Três lições aprendidas com Konder Reis – Coluna do Paulo Gouvêa
Em 1994, quando eu era Secretário de Transportes e Obras do Governador Vilson Kleinübing, estive certa vez a bordo de um pequeno avião que rumava para Chapecó, levando três ou quatro autoridades. Um dos viajantes era o então Vice-Governador Antônio Carlos Konder Reis. Como eu deveria ser candidato mais tarde naquele ano, resolvi aproveitar a experiência do ex-governador, ex-senador, ex-deputado, e perguntei quais conselhos ele daria a alguém como eu que concorreria pela primeira vez a deputado federal. Com seu tom professoral ele disse que me daria três conselhos. O primeiro: sempre que nas andanças da política, indo de uma reunião para um comício e para outro, eu enxergasse um banheiro, não deixasse de aproveitar a oportunidade, porque talvez não encontrasse depois. E, por certo, seria muito ruim estar em cima de um palanque sentindo necessidade de ir naquele lugar. O segundo conselho foi bem simples e autoexplicativo: nos almoços de beira de estrada, ou seja, onde for, evitar a maionese. Por fim, disse-me que o terceiro conselho era o mais sério e não poderia deixar de ser seguido sob pena de grande decepção na hora da contagem dos votos. Segundo ele, nas conversas que eu viesse a ter, Estado à fora, com cabos eleitorais, vereadores, prefeitos e quaisquer outros possíveis apoiadores, eu precisava anotar em um papel o número de votos que cada um prometia conseguir para mim. E, quando já de volta para casa, eu deveria pegar o total, dividir por dois e cortar pela metade. Feito isso, teria uma visão realista do tamanho da votação que poderia contar.
A crueldade da eleição
Em palestras que às vezes faço sobre eleições, costumo dizer que o maior problema do candidato – a deputado e a vereador, especificamente – não é conseguir o voto. Isso é relativamente fácil. Quando ele, lá na sua cidade, encontra um eleitor e lhe pede o voto, é provável que ouça uma resposta positiva e estimulante: “claro, por certo, pode contar, você é o primeiro que me pediu pessoalmente”. E o pacto é fechado com um cordial aperto de mão. Pronto, voto conseguido. Isso não é difícil. O que é muito mais complicado, sem dúvida, é manter aquele voto. Provavelmente, depois dele, vários outros candidatos vão encontrar o mesmo eleitor e lhe fazer o mesmo pedido. E, a todos, o eleitor, com convicção ou apenas para ser simpático, dará uma resposta semelhante àquela dada ao primeiro que o abordou. É possível que tal cidadão acabe votando no último que der de cara com ele. Ou que não vote em nenhum deles e decida seu voto já na fila da sala de votação. A eleição, sob este aspecto, é de uma crueldade refinada. E este é mais um conselho para marinheiros novatos.
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