A eleição para governador de Santa Catarina, no próximo dia 2 não é a disputa por uma única vaga. Desde que foi instituído no Brasil o sistema de dois turnos, em 1988, a definição do vencedor pode se dar no primeiro ou no segundo turno. No caso do embate catarinense deste 2022, é quase certo que o resultado final só vai sair no dia 30 de outubro. O motivo é a quantidade de candidatos fortes que estão no páreo. Por consequência a votação que faremos no dia 2 provavelmente será para escolher – não um governador, mas os dois concorrentes que farão o confronto final.  

A pesquisa do Ipec e a perspectiva

É neste contexto aí de cima que parece muito importante o retrato revelado esta semana pelo IPEC, antigo Ibope, encomendado pela NSC. Como entramos na reta final da corrida pelo cargo de governador, a evolução dos números, do levantamento anterior para agora, mostra, já com maior clareza, quem tem mais chance e quem está vendo suas expectativas se evaporarem. A pesquisa pode estar errada? Pode haver falha? Claro que essas possibilidades existem, ainda mais com uma amostragem de apenas 800 entrevistas em todo o Estado. Mas, por certo, há bastante coerência na comparação entre as diversas simulações: intenção de voto, rejeição, voto espontâneo e sensação de quem tem mais chance. Isso é um bom sintoma de que os resultados estejam corretos. E a pesquisa transmite ainda a impressão de que acompanha a lógica do progresso das campanhas, das avaliações da imprensa e do que se percebe nas conversas dos cafés, dos salões de beleza e das barbearias. 

No que diz respeito ao que acontecerá no primeiro domingo de outubro, há uma certeza: por ora ninguém pode comemorar. As ufanistas apregoações de vitória no primeiro turno parecem bem tolas diante do que se vê na pesquisa. Está tudo muito embolado, com quatro dos cinco candidatos que se mostravam competitivos desde o início, disputando voto a voto a almejada vaga no returno da eleição, e o quinto ainda não fora do páreo.

A leitura mais certa das pesquisas

O que é mais importante olhar nos algarismos da pesquisa? Certamente não é a manifestação das intenções de voto. Este é o mais fluido dos dados. Aliás, essa mesma pesquisa do IPEC detectou que 55% dos eleitores entrevistados “podem mudar seu voto”. Os números que agora parecem ser mais impactantes já não existem. Foram a foto do que acontecia entre os dias 17 e 19 passados. Hoje já são outros. É mais relevante prestar a atenção em outras informações porque elas é que podem ajudar a projetar o futuro.  

O primeiro critério favorece Gean: quem está crescendo, já com números expressivos, tem mais chance. Como falta pouco tempo para a eleição, a evolução das intenções de voto significa uma tendência daquilo que mais provavelmente acontecerá no dia do vamos ver. Neste quesito quem está melhor é Gean Loureiro que subiu 6 pontos, passando de 8 para 14. Em segundo, empatados, subindo 4 pontos, Jorginho Mello (de 16 para 20) e Décio Lima (de 6 para 10). Esperidião Amin ficou estacionado e Moisés Silva caiu três pontos, de 23 para 20. Para o governador, perigo à vista. 

O segundo critério é favorável a Jorginho e Gean: a comparação entre a intenção de voto e o índice de rejeição. Um eleva, o outro puxa para baixo. E por aí as piores situações são as de Décio Lima que tem 10% de eleitores dispostos a votar nele e 20% que não votarão de jeito algum (saldo -10) e (também aqui) de Moisés da Silva que tem 20 positivos e 27 negativos (-7). Esperidião igualmente fica devendo: 15 pró, 17 contra (-2). Só quem está bem nesta conta é Jorginho Mello e Gean Loureiro. Jorginho tem 20% de indicações de voto e 11% que não querem votar nele (+9). A conta de Gean é 14% de manifestação de voto e 7% de rejeição (+7%). O primeiro tem o saldo maior, Gean tem a menor rejeição.

Atenção: a manifestação de alguém de que não votará naquele fulano de jeito maneira é mais forte do que a indicação de preferência. É mais profunda. A raiva vem do fundo das tripas. É mais difícil de mudar.

O terceiro critério embola Jorginho, Gean e Moisés: o voto espontâneo. A primeira pergunta que um pesquisador faz à pessoa entrevistada é apenas “em quem você pretende votar (no caso, para governador)? Sem nomes apresentados. Esta introdução à pesquisa revela um voto firme, já conquistado com maior segurança. Pelo que informa o IPEC há aí um empate técnico: Jorginho tem 11% Gean e Moisés têm 10%. Sem chance de errar, é possível dar como certo que quem ficou em pior nesse fragmento da pesquisa é Moisés que já é o Governador, que é, portanto, super conhecido e tem seu nome na lembrança de todos os eleitores. Mesmo assim só 10% “lembram” que podem votar nele.

O quarto critério beneficia Gean e Jorginho: o sentimento de expectativa de vitória. Uma das questões apresentadas aos eleitores pesquisados é sobre quem eles acreditam que têm mais chance de vencer a eleição. E quem mais cresceu nessa visão dos que vão votar foi Gean Loureiro que subiu dos 8% da pesquisa anterior do IPEC para 13% desta última. Uma evolução de 5% a mais. Jorginho cresceu 4%, de 14 para 18. Décio também teve evolução positiva de 2%, passando de 3 para 5%. Esperidião estacionou nos seus 11%. E Moisés, que parece estar virando um cavalo paraguaio, desceu 4%, de 26 para 22%.

Balanço e avaliação

Aqui vai algo do palpite próprio de um comentarista, mas também da ciência que explica como as pesquisas funcionam. Nessa dupla avaliação tenho como bastante provável que Gean Loureiro e Jorginho Mello são os mais prováveis protagonistas do segundo turno da eleição de governador. E que o atual Governador do Estado, Moisés da Silva, virou um autêntico e indiscutível cavalo paraguaio.

Coisa feia: a pancadaria estadual

A onda de desaforos entre candidatos presidenciais está aí à vista de todos. Nem vou comentar porque o entrevero chegou a um ponto que recomenda a retirada da família da frente da TV. Deixa para lá. Hoje quero fazer algumas considerações sobre a pancadaria doméstica, a que está acontecendo sob o patrocínio de pelo menos um dos candidatos a governador. E o ponto chave desses insultos que procuram corroer a imagem de algum outro candidato é a forma como eles estão sendo feitos. Uma coisa é criticar o desempenho de um candidato que já ocupou ou ainda ocupa cargo público. Isso é perfeitamente legítimo. E ainda mais quando os reparos são feitos dentro do programa eleitoral de quem os faz. Outra, bem diferente, é atacar a honra do acusado usando do subterfúgio de esconder de onde veio a acusação. Usar, por exemplo, o intervalo entre dois programas, não identificar claramente qual é o candidato e o partido que está praticando a desonra. Isso, por certo, escapa da aceitável divergência entre adversários e extrapola, em muito, da crítica, para chegar à ofensa indevida. E caracteriza também um ato de covardia. É bem isso que estamos vendo nos horários eleitorais na TV e no rádio. Infelizmente.