Alguns acontecimentos concretos estão indicando que, de repente, os eleitores brasileiros descobriram, surpresos, que há mais do que dois candidatos na eleição para Presidente da República. Este fato é demonstrado pelo resultado das pesquisas feitas após o início do horário eleitoral e depois também das entrevistas na Globo e dos vários debates realizados por aí. De tanto ver e ouvir Ciro Gomes e Simone Tebet, os brasileiros se deram conta de que existem outras possibilidades de escolha, além de Lula e Bolsonaro. Essa percepção apareceu na pesquisa do Datafolha do dia 1º de setembro. Ciro subiu dos 5 ou 6% em que patinava para 9% das intenções de voto. Simone passou de 2 para 5%. A procura na Internet por esses dois nomes, mais Soraya Thronicke e Felipe Ávila cresceu bastante. E, de forma acentuada, aqui em Santa Catarina. Poderia ser isso um sinal de que é viável quebrar a concentração da preferência do povo nos dois principais candidatos? E algum outro candidato chegar ao segundo turno? Difícil, muito difícil. Mas, impossível não é. Afinal, faltam mais de 20 dias para a eleição, e até lá haverá muita propaganda no rádio e na TV, mais debates e entrevistas. E, como estamos no Brasil, sempre pode acontecer alguma novidade que mude o rumo desse rio que desaguará na Presidência. 

O brigadeiro, as pesquisas e a vontade do povo

A primeira pesquisa eleitoral feita no Brasil foi divulgada em maio de 1945. Era a primeira eleição para Presidente depois de 15 anos do governo, parte autoritário, parte ditatorial, de Getúlio Vargas. Publicado no “Diário da Noite”, o levantamento, feito pelo então recém-criado Instituto Brasileiro de Opinião e Pesquisa, o IBOPE, mostrava, em São Paulo, o candidato da oposição, Brigadeiro Eduardo Gomes, à frente do candidato da situação, General Eurico Gaspar Dutra. Dois militares da mais alta patente disputando a Presidência da República.

Na época, o instituto dividia o eleitorado em dois grupos, segundo o “grau de cultura” dos eleitores. No grau “superior”, o Brigadeiro tinha 42% porcento dos votos, contra 11% do General. E no grau “elementar”, o candidato da situação levava vantagem: 22 a 15%. Naquele momento, segundo a pesquisa, 62% dos votantes não queriam nem um e nem outro. Talvez votassem em branco. No final, Dutra, apoiado por Getúlio, venceu, no âmbito geral do País, por uma vantagem de quase 20%. Como disse, essa foi a primeira pesquisa eleitoral realizada no Brasil. E já demonstrava, 77 anos atrás, o que até hoje é dito e repetido pelos analistas políticos: pesquisa é apenas um retrato de momento e não consegue antecipar o resultado de uma eleição. Se ela for feita em apenas uma parte da área de abrangência do colégio eleitoral, no caso todo o território brasileiro, claro que vale menos ainda. E quando há um número tão elevado de indecisos, cai ainda mais sua efetividade. 

De 1945 para cá muita coisa mudou. A começar pelo fato de que hoje em dia há diversos institutos que as realizam, como, por exemplo, o Ipec, sucessor daquele Ibope, o DataFolha, Paraná Pesquisas, Ipespe, Quaest, Real Time Big Data, além de diversos outros de abrangência regional. A concorrência costuma elevar a qualidade e o nível de compromisso com os resultados que mostram os institutos.

Já faz bastante tempo que nenhum candidato minimamente importante deixa de fazer suas próprias pesquisas e analisa com zelo as que vão sendo publicadas na imprensa. Em público alguns desses competidores declaram que não acreditam em pesquisa. Ou, quando os números não os favorecem, variam a prosa afirmando que “a única pesquisa que vale é aquela que acontece no dia da eleição”. E quando elas são do seu agrado vão rapidamente parar na sua propaganda da TV e do rádio.

Um aspecto que as campanhas deveriam prestar atenção é que o resultado de uma ou duas pesquisas, especialmente se forem feitas por institutos pouco conhecidos, não podem ser levadas muito a sério. Pode haver erro e até mesmo algum tipo de arteirice. Porém, se três, quatro institutos sérios apontam numa mesma direção, pode apostar que os resultados são esses mesmos. Cabe aí, entretanto a ressalva: eles são deste jeito em um específico momento. A velha lei não foi revogada: pesquisa é o retrato de um ponto do tempo. E o que sai na foto em um dia, pode já ter mudado no outro. A vontade do povo não é estática.