A larga vitória no segundo turno da eleição do ano passado gerou no agora governador, Jorginho Mello (PL), e em uma pequena parte de seu governo, o sentimento de que havia força para atropelar a Assembleia Legislativa, tornando-a um mero cartório do Executivo.

Isso ficou tão latente que, logo após a consolidação da eleição da mesa, algumas lideranças no parlamento praticamente repetiram a mesma frase: “O Moisés (Carlos) começar errando é até aceitável pela inexperiência, mas o Jorginho errar desde o início é condenável…”.

O fato é que Jorginho errou. Escolheu Zé Milton Scheffer (Progressistas) para contrapor a eleição de Mauro De Nadal. Tentou isolar o PSD e o MDB, partido ao qual chegou a considerar como caro para ter em seu governo, e tentou sem sucesso atrair deputados de diversos partidos oferecendo espaços, em conversas com as quais, segundo relatos de alguns parlamentares, não ofereceu nenhuma segurança de que honraria o que fora prometido.

Enquanto isso, lideranças como Mauro De Nadal (MDB), com a bênção de Júlio Garcia (PSD), entre outros, fizeram o chamado trabalho de formiguinha, indo em cada um dos deputados oferecer um projeto de independência do parlamento, que culminaria no empoderamento de todo o grupo. O argumento usado, foi que a partir da eleição de um candidato independente, a Alesc ganharia o poder de dar o seu ritmo às pautas que forem apresentadas à Casa.

Ao final, valeu a obstinação de De Nadal, a fama de Garcia, conhecido por ser um cumpridor da palavra e, a fidelidade dos demais deputados do Grupo dos 26, que preferiram um projeto real, rechaçando o varejo governista. Assim, o MDB impõe a Jorginho e ao PL uma derrota que torna o governo menor, tanto, que não foi Mauro quem precisou de um acordo final para ter os votos do PL, mas, sim, os liberais que precisaram correr atrás do G-26, para evitar uma derrota histórica.

A partir de hoje Jorginho Mello não governará só. Terá 40 parlamentares que terão o poder de impor o ritmo das pautas do governo. Também falta ao governador, a segurança de uma base sólida que o livre, caso haja motivo, de aberturas de CPI e, até mesmo, de pedidos de impeachment. Em suma, temos um governo rendido pelos seus próprios erros, com a sua bancada rachada e sem qualquer poder de impor a construção de uma base sólida.

Que sirva de lição para um governo que mal começou já elegendo inimigos, ao invés de fazer gestos pela paz. Que preferiu tentar isolar, buscando esmagar a quem considera adversário, crendo ter uma força que não há. Jorginho e parte de sua equipe não tem mais escolha, senão, dialogar olhando de baixo para cima em relação a Alesc. E, esse foi o maior recado do parlamento. A independência e o diálogo, que somente foram buscados pelo Centro Administrativo quando a derrota já parecia as claras.

Em meio a todas as nuances, quem ganha ao final dessa conta é Santa Catarina, pois, nada como ter uma Assembleia Legislativa totalmente alheia ao Executivo. Agora, caberá ao governo digerir o amargor da derrota, e compreender que, mesmo que abra espaços para alguns partidos, que mesmo assim, ainda estará sob a tutela do parlamento. É a política agindo para ensinar mais uma vez que, mais vale o diálogo e a palavra, do que a astúcia, ainda mais quando não a tem.