Heródoto, o “Pai da História”, afirmou, lá no século 5º antes de Cristo, que “São as circunstâncias que governam os homens, não os homens que governam as circunstâncias”. Pois é, as circunstâncias, essas tão fluídas e imponderáveis condições que se criam a esmo, à toa, à margem da razão e da lógica, parecem ter provocado fatos concretos e importantes na próxima eleição presidencial brasileira. Foram elas, na forma da ajuda do Poder Judiciário, das pauleiras via Internet e das barafundas criadas pelo PSDB, que concederam a Lula a inestimável colaboração de liquidar candidatos como, por exemplo, Sergio Moro, João Dória e Eduardo Leite. Sem candidatos razoavelmente fortes que restaram no jogo e com a briga restrita aos dois que jogam nas duas pontas da ideologia política, ficou viável, embora ainda não provável, uma vitória do petismo no primeiro turno. Com Ciro Gomes e Simone Tebet praticamente sozinhos na batalha, a aritmética passou a pesar forte a favor daquele que comandou as grandes epopeias de corrupção da nossa história.  

A contribuição de Bolsonaro para a vitória de Lula

Com essa folga proporcionada pelas redes doidas, pela perseguição de alguns juízes contra Moro e pelas trapalhadas e batidas de cabeça da terceira via, Lula ficou numa posição confortável. Os eleitores, emprenhados pelos ouvidos, contribuem para isso na medida em que acreditam nessa história de que só existem duas opções: Bolsonaro ou Lula. Segundo, tal visão, quem não quer o PT tem de votar Bolsonaro. Esse quadro de extremização, afasta os eleitores do Centro. As pessoas que talvez votassem com gosto em Moro, Dória, Eduardo Leite e que tais, alguns vão provavelmente para Bolsonaro por aversão ao PT, outros e não sou poucos, vão direto para Lula por ojeriza a Bolsonaro. E alguns milhões preferem votar em branco ou nulo. São esses migrantes, chateados com o desaparecimento de seus candidatos preferidos que estão dando a chance dele, o superior comandante da lambança, ganhar a parada logo de cara, já na primeira volta. E o lado tragicômico dessa paródia é que também Bolsonaro vem ajudando a minguar o bloco que não vota no PT com sua estratégia de combater terceiros, quartos e quintos candidatos que, somados aos votos do próprio Capitão, tornariam impossível uma decisão já em primeiro turno. O mais lógico seria, a esta altura, espalhar a seguinte mensagem aos eleitores: votem em qualquer um que não seja Lula. É a fórmula que evita vitória petista no primeiro turno.    

A força dos que conseguem gabaritar ao contrário

A conta é simples: se o candidato do PT faz mais votos que a soma de todos os outros, ganha a eleição no primeiro turno. E “todos os outros” é algo que está virando um número que nem é tão pequeno, mas que, em grande parte, é inexpressivo. Seis de seus bravos componentes estão, segundo as últimas pesquisas, em um bloco dos que não conseguiram alcançar sequer um por cento das intenções de voto. Tecnicamente eles gabaritaram ao contrário. Zeraram. E com esse desempenho emagrecem irremediavelmente um dos pratos da balança, aquele que, num confronto contra Lula, pesa “todos os outros”. O que está sentado no primeiro prato, agradece.