O Presidente Eleito está se empenhando em travar e dar um cavalo de pau nas melhores coisas que, com bastante esforço, foram feitas no passado recente no Brasil: reforma da previdência, reforma trabalhista, responsabilidade fiscal e redução do número de ministérios. Diferentemente do que aparentemente pensam muitos aliados de Lula, só a última tem alguma contribuição positiva de Jair Bolsonaro. A primeira, de 2019, é obra do Congresso.

O Governo, na época já com o atual presidente, encarava com certa antipatia o projeto, embora, ele tivesse sido, no formato original, elaborado por seu próprio time. Quem conseguiu aprovar a reforma, a custo de muita conversa, insistência e capacidade de negociação, foi a Câmara, naquele tempo presidida pelo Deputado Rodrigo Maia. A segunda foi resultado, ainda em 2017, de uma boa parceria do Presidente Michel Temer com o Congresso Nacional.

A responsabilidade fiscal vem mais de longe, lá dos tempos FHC, e deve muito à dedicação e liderança do então Senador Vilson Kleinubing. A quarta também é de Temer que diminuiu os 39 ministérios a que chegamos nos tempos Dilma para 23. Bolsonaro teve o bom senso de manter esse patamar. Pois bem, Lula já bateu o martelo: vai ter de novo bem mais de 30. Ele prefere, claro, o Governo Grande, poderoso, com um número amplo de cargos de primeiro escalão para distribuir entre companheiros e aliados. O da Economia, por exemplo, ele pretende fatiar em três como era antigamente, recriando os que foram reunidos em um só: Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio. Alguns que tiveram downgrade, virando secretarias, como Cultura, Esporte e outros mais, voltam ao status de ministério. Além disso, haverá alguns novos, como o dos “Povos Originários”, da “Igualdade Racial”, da “Igualdade Social”.

O esforço para reabilitar Bolsonaro

E por falar no ex e próximo presidente, olha aí: ele nem tomou posse e já começou seu esforço para tirar Bolsonaro do buraco. É impressionante este jogo entre os dois. Os descalabros dos governos de Lula, bombados exemplarmente por Dilma, transformaram o então obscuro deputado Bolsonaro num líder de projeção nacional. Os escândalos de corrupção, a benemerência com governos de seus camaradas na América Latina e na África, o incentivo à invasão de propriedades privadas no Brasil e tudo o mais, carregaram Jair, no colo, até à Presidência. Instalado lá, o Capitão tratou de retribuir. Suas brigas contra o meio-ambiente, contra as vacinas, contra a imprensa, e todo seu repertório de falas inadequadas, desenterraram Lula e o PT. Agora, devidamente ressuscitado, o Presidente Eleito troca os pés pelas mãos, fala mal das reformas da previdência e do trabalho, renega a responsabilidade fiscal, traz à luz alguns dos mais assustadores fantasmas do PT. Está doidinho para inflar o agora alquebrado Bolsonaro.

A sabedoria de alguém nascido há seis séculos

Para terminar, duas frases de Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, nascido em Florença no dia 3 de maio de 1469: 1) “O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta”; 2) “Nunca foi sensata a decisão de causar desespero nos homens, pois quem não espera o bem não teme o mal”. Ele anunciou estas verdades políticas ainda antes do Brasil ser descoberto.