Se você é Bolsonaro ou Lula de coração e de cabeça, ok, não se acanhe, vote num desses dois. Até no Lula. O peruano Mario Vargas Llosa, porém, que é Nobel de Literatura e obviamente não vota no Brasil, respondeu a um jornalista, dias atrás, que não gostaria de ter como escolha o par de favoritos que o Brasil tem à disposição. Caso você esteja em situação semelhante e decidiu ir para um lado ou para o outro apenas por uma imposição das circunstâncias, saiba que não há razão lógica para se jogar neste fatalismo. Numa eleição como a brasileira em que a disputa se resolve em dois turnos de votação, qualquer um que já não esteja fidelizado por esses ponteiros das pesquisas, está habilitado a, sem dor de consciência, e até pelo contrário, escolher outras possibilidades. Pode alargar seu elenco de opções. Pode votar em alguém que realmente pareça melhor que todos os demais. Sem futuros remorsos. Depois, se na segunda volta ficarem mesmo os que hoje são os principais candidatos, vá lá, vote num deles ou vote em branco.

A propósito, quero ser justo com Vargas Llosa: depois de mencionar sua falta de entusiasmo com a dupla lá da ponta, ele acrescentou: “mas no Lula eu não votaria de jeito nenhum”.

O que atrapalharia a geração dessa amplitude de alternativas é, talvez, a vontade de ajudar seu concorrente predileto a ganhar no primeiro turno. Mas, convenhamos, agora, neste momento do jogo, a chance de alguém faturar a taça logo de cara, já foi. A chance, que parecia muito possível alguns dias atrás, evaporou-se. É quase certo que teremos segundo turno. As últimas pesquisas mostram essa situação. E tem mais um aspecto a considerar: o uso do voto útil com a intenção de tentar a vitória, já no primeiro turno, do candidato que lhe aparente ser “menos pior que o outro”, pode produzir uma estratégia suicida. A tentativa de resolver logo a parada, com o consequente estreitamento das possibilidades de escolha, favorece por certo a decisão antecipada, mas, isso pode beneficiar qualquer um dos dois lados. Ou seja, na busca da vitória antecipada de um, é possível que alguém acabe facilitando o sucesso do outro.