Não é por acaso que a economia Japonesa é a terceira maior do mundo, com 5,3 trilhões de dólares. Conta-se que em 1853, o comodoro Mattew Perry, da Marinha dos Estados Unidos, entrou no porto japonês de Uraga, com uma pequena, mas intimidante frota de navios de guerra. Seu objetivo era forçar o Japão a se abrir para o comércio exterior após mais de dois séculos de isolamento.

A visão aterradora das fragatas negras movidas a vapor, uma tecnologia de ponta, para a época, fez os japoneses se convencerem de que não eram páreos para os americanos. E assim o Japão começou a se abrir. Nos anos seguintes, o governo nipônico enviou alguns de seus melhores cérebros para estudar na Europa e nos Estados Unidos. Os japoneses passaram a copiar a tecnologia estrangeira e outros aspectos da vida ocidental. No início, as cópias eram de má qualidade, mas os japoneses foram aprimorando as técnicas até conseguirem superar alguns produtos originais, como ocorreu nas indústrias de eletrônicos e de automóveis. Logo concluímos que aperfeiçoar o que já existe e está dando certo, é mérito de quem o faz, e foi assim que, apesar das adversidades do seu território, e tendo uma das maiores densidades geográficas do mundo, o Japão superou tudo isso, e mantém qualidade de vida e uma avançada tecnologia.

Aqueles mais experientes, para não usar outras palavras, e que conhecem bem o Porto de Itajaí, sabem que nós não temos uma grande retroárea, temos limitações de profundidade, e por isso não podemos oferecer maiores calados de navios, próximo a foz de um rio e, por isso, sofre erosão a cada chuva que desaba na cabeceira desse rio, e por apenas essas razões, muitos “técnicos” afirmavam que, impossível que esse Porto cresça. Mas para contrariar esses mesmos “técnicos”, esse Porto, ou o seu Complexo, chegará próximo aos dois milhões de TEUs movimentados neste ano de 2021. E os desafios não param por aí, e estamos diante de outro, que é a sua desestatização.

Mas para comentamos sobre isso, temos que voltar um pouco na história. Quando o Presidente Fernando Collor de Melo assumiu a Presidência da República em 1990, numa canetada, pôs fim a uma série de empresas estatais, e dentre elas estava a Portobrás, que administrava o nosso Porto. Ficamos acéfalos e para acomodar, fomos inseridos no contexto administrativo/operacional da CODESP. Fase ruim e complicada para o nosso Porto naquela época, sem entrar em muitos detalhes, pois dá para escrever alguns capítulos. Foi então que nessa mesma época, em 1995, e aqui me perdoem outros que participaram desse processo, mas tenho que fazer um merecido registro, ao então Prefeito, Dr. Arnaldo Schmitt Júnior, que com coragem, dedicação, persistência, conhecimento e “jogo de cintura”, desbravou mais ainda o que ele já conhecia bem, os gabinetes do Planalto Central.

Foi numa dessas reuniões, na sala de reunião, anexa ao Gabinete do então Ministro dos Transportes Odacir Klein, que o destemido Arnaldo, mostrou ao Senhor Ministro que o Porto de Itajaí deveria ser municipalizado. Falo destemido, porque eu estava nesta reunião, e acompanhei, “in loco” a sua vontade e determinação, de trazer para o munícipio a administração e gerenciamento do nosso Porto. Os passos seguintes, fazem parte da história, mas foi essa corajosa atitude do Prefeito, que se inventou a municipalização de Portos, até então inexistente no Brasil, tendo como protagonista, o Prefeito Arnaldo Schmitt. Passada a delegação, de forma definitiva ao Município em 1997, desta feita já na gestão de Jandir Belini, o Porto só deu um salto de qualidade, produtividade e destaque, nos cenários nacional e internacional, sem exageros.

Está se discutindo agora a sua desestatização, uma vez que se encerra em 31 de dezembro de 2022, a delegação ao município, como também o contrato de arrendamento da APM. Novo modelo de administração está sendo trabalhado no âmbito do Ministério da Infraestrutura, com possível alteração desse modelo. Voltamos ao caso do Japão, não vamos inventar a roda, e sim aperfeiçoar o que deu certo. Precisamos manter a municipalização do Porto de Itajaí, pois é incontestável que é um “case” de sucesso, buscando o aperfeiçoamento do modelo, mas mantendo a sua gestão, a Autoridade Portuária sob a égide do município de Itajaí. Vamos melhorar essa cópia, mas jamais mudar o canal dessa navegação que nunca arrastou no fundo, muito pelo contrário, só aprofundou e melhorou o calado. Por todas essas razões, aqui resumidamente descritas, não abrimos mão da continuidade do Porto de Itajaí no guarda-chuva do município.