Escrevo esta coluna um dia após o país registrar em 3 de março o recorde de 1840 (segundo o consórcio da imprensa) ou 1910 (segundo o Ministério da Saúde) mortes, o acumulado de 260 mil óbitos desde o início da pandemia, o mapa de ocupação de UTIs se apresentando completamente vermelho em 17 estados e boa parte de governadores e prefeitos – alguns até há pouco negacionistas – decretando fortes medidas de restrição para tentar conter a exponencial transmissão viral provocada por meses de aglomerações com desrespeito às regras mais básicas de prevenção (máscara, álcool gel e distanciamento).

O país está de luto, em pânico, mas leio agora nos sites de notícias o que o presidente Jair Bolsonaro acaba de dizer sobre a calamidade: “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando? ”.

Leio também que este país desgovernado saiu da lista das dez maiores economias do mundo, caindo para 12º lugar, depois de registrar queda de 4,1 no PIB de 2020. Aqui faço um parêntese para informar que nesse mesmo dia o estado de São Paulo registrou alta de 0,4% no PIB (dados da Fundação Saede/Secretaria da Fazenda), mostrando como se reflete na economia – que o presidente defende mais do que a vida –  a diferença entre governo e desgoverno.

Mas, voltando à pandemia e à queda do Brasil no ranking das maiores economias mundiais, dois dos jornais mais importantes do mundo, o britânico The Guardian e o norte-americano The News York Times publicaram reportagens alertando que o avanço da doença no nosso país se tornou uma ameaça global, com risco de gerar novas e mais letais variantes do vírus. Enquanto na imensa da maioria dos países os números da Covid-19 se mostram em queda, aqui vivemos um pico que não tem perspectiva de estabilização. Ou seja, o Brasil se transforma num pária do mundo – doente, sem dinheiro, isolado. Aliás, sem dinheiro mesmo: itens como bens duráveis, custo da construção, bens não-duráveis, alimentação e preços no atacado já superam os índices de inflação do Governo Dilma em 2016.

Neste cenário de má gestão pública que se reflete em todos os setores da vida nacional – mesmo no agronegócio, que poderia estar crescendo muito mais – é preciso ter percepção para o “clamor” do ministro da Economia, Paulo Guedes, que parece completamente “sitiado” no Governo Bolsonaro. Tanto que acabou por fazer uma declaração assustadora, dizendo que “para o Brasil virar uma Argentina bastam seis meses e para chegar a uma Venezuela apenas um ano e meio”. Pouco depois, ele corrigiu a declaração, mas não resolveu muito: “O Brasil precisaria, na verdade, de uns três anos para virar Argentina e uns cinco ou seis para chegar à Venezuela”. Isso se o país não seguir pelo lado das reformas e da responsabilidade fiscal – caminho inverso do tomado pelo presidente Bolsonaro. Não podemos brincar com fogo, como fizeram e ainda fazem nossos vizinhos, hoje carbonizados. Como é que um refém do próprio governo do qual faz parte emite um sinal desses, um alerta para a Nação, dizendo que esse mesmo governo pode nos jogar no abismo?

“Chegou a hora da verdade” foi o título da minha última coluna aqui no SC em Pauta – e esta hora, como vimos acima, revela cada vez mais verdades. Naquele texto eu me referia, obviamente, a este pior momento pelo qual Santa Catarina e o Brasil estão passando, depois de todo o desgoverno em todos os níveis e do mau exemplo que vem de Brasília – fazendo com que o país mergulhasse no caos. Coincidência ou não, no dia 28 passado, o jornal O Globo trazia em sua página de Opinião um artigo do governador de São Paulo, João Doria, intitulado “A verdade tem lado”. É um autêntico manifesto à Nação. Não posso deixar de compartilhar com você – para uma profunda reflexão sobre o que vem acontecendo no nosso país e no nosso estado, e quais são os caminhos para a reconstrução:

“A pandemia traçou uma linha de corte no Brasil: de um lado está quem respeita a vida, decide com base em orientações médicas e científicas. Do outro lado, negacionistas da ciência, pregadores de fake news, membros e simpatizantes do gabinete do ódio e defensores de soluções milagrosas, com nenhum respeito à vida. A opção preferencial do governo federal pelo negacionismo uniu as forças que combatem a pandemia. O vírus derrubou o mito e o muro. Nenhuma liderança responsável deve ceder a malabarismos retóricos, ter um pé no governo Bolsonaro e outro na defesa da vida. São incompatíveis. Eu prefiro estar ao lado da vida”.

“O governo de São Paulo, por meio do Instituto Butantan, foi pioneiro no desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 e na produção em larga escala, para imunização de todos os brasileiros. A vacina do Butantan é um exemplo de convergência e diálogo entre os que defendem a ciência e a vida. Repudiamos a inépcia administrativa que levou à falta de oxigênio em hospitais, ao desperdício de milhões de reais com cloroquina, à falta de agulhas e seringas e à falta de vacinas. E, sobretudo, ao triste cenário de mais de 253 mil mortes pela Covid-19, no Brasil”.

“A mistura de incompetência, inexperiência, voluntarismo e populismo tem custado ao país a inacreditável marca de mais de 14 milhões de desempregados. A maior taxa da história. Não há um único indicador positivo: a dívida pública aumentou, a nossa moeda se enfraqueceu, a inflação subiu, o preço dos alimentos, gás e combustíveis disparou. Nossa diplomacia passou a brigar com todos os principais parceiros comerciais: China, Estados Unidos, Europa e Argentina. Os brasileiros foram traídos pelo negacionismo científico e pelo abandono de uma agenda liberal, que nunca chegou a ser implantada, apesar de prometida na campanha eleitoral”.

“A tarefa de reconstrução do Brasil, após tamanho desgoverno, exigirá projetos, ações e lideranças sem tangenciamentos. Está clara a necessidade de criar uma sociedade com mais oportunidades e menos desigualdades. E o caminho para isso é o investimento em educação, empregabilidade e empreendedorismo”.

“É certo também que o Brasil precisa de compromissos irrefutáveis na defesa do meio ambiente, na promoção de energias renováveis e no desenvolvimento científico. Direitos inerentes às democracias, como a liberdade de imprensa e de livre manifestação artística, cultural e científica”.

“O Brasil precisa avançar na economia de mercado, desburocratizando, desestatizando e patrocinando gestões públicas eficientes. O orçamento público deve privilegiar investimentos em setores essenciais do Estado: saúde, educação, segurança, habitação e proteção social”.

“Essa é a agenda do governo de São Paulo. E os resultados são visíveis. São Paulo lidera o índice de qualidade da educação básica no país. Tem hoje os melhores indicadores de segurança pública. Conseguiu atender todos os que precisaram de internação na pandemia e fez o mais importante: desenvolveu a vacina e antecipou a imunização dos brasileiros”.

“São Paulo realizou a maior concessão rodoviária do Brasil, a rodovia Piracicaba-Panorama, atraindo R$ 15 bilhões em investimentos externos. Está construindo, em parceria público-privada, a maior obra de infraestrutura do país, a linha 6-Laranja do metrô. E também a maior obra ambiental do Brasil, a despoluição do rio Pinheiros. Na semana passada, leiloamos a concessão do Zoológico e do Jardim Botânico, com ágio de 132%. Menos Estado e mais setor privado. Menos governo e mais ganhos para a sociedade. Esse é o caminho”.

“A qualidade das lideranças tem sido um fator determinante no desenvolvimento de empresas e nações. Depois das seguidas recessões, o Brasil não pode mais ceder a tentações populistas ou aventuras eleitorais. Essa é uma responsabilidade dos partidos e dos líderes políticos do país”.

“A capacidade de gestão é ativo inegociável na política: ou o líder lidera e faz o que é certo ou fracassa. Liderar é assumir riscos, é ter lado, é ter coragem. Em 2022 restará claro quem fez o certo e quem fez o errado. Quem escolheu um lado e quem ficou em cima do muro”.