O fato novo da campanha presidencial: há outros candidatos – Coluna do Paulo Gouvêa
Alguns acontecimentos concretos estão indicando que, de repente, os eleitores brasileiros descobriram, surpresos, que há mais do que dois candidatos na eleição para Presidente da República. Este fato é demonstrado pelo resultado das pesquisas feitas após o início do horário eleitoral e depois também das entrevistas na Globo e dos vários debates realizados por aí. De tanto ver e ouvir Ciro Gomes e Simone Tebet, os brasileiros se deram conta de que existem outras possibilidades de escolha, além de Lula e Bolsonaro. Essa percepção apareceu na pesquisa do Datafolha do dia 1º de setembro. Ciro subiu dos 5 ou 6% em que patinava para 9% das intenções de voto. Simone passou de 2 para 5%. A procura na Internet por esses dois nomes, mais Soraya Thronicke e Felipe Ávila cresceu bastante. E, de forma acentuada, aqui em Santa Catarina. Poderia ser isso um sinal de que é viável quebrar a concentração da preferência do povo nos dois principais candidatos? E algum outro candidato chegar ao segundo turno? Difícil, muito difícil. Mas, impossível não é. Afinal, faltam mais de 20 dias para a eleição, e até lá haverá muita propaganda no rádio e na TV, mais debates e entrevistas. E, como estamos no Brasil, sempre pode acontecer alguma novidade que mude o rumo desse rio que desaguará na Presidência.
O brigadeiro, as pesquisas e a vontade do povo
A primeira pesquisa eleitoral feita no Brasil foi divulgada em maio de 1945. Era a primeira eleição para Presidente depois de 15 anos do governo, parte autoritário, parte ditatorial, de Getúlio Vargas. Publicado no “Diário da Noite”, o levantamento, feito pelo então recém-criado Instituto Brasileiro de Opinião e Pesquisa, o IBOPE, mostrava, em São Paulo, o candidato da oposição, Brigadeiro Eduardo Gomes, à frente do candidato da situação, General Eurico Gaspar Dutra. Dois militares da mais alta patente disputando a Presidência da República.
Na época, o instituto dividia o eleitorado em dois grupos, segundo o “grau de cultura” dos eleitores. No grau “superior”, o Brigadeiro tinha 42% porcento dos votos, contra 11% do General. E no grau “elementar”, o candidato da situação levava vantagem: 22 a 15%. Naquele momento, segundo a pesquisa, 62% dos votantes não queriam nem um e nem outro. Talvez votassem em branco. No final, Dutra, apoiado por Getúlio, venceu, no âmbito geral do País, por uma vantagem de quase 20%. Como disse, essa foi a primeira pesquisa eleitoral realizada no Brasil. E já demonstrava, 77 anos atrás, o que até hoje é dito e repetido pelos analistas políticos: pesquisa é apenas um retrato de momento e não consegue antecipar o resultado de uma eleição. Se ela for feita em apenas uma parte da área de abrangência do colégio eleitoral, no caso todo o território brasileiro, claro que vale menos ainda. E quando há um número tão elevado de indecisos, cai ainda mais sua efetividade.
De 1945 para cá muita coisa mudou. A começar pelo fato de que hoje em dia há diversos institutos que as realizam, como, por exemplo, o Ipec, sucessor daquele Ibope, o DataFolha, Paraná Pesquisas, Ipespe, Quaest, Real Time Big Data, além de diversos outros de abrangência regional. A concorrência costuma elevar a qualidade e o nível de compromisso com os resultados que mostram os institutos.
Já faz bastante tempo que nenhum candidato minimamente importante deixa de fazer suas próprias pesquisas e analisa com zelo as que vão sendo publicadas na imprensa. Em público alguns desses competidores declaram que não acreditam em pesquisa. Ou, quando os números não os favorecem, variam a prosa afirmando que “a única pesquisa que vale é aquela que acontece no dia da eleição”. E quando elas são do seu agrado vão rapidamente parar na sua propaganda da TV e do rádio.
Um aspecto que as campanhas deveriam prestar atenção é que o resultado de uma ou duas pesquisas, especialmente se forem feitas por institutos pouco conhecidos, não podem ser levadas muito a sério. Pode haver erro e até mesmo algum tipo de arteirice. Porém, se três, quatro institutos sérios apontam numa mesma direção, pode apostar que os resultados são esses mesmos. Cabe aí, entretanto a ressalva: eles são deste jeito em um específico momento. A velha lei não foi revogada: pesquisa é o retrato de um ponto do tempo. E o que sai na foto em um dia, pode já ter mudado no outro. A vontade do povo não é estática.
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