O maior equívoco histórico do Brasil até aqui foi não entender o que deveria ser a sua maior prioridade explícita: criar uma genuína classe média ascendente. Este foi o compromisso do American Dream, o “sonho americano”, da Europa moderna, dos países do Sudoeste asiático e também da China contemporânea. No Brasil este compromisso nunca foi expresso de forma incondicional perante a Nação em nenhum discurso de governo ou oposição.


A pergunta é: por que não? Por que tememos ou não acreditamos que seja possível assumir tal compromisso, tais os interesses contrários? O que fizemos, ao inverso, foi permitirmos a criação de uma Nação de cidadãos frustrados, enganados e solapados, em sua melhor expressão, votando no PT, indo às ruas em 2013, ou chutando o balde com Bolsonaro em 2018. Hoje, dezenas de milhões sofrem de depressão pela inacessibilidade aos bens e serviços, públicos e privados – são 14 milhões de desempregados e outros 15 milhões de subempregados.


A maioria dos brasileiros “corre atrás da máquina”, uns para obter migalhas e outros para pagar muito mais caro por aquilo que está disponível em outros lugares “normais” do mundo. Trabalhamos o ano inteiro para “pagar as contas” – que teimam em ficar sempre mais altas – e impostos. Somos os consumidores mais trouxas do planeta, segundo o ex-presidente americano Donald Trump, que completou: “O Brasil é uma Ferrari dirigida por macacos”. Não que eu goste de Trump, mas ele resumiu bem e concordo: nosso modelo é cruel e devastador. Um exemplo: vivemos nas mãos de meia dúzia de bancos que a cada trimestre apresentam lucros exorbitantes e até vergonhosos diante da miséria nacional.


Nosso eterno pré-capitalismo acena com muito e entrega pouco. A afluência social, que é o esteio de qualquer Democracia, no Brasil é baixa e vem caindo em todos os níveis. Há desemprego e subemprego tanto entre os jovens mais preparados quanto entre os menos preparados. Perguntados, os jovens brasileiros sonham em ir para o exterior. Há pouca esperança de subir na vida. E, para quem já tem uma posição na classe média, resta um stress inominável para se manter.


O modelo está de cabeça pra baixo pois num país rico em natureza, com razoáveis condições de infraestrutura e de grande população, olhar para a criação de uma forte classe média como maior compromisso político é o meio, a saída e a finalidade. Para os nossos melhores economistas a saída são as reformas econômicas e políticas que elevariam nosso país de uma produtividade que hoje representa quarto da norte-americana para níveis mais competitivos globais. Isto é, para cada trabalhador dos EUA nós precisamos de 4 aqui para fazer a mesma coisa.


No entanto, politicamente, isto é hermético do ponto de vista do cidadão-eleitor. O fim do imposto inflacionário e as reformas iniciadas por FHC e continuadas por Temer foram na direção correta da história. Lula e a Dilma souberam aproveitar o embalo das medidas econômicas e sociais, mas cederiam ao encanto do populismo. Não almejaram mais alto, outro patamar. Bolsonaro sequer entendeu o desafio por completo.


Assim chegará o Brasil em 2022, sem que o complexo pacto desconexo das elites setoriais que comandam o país compreenda a prioridade dos brasileiros: o “Brazilian dream”, o sonho brasileiro, é muito mais simples e rentável.
Pelo governo atual de São Paulo está claro o discurso e a prática: ser um país de oportunidades para uma robusta classe média de uma vez por todas é a proposta inegociável de João Doria para a presidência .