paga. Ele paga para ter estrada, saúde e educação de boa qualidade, segurança, essas coisas básicas. Até informação. Mas, não para patrocinar oba-oba e farolagem.