
Ele está brigando com algumas das melhores realizações institucionais do Brasil nos últimos anos. Um exemplo é a autonomia do Banco Central. O afastamento do Bacen da órbita política e da consequente indicação partidária foi uma vitória do bom senso, já que retira dessas paixões momentâneas o ordenamento financeiro do País. O seu presidente adquiriu o grau necessário de independência graças ao fato de que passou a ter mandato – após indicado, fica quatro anos, metade em um governo, metade no seguinte. Essa conquista não saiu da cabeça de um presidente específico, veio amadurecendo ao longo de muitos anos até que, afinal, em 2021, o Congresso decidiu a questão por maioria de votos.
O resultado é que Lula tem de engolir o Presidente do Banco Central até o primeiro dia do terceiro ano desse seu novo mandato. Talvez o problema maior do atual Presidente da República nessa deglutição é o fato de que o chefe do Bacen é neto de Roberto Campos, brilhantíssimo economista e diplomata, super liberal, que fez parte como, modestamente, também eu, da Comissão da Quebra do Monopólio do Petróleo, no Congresso Nacional. Lá, naquele ninho de marimbondos, ele infernizava a vida dos petistas apaixonados pela completa estatização das atividades da Petrobrás.
Outra forma que o novo-antigo Presidente encontrou para tratar o discernimento e a sabedoria a pontapés, é sua declaração, enfaticamente feita na Argentina, de que nosso BNDES vai novamente financiar grandes obras em outros países. Tem toda a razão o economista Armínio Fraga na sua observação sobre a dificuldade que tem Lula e o PT de admitirem seus erros. Fraga disse isto: “Mesmo que não se ajoelhe no milho e faça um mea-culpa, seria bom que mostrasse, através da prática, que as lições foram aprendidas”. Não é isso, por certo, o que se vê. Pelo contrário. É notório que as obras outrora feitas em Cuba, na Venezuela, Bolívia e países africanos foram uma decisão desastrada para o Brasil. Como disse o também ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, “O financiamento de obras lá fora tira recursos de obras no Brasil”.