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As contradições nas respostas enviadas pelo governador, Carlos Moisés da Silva (PSL), à CPI dos Respiradores, o colocam numa situação ainda mais delicada. Lideranças afirmam que as mentiras revelam que Moisés tem muita coisa para explicar e, aumenta ainda mais o apelo pelo impeachment.

A ideia do governo era de que as respostas ficassem sob sigilo, já que ao tentar encontrar o documento enviado à Assembleia Legislativa no Sistema de Gestão de Processos Eletrônicos (SGPE), que é ligado à Secretaria de Estado da Administração, é vista a seguinte mensagem: “O usuário não tem permissão de acesso aos dados do processo sigiloso”. O que o governo não contava, é que o documento iria vazar, muito embora, tenha saído de dentro da Casa D’Agronômica o primeiro vazamento.

A partir das respostas de Moisés, é possível traçar uma linha do tempo, na qual veremos que, em um de seus depoimentos, a ex-servidora da Secretaria de Estado da Saúde, Márcia Pauli, disse que Moisés demonstrou saber da compra dos respiradores junto a Veigamed, desde o dia 27 de março. Ela lembrou à CPI dos Respiradores que neste dia, durante uma coletiva à imprensa, ao responder a uma pergunta que fiz a respeito dos preços que estariam sendo pagos pelos equipamentos, que seriam maior do que os praticados no mercado, que Helton disse que havia a busca de todos os Estados por insumos, através de vendedores tradicionais e muitos não tradicionais que estavam se aproveitando do momento.

O então secretário chamando de “canibalismo” a guerra pelos respiradores entre os Estados, explicou que o Ministério da Saúde centralizou as aquisições junto a empresas do Brasil, tornando necessária uma compra internacional. Após outras duas perguntas, aos 57 minutos e 51 segundos, Moisés voltou à minha pergunta dizendo que percebeu a impossibilidade de aquisição dos respiradores no mercado nacional, vindo os representantes do mercado internacional a propor a venda.

O governador ainda questionou a Zeferino, sobre a referência histórica dos menores e maiores valores que foram pedidos a ele pelos respiradores. Em resposta, ouviu que o preço normal era entre R$ 60 mil e R$ 70 mil, porém, com o início da pandemia, o valor passou dos R$ 100 mil, chegando aos R$ 335 mil. “Percebe que não é um fornecedor local, que ele repete um preço que vem da China, ou de outro país”, completou Moisés.

Quatro dias após a coletiva em questão, foi enviado um projeto de lei para a Assembleia Legislativa que passou por Moisés, mas acabou sendo retirado no dia seguinte, ou seja, em 1º de abril. A matéria pedia a autorização para que o Executivo pudesse pagar adiantado as aquisições relacionadas ao combate ao Coronavírus. Essa situação foi levantada pelo SCemPauta no mesmo dia em que o The Intercept Brasil denunciou o esquema Veigamed. Há uma suspeita de que a retirada do projeto tenha sido para justificar o pagamento dos 200 respiradores de forma antecipada, que aconteceu no dia seguinte, dia 2 de abril.

No mesmo dia, um ofício havia sido enviado com um pedido de orientação ao presidente do Tribunal de Contas, Adircélio de Moraes, a respeito do adiantamento de pagamento. A resposta foi de que não poderia ser feito. Já no dia 3 de abril, durante a coletiva de imprensa, aos 7 minutos e 38 segundos, Moisés fala que era necessário ter uma produção local de respiradores, devido as dificuldades causadas pela pandemia. Ele pediu a Zeferino que falasse “em que pé andava as compras, principalmente dos respiradores, os quais o governador definiu como o calcanhar de Aquiles no processo de criação de UTIs. A resposta de Zeferino foi sobre a dificuldade de conseguir os equipamentos, destacando que estavam num momento difícil quanto a garantia de entrega.

No dia 11 de abril em outra entrevista coletiva, mais uma vez perguntei sobre o Hospital de Campanha e os seus altos custos. Moisés respondeu que é um momento de exceção e que todos estão em busca dos mesmos equipamentos e que, por isso, era natural que os preços aumentassem. O que chamou a atenção é que ele fez uma comparação com os respiradores, os quais, segundo o governador, até pouco tempo eram comercializados por R$ 30 mil, valor divergente da entrevista de 27 de março, quando mencionou outro valor.

Mas o principal, foi o que veio na sequência, quando o governador pediu para que o então secretário falasse dos valores trabalhados no mercado. Zeferino disse que estavam entre R$ 120 mil e R$ 160 mil. Aí vem a fala de Moisés: “Quem paga R$ 160 mil não recebe, é a situação que estamos lidando hoje em Santa Catarina”, afirmou, com Helton Zeferino balançando a cabeça mostrando concordância com o que foi dito. Moisés segue: “Nós temos o processo de importação, estamos lutando para que esses respiradores cheguem aqui, mesmo com um preço, aí praticamente cinco vezes acima de seu preço de mercado. É o momento que as exceções viram a regra, porque estamos numa situação de exceção de fato”, afirmou Moisés.

Portanto, a fala do governador deixa claro que ele sabia tanto dos valores pagos, quanto da dificuldade de entrega dos respiradores, sendo que era 11 de abril, ou seja, já havia vencido o primeiro prazo de entrega. Porém, conforme já relatado pelo SCemPauta na sexta-feira, Moisés se contradisse na resposta enviada à CPI, já que escreveu: Como já declarado publicamente, no dia 20/4/2020 o então Secretário de Estado da Saúde comunicou-me sobre a existência de problemas no prazo de entrega de ventiladores pulmonares adquiridos no âmbito da Secretaria de Estado da Saúde. Na mesma oportunidade, o então Secretário informou-me que havia comparecido à Procuradoria-Geral do Estado para solicitar orientações sobre quais providências ele deveria adotar em relação ao assunto. Dois dias após, na data de 22/4/2020, em reunião da qual fizeram parte o Secretário de Estado da Saúde, o Chefe da Casa Civil e o Chefe de Gabinete, fui informado pelo então Secretário de Estado da Saúde sobre a existência do pagamento antecipado à empresa contratada e da indefinição na entrega dos equipamentos adquiridos (ventiladores pulmonares)”, escreveu.

Acontece que na live do dia 29 de abril, um dia após a reportagem do The Intercept, Moisés disse: “Tão logo tomei conhecimento no dia de ontem”, ou seja, foi dia 22 de abril que foi informado do problema, ou no dia 28 de abril? A contradição expõe que o governador faltou com a verdade em uma das ocasiões: no dia da live, ou na resposta à CPI.

No dia 30 de abril, Helton Zeferino em depoimento à DEIC, afirmou que não sabia do pagamento antecipado, porém, Moisés relatou que teria sido informado por ele, no dia 20 de abril sobre problemas na entrega e, no dia 22 sobre o pagamento antecipado. Quem mentiu?

 

Mais duas questões

Também é importante destacar que no dia 13 de abril durante nova coletiva, aos 38 minutos e 40 segundos, Zeferino ao responder uma pergunta a respeito dos respiradores, chegou a dizer que foram adquiridos, porém, não haviam sido entregues e, o governador Carlos Moisés da Silva (PSL), estava ao seu lado.

Na coletiva do dia seguinte, aos 17 minutos e 20 segundos, ao responder a uma pergunta do colega Fábio Bispo, a respeito do atraso na entrega dos 200 respiradores sem que a Veigamed tivesse sido notificada, o então secretário disse que foi feita uma notificação, mas que estava no prazo legal de resposta. “É obviamente que nós enquanto Estado, estamos trabalhando com as alternativas, dentre elas, inclusive, uma das alternativas que foi adotada pelo governo foi a própria contratação de hospital de campanha a ser edificado na região de Itajaí. Estamos trabalhando também com outros fornecedores, mas neste momento, o momento que nós vivemos dentro do estado de Santa Catarina, a disponibilidade de leitos de UTI para ofertar ela é adequada para o quadro que temos neste momento”, afirmou, enquanto Moisés ouvia ao lado.

 

Audiência com prefeitos

Os prefeitos das principais cidades catarinenses confirmaram que vão participar da audiência pública virtual para debater as ações que o Governo do Estado deve tomar nos próximos 90 dias, em relação à pandemia do Coronavírus. A reunião, marcada para às 14h de hoje, foi proposta e organizada pela Comissão Especial de Acompanhamento dos Gastos Públicos no combate ao Coronavírus da Assembleia Legislativa, por proposição do deputado Marcos Vieira (PSDB). Além dos parlamentares membros da comissão, os secretários de Estado da Fazenda, Paulo Eli, e da Saúde, André Motta Ribeiro, além do presidente da Federação Catarinense de Municípios (Fecam), Orildo Severgnini e representantes do setor da saúde participarão das discussões.

 

MDB discute eleições no Oeste

O presidente estadual do MDB, Celso Maldaner, e os deputados estaduais Mauro de Nadal, Moacir Sopelsa, Romildo Titon e Valdir Cobalchini reuniram-se virtualmente no sábado (18) para analisar as pré-candidaturas do partido nos municípios do Oeste. Os parlamentares conversaram sobre o cenário político de 98 municípios, de Curitibanos, no Meio-Oeste, a Dionísio Cerqueira, já na fronteira com a Argentina. Desse total, 31 cidades são comandadas por emedebistas e, em 19 o vice-prefeito pertence à sigla, além de contar com 253 vereadores. O objetivo é eleger 120 prefeitos e mil vereadores em todo o Estado. “Ninguém melhor que os colegas que estão semanalmente em contato com nossa base para nos dar este respaldo, avaliando se vamos atingir a nossa meta, onde precisamos rever o planejamento e onde precisamos intervir, sempre prezando em dar voz e vez às lideranças locais”, disse Maldaner, que também representa o Oeste como deputado federal.

 

Gean e o Covid

Há uma preocupação no entorno do prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM). A questão é que até o momento havia uma grande aprovação às ações realizadas no combate ao Coronavírus, porém, o aumento do número de casos expôs que a capital ainda necessita de mais estrutura para atender aos doentes. O fato é que Loureiro tem enfrentado de frente algumas situações desgastantes. Dizer hoje se haverá algum prejuízo para a eleição, é prematuro, pois o Coronavírus ainda consegue ser uma novidade a cada dia.

 

Cobalchini nega

Pré-candidato a vereador em Florianópolis pelo Democratas, João Cobalchini, filho do deputado estadual, Valdir Cobalchini (MDB), negou que tenha falado algo sobre a relação da bancada do MDB na Assembleia Legislativa, com o governo de Carlos Moisés da Silva (PSL). Amigos relataram que ele teria falado em uma conversa informal, o que foi prontamente negado por João. “Eu nunca falei sobre isso”, disse.

 

Fiel da balança

A esquerda em Florianópolis pode servir como fiel da balança se não chegar ao segundo turno. Acontece que o professor Elson Pereira (PSOL) está conseguindo unir os partidos do campo progressista, o que lhe dará uma musculatura a mais neste pleito. Porém, os esquerdistas estão sendo olhados bem de perto, tanto pelo vereador, Pedro Silvestre, o Pedrão, que é pré-candidato a prefeito pelo PL, quanto pelo atual prefeito, Gean Loureiro (DEM). Eles entendem que o provável apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a Ângela Amin (Progressistas), afastará os partidos de esquerda da pré-candidata do Progressistas.

 

Reforma da previdência

Santa Catarina como os demais Estados da Federação tem até o próximo dia 31 para adequar suas leis previdenciárias ao novo texto nacional. O Estado que não fizer estará sujeito a perda de incentivos e benefícios conforme portaria do Ministério da Fazenda. Após o governo encaminhar à Assembleia Legislativa o seu projeto, este passou por várias discussões com entidades classistas do funcionalismo público. O processo vem sendo debatido e construído desde o ano passado e teve como relator o deputado estadual, Mauricio Eskudlark (PL), que já está com o relatório de seu substitutivo Global pronto, esperando a votação na Comissão de Constituição e Justiça.

 

Quer a votação

O deputado estadual, Maurício Eskudlark (PL), está preocupado com o prazo para a votação da reforma da Previdência estadual. Além da pandemia, ainda houve alguns atrasos na votação. No final da semana passada várias entidades de classe se reuniram com Eskudlark, que é o relator do projeto e, com o presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia (PSD). Ficou acordado que o relatório deve ir à votação amanhã. Há uma certa angústia por parte de alguns segmentos classistas, que após inúmeras discussões e encaminhamentos e um acordo com o parlamento, ainda não houve a votação.

 

Correção

Na semana passada comentei a respeito do publicitário, Amarildo Passos, o qual segundo informações, estaria sendo indicado pelo deputado federal, Fábio Schiochet, para assumir a Secretaria de Estado da Comunicação, porém, ele me disse que não irá. Ao contrário da informação que apurei, Amarildo é sim um profissional com experiência, tendo nos anos 80 ocupado o cargo de subsecretário de Estado da Casa Civil no governo de Pedro Ivo Campos. Em Criciúma foi secretário de Comunicação do então prefeito, Eduardo Pinho Moreira, e após na gestão de Paulo Meller. Comandou o Sindicato das Agências de Publicidade de Santa Catarina, foi diretor da Associação Brasileira de Agências de Publicidade, vice-presidente da Associação Latino Americana de Agências de Publicidade e trabalhou em inúmeras campanhas políticas. A sua empresa atende tanto no setor privado, como aos poderes públicos. Não tenho compromisso com o erro, quando se erra, corrige e segue em frente. Fica o registro.

 

Aviso

Nos próximos dias teremos novidade no SCemPauta, especialmente aos nossos assinantes. Aguardem!!

 

Debate

Hoje é dia de debate. Como você sabe, todas as segundas e sextas-feiras a partir das 11h, Maria Helena, Adelor Lessa, Ananias Cipriano e eu, Marcelo Lula, debatemos os principais assuntos que interessam a Santa Catarina.

 

Ananias de volta

O jovem e competente Ananias Cipriano está de volta ao comando dos microfones do Jornal da Manhã na Jovem Pan de Joinville. Cipriano é um dos principais profissionais da comunicação do Norte do estado. Vale a pena conferir.

 

Entrevista – Conselheiro de Administração da Celesc, Leandro Nunes

Recentemente, a Celesc voltou a ser destaque na imprensa catarinense, graças a passagem de um Ciclone bomba que deixou 1,5 milhão de pessoas sem energia elétrica, e também por conta de denúncias relacionadas ao presidente Cleicio Poletto Martins, amigo pessoal do governador Carlos Moisés da Silva, sobre conflito de interesses ao assumir a Celesc sem se desligar da Engie, além dos altos valores pagos a título de PLR aos Diretores da estatal em plena pandemia.

Além disso, pouco antes da passagem do ciclone, Moisés, em entrevista à NDTV, usou o exemplo da Celesc, enaltecendo as qualidades do presidente Cleicio e sua equipe, para justificar o bom trabalho do seu governo a frente das empresas públicas de Santa Catarina.

Eu conversei com o representante dos empregados eleito no Conselho de Administração da Celesc, Leandro Nunes, sobre esses assuntos, para identificar como está sendo a gestão do Governador a frente da maior estatal catarinense.

 

SCemPauta – A Celesc viveu recentemente momentos difíceis por conta da passagem do ciclone bomba por Santa Catarina. A empresa divulgou que esse foi o maior dano da história na rede de energia elétrica. Qual a sua avaliação desse episódio?

Leandro Nunes – De fato, a destruição causada pelo ciclone bomba nas redes de distribuição da Celesc foi algo sem precedente. Já tivemos casos isolados que atingiram pequenas regiões do Estado, mas igual a essa, que praticamente atingiu toda a área de concessão da empresa, foi a primeira vez. Foram mais de 1,5 milhão de clientes sem energia, e o trabalho dos empregados e empregadas da Celesc foi excepcional. É muito difícil e perigoso consertar estragos tão grandes em um curto espaço de tempo, principalmente por causa do risco de se trabalhar com energia elétrica nessas condições. Sobre a atuação da Diretoria, existem pontos positivos e negativos. De positivo, a mobilização feita para que os trabalhadores pudessem trabalhar sem nenhum tipo de restrição orçamentária, colocando o retorno da energia elétrica na frente dos custos com a reconstrução das redes. De negativo, o risco que a Diretoria assumiu ao negar a prorrogação das saídas de quase 150 empregados da área operacional inscritos em um Plano de Desligamento Incentivado (PDI) em plena pandemia. Esses empregados tiveram o contrato de trabalho encerrado em 30 de junho, todos de uma vez, sem a devida reposição. Eu cheguei a pedir formalmente, dias antes, a prorrogação dessas saídas, por conta do risco que teríamos caso algum evento climático severo ocorresse. Obvio que não imaginávamos que algo desse tamanho aconteceria, mas o risco existia.

 

SCemPauta – Sobre a PLR da Diretoria da Celesc, você votou contra no Conselho de Administração. Qual a sua opinião sobre o assunto?

Leandro Nunes – Eu sou contrário ao limite da PLR da Diretoria desde que assumi a vaga no Conselho de Administração em 2015. Entendo que um diretor indicado politicamente pelo governador do Estado não pode ganhar R$ ¼ de milhão de PLR em uma empresa de economia mista, com controle público. Aqueles que quiserem ganhar bônus desse tamanho podem disputar mercado na iniciativa privada. Só para esclarecer, a PLR dos Diretores e dos empregados é totalmente diferente, em tamanho e proporção. A PLR dos empregados é negociada com os sindicatos por Acordo Coletivo de Trabalho, e representa, em média, até 1,5 remuneração dos trabalhadores e trabalhadoras, que é muito, muito menor do que a remuneração dos diretores. Basta olhar no portal da transparência da Celesc, os dados de salários são públicos.

SCemPauta – Na mesma entrevista dada pelo governador Carlos Moisés da Silva à NDTV, ele enalteceu as qualidades do presidente Cleicio e sua equipe a frente da Celesc, usando a como exemplo de uma empresa pública eficiente. É isso mesmo?

Leandro Nunes – Quando um governador defende a Celesc como empresa pública ficamos satisfeitos, até mesmo aliviados. Em um momento tão difícil na política econômica do Brasil, onde o super ministro Paulo Guedes quer vender todas as empresas públicas que puder, ver um governador enaltecer o trabalho de uma empresa pública, da Celesc, é um conforto. Porém, confesso que a manifestação do governador me trouxe dois sentimentos, distintos. Se por um lado aprovo a iniciativa e concordo com o posicionamento em defesa das empresas públicas, por outro lado, me causa espanto o desconhecimento do governador ao falar da empresa.

 

SCemPauta – O que você considera que foi dito pelo Governador que demonstraria esse desconhecimento da Celesc?

Leandro Nunes – Várias coisas. Entendo que a citação feita à Celesc na entrevista não foi aprofundada, até porque o foco daquele momento era a CPI sobre a compra dos respiradores que está acontecendo na ALESC. Mas, veja, ele foi eleito com o discurso da “nova política” e, nessa entrevista, o governador se manifestou igual ao pior exemplo da velha política: desqualificando o que existia antes da sua gestão, e trazendo para si méritos que não são seus. Chega a ser inominável escutar o governador dizer que a Celesc está dando resultado positivo, que por algum tempo deu prejuízos, e que agora começa a retomar o superávit. De qual Celesc o governador está falando? Eu entrei como concursado na Celesc em 2006. A Celesc nesse período deu resultados positivos em praticamente todos os anos, com exceção de 2012 e 2016, ambos por fatos não recorrentes. Aliás, mesmo considerando esses anos, o lucro somado desse período ultrapassa a casa dos R$ 2 bilhões. Particularmente, sequer enxergo no lucro um instrumento de medição de qualidade de gestão ou atendimento, e tenho convicção de que esse não deve ser o foco de uma empresa pública. Mas esse não é o ponto. O caso, aqui, é a mensagem pública de que a Celesc era ineficiente, e agora, na gestão dos seus indicados, passou a ser lucrativa. Isso não é verdade.

 

SCemPauta – Mas a Celesc recebeu o prêmio da ANEEL como a melhor empresa do Brasil, justamente no primeiro ano do governo de Carlos Moisés.

Leandro Nunes – É verdade. Porém, o governador erra, ao dizer que a sua gestão é responsável pelo prêmio ANEEL de qualidade do atendimento, recebido pela pesquisa realizada em 2019. Erra porque, mais uma vez, não cita os empregados e empregadas da Celesc como verdadeiros responsáveis pelo mérito da conquista, se limitando insistentemente a elogiar o amigo e presidente Cleicio Poletto Martins. Pior, ele não explica que a apuração dos resultados das pesquisas feitas para escolha do vencedor desse prêmio começou pouco mais de 6 meses após a posse da nova diretoria, indicada por ele. Não é preciso ser nenhum expert no setor elétrico para compreender que, com tão pouco tempo de gestão, a atual Diretoria teve pouco a acrescentar no resultado dessa pesquisa, seja do ponto de vista técnico, seja sob o ponto de vista de gestão. Na verdade, esse prêmio foi o resultado de uma política de contratação de empregados através da realização de concursos públicos, iniciada lá em 2011. O fim da terceirização do atendimento presencial, por exemplo, foi fundamental para a conquista desse prêmio. A contratação de eletricistas, técnicos, engenheiros, assistentes sociais, advogados, administradores, contadores, economistas, analistas de sistemas, assistentes administrativos e outros, todos por concurso público, também foi essencial. Esse processo, construído com o auxílio fundamental do Ministério Público, contou com várias manifestações organizadas pelos sindicatos da Intercel, para fortalecer a atuação do nosso representante no Conselho de Administração. E é justamente isto, o principal fato gerador do prêmio, que está sendo desconsiderado pela gestão do atual governador. Os Diretores indicados por ele defendem o aumento da terceirização na Celesc, incluindo a contratação de empreiteiras para o atendimento emergencial, mesmo com concurso público vigente e cadastro positivo para eletricistas, caminhando a passos largos na contramão da manutenção desse prêmio.

SCemPauta – O governador abordou, também, a melhoria dos indicadores da Celesc ao longo da sua gestão, citando exemplos de Florianópolis e do interior, onde teriam melhorado 71%, e 68%, respectivamente. Essa evolução é verdadeira?

Leandro Nunes – Não, não é verdade. Essa manifestação, da forma que foi feita, dá a falsa impressão de que os indicadores de continuidade evoluíram 68%, e 71%, quando comparado com as gestões anteriores, as gestões da “velha política”, o que não é correto. Eu fui eleito representante dos empregados no Conselho de Administração da Celesc em 2015.  Desde então tenho observado de maneira mais próxima os resultados dos dois principais indicadores de continuidade da prestação de serviço:  DEC, duração da falta de energia, e FEC, frequência da falta de energia. Nesse período, os indicadores mantiveram uma trajetória constante de queda, respeitando as particularidades de cada ano, uns com mais chuvas, outros com menos chuvas. De 2015 para 2018, o DEC reduziu de 14,6 para 10,8, ou seja, redução de 26%, enquanto que o FEC reduziu de 10 para 7,5, uma redução de 25%. Diferente do que foi dito pelo governador em sua entrevista, no ano de 2019, primeiro ano de mandato de gestão da diretoria indicada por ele, os indicadores permaneceram praticamente iguais aos de 2018: o DEC de 2018 foi 10,6 – o de 2019 foi 10,8. Já o FEC de 2018 foi 7,3 – o de 2019 foi de 7,5. Aliás, esse resultado é absolutamente compreensível. Quem conhece do setor de distribuição de energia elétrica sabe perfeitamente que, quanto mais baixo os indicadores de continuidade, mais difícil a redução dos valores apurados.

 

SCemPauta – Mas então de onde o Governador tirou esses percentuais de melhoria?

Leandro Nunes – Possivelmente, do comparativo dos primeiros meses de 2019 com os primeiros meses de 2020. Isso porque, felizmente, o clima ajudou sobremaneira o atingimento das metas no começo de 2020. Enquanto 2019 foi extremamente chuvoso e com um verão cheio de tempestades, em 2020, exceção feita ao Ciclone que passou pelo Estado recentemente, praticamente não choveu. Apesar disso, justiça seja feita, é importante mostrar coerência no raciocínio. Não foi somente por causa da falta de chuvas que os indicadores de 2020 melhoraram. Uma parte fundamental se deve ao clima, mas outra parte importante se deve ao trabalho de todos os empregados e empregadas contratados via concurso público, justamente o que a atual Diretoria quer diminuir. E tem, também, os investimentos realizados ao longo dos últimos anos, incluindo, óbvio, 2019.

 

SCemPauta – Falando em investimentos, o governador disse que os investimentos atuais estão entre os maiores da história da Celesc.

Leandro Nunes – É verdade. Mas é importante destacar dois pontos relevantes. Primeiro, a dificuldade que tínhamos para aprovar recursos para investimento no Conselho de Administração até o início de 2018. Entre 2015 e 2018 tínhamos no conselho como maior acionista minoritário da Celesc um fundo chamado ANGRA Partners. Era uma administradora de ativos contratadas pela PREVI para valorizar e vender as ações da Celesc. Como o foco era de curto prazo, tivemos muitas dificuldades para aprovar recursos para investimentos na rede de distribuição. O ex-presidente Cleverson Siewert sofreu um bocado nesse processo. Com a venda das ações da PREVI para a EDP, a lógica de investimento no Conselho mudou, ficando mais técnica e menos financeira. De qualquer maneira, se pegarmos os investimentos feitos na última década, a proporção de dinheiro colocado no sistema elétrico no comparativo com aquilo que a ANEEL disponibiliza em tarifa, foi de 178% contra 188% de 2019. Isso significa que, mesmo com todas as dificuldades, investimos sempre mais do que o previsto na fatura do cliente, priorizando o bom atendimento para a sociedade. Porém, o segundo ponto a se destacar é ainda mais importante, e é algo que nunca é reconhecido pelo governador ou pela diretoria indicada por ele. A participação decisiva dos sindicatos da Intercel e do representante dos empregados no Conselho de Administração à aprovação da captação bilionária de recursos do BID que, objetivamente, mudou de patamar os investimentos da empresa. Foram os sindicatos que percorreram por semanas os corredores da ALESC, trazendo centenas de trabalhadores e trabalhadoras da Celesc em várias mobilizações, destravando a votação da captação de recursos na Assembleia Legislativa, mesmo com forte dissensão do então presidente da casa, Gelson Merisio. Para se ter uma noção da importância disso, dos investimentos realizados em 2018 e 2019, 31% e 38%, respectivamente, foram recursos do BID. A atual Diretoria pegou uma condição pronta, muito mais favorável do que a anterior, fruto da participação de muita gente que sequer é citada pelo governador, que passa o entendimento que os investimentos estão sendo feitos agora, mais do que antes, por iniciativa exclusiva dele, o que não é verdade.

 

SCemPauta – Para concluir, gostaria de fazer mais alguma consideração sobre a manifestação do governador ou da atual Diretoria indicada por ele?

Leandro Nunes – Tem algo que gostaria de citar sim. Eu penso que, ao concluir a sua entrevista ao NDTV, o governador foi extremamente infeliz ao citar o fato de as empresas públicas serem historicamente espaços de indicações políticas e que agora, desde janeiro de 2019, passaram a ter gestores da confiança do governador. A Celesc é uma empresa pública e, dessa maneira, as indicações feitas pelo governador sempre foram políticas. O presidente da Celesc é um indicado político ao cargo, independentemente de ter filiação partidária ou não. O ex-presidente Cleverson Siewert nunca foi filiado a partido político, e mesmo assim a sua indicação não deixou de ser política, o que não o impediu de ter feito um bom trabalho no comando da Celesc. O próprio governador Moisés falou aos empregados e empregadas da Celesc em reunião realizada na Administração Central da empresa, que indicou o presidente Cleicio por ter “sonhado com ele” e ser “seu amigo”.

Distorcer fatos e números, passando uma imagem de que o que é bom começou em 2019, e que o passado não merece crédito, traz a impressão de que o governador Carlos Moisés enxerga em seu indicado e amigo Cleicio Poletto, alguém acima do bem e do mal, que está salvando a Celesc das “práticas antigas”, revolucionando a gestão da empresa, e isso não é verdade. A gestão atual tem seus erros e acertos, merece elogios e críticas, e não é menosprezando a evolução da Celesc ao longo dos anos, que teremos unicidade e harmonia nas relações entre os stakeholders da empresa. A Celesc Pública é boa para todo mundo, não por causa do governador, seja ele qual for. Ela é boa para todo mundo porque seus empregados concursados trabalham muito e com muita qualidade, para manter acesa a luz do sonho. Obrigado.

 

Na coluna exclusiva aos assinantes

– Schiochet vai a Blumenau para tentar apoio ao seu convite a deputado para assumir a liderança do governo;

-Antigas gestões de estatal catarinense podem ser investigadas

 

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