
Pinho Moreira
O governador Eduardo Pinho Moreira (MDB), está encerrando o seu segundo mandato no comando do Governo do Estado, após ter assumido em fevereiro deste ano, no lugar de Raimundo Colombo (PSD) que renunciou para disputar uma vaga ao Senado. Pinho Moreira fala de sua gestão, dos problemas do Estado entre outros assuntos.
SC em Pauta – Antes de se tornar um súdito da rainha, já que o senhor vai morar na Inglaterra por alguns meses após encerrar o seu mandato. Qual a análise que o senhor faz dos meses em que esteve à frente de um Governo do Estado, o qual o senhor pegou com contas atrasadas, restos a pagar e greve dos caminhoneiros?
Eduardo Pinho Moreira – No dia 16 de fevereiro eu assumi na licença de Raimundo Colombo (PSD), então eu estou desde o dia 16 e, no meu discurso de posse eu fui muito transparente. Eu disse que não há recursos para tudo, que a administração pública exige escolha de prioridades e, eu escolheria a saúde e a segurança pública, porque significava a preservação da vida. Eu recebi o governo, vocês todos divulgaram, com o comprometimento da receita acima do limite legal pela folha de pagamento. Isso trouxe problema, eu tive que fazer demissões, eliminar cargos comissionados, funções gratificadas, eu tive que extinguir secretarias, fiz um trabalho importante e entrego o governo muito melhor que recebi. Mesmo com toda essa crise que você relatou, no mês de maio, junho e julho, nos três meses em que houve um impacto importante na receita devido à greve dos caminhoneiros, mesmo assim, estamos nos recuperando e, hoje já está na conta dos servidores a segunda metade do décimo terceiro. Paguei a primeira metade mesmo com as dificuldades financeiras, agora, vejam os valores. Hoje são R$ 500 milhões, mais R$ 1 bilhão e, no dia 28 eu preciso ter mais US$ 54 milhões, para pagar para o Bank of América, são números superlativos, mas, que felizmente nós conseguimos com gestão e economia cumprir com todos esses compromissos e, naturalmente diminuir o déficit que era de R$ 2 bilhões para R$ 650 milhões. Houve a economia de R$ 1, 350 bilhão e era possível fazer mais se tivesse mais tempo, no entanto, espero que o Moisés siga na mesma linha.
SC em Pauta – A previsão para 2019 era de um déficit nas contas entre R$ 1,8 milhão e R$ 2 milhões. Como pode ter tanta mudança? Com quanto de déficit o governador eleito, Carlos Moisés da Silva (PSL) irá assumir o Estado?
Pinho Moreira – O déficit significa que você arrecada “X”, e gasta “X” mais “Y”. Você gasta mais do que arrecada. A Constituição catarinense não cabe no orçamento do Estado, todos os direitos não cabem. O que são todos os direitos? Você tem que ter entre 21% e 22% para os poderes. Esse dinheiro vai para lá, aí, tem que tirar da nossa receita 25% para os municípios, 14% para a Saúde, 25% para a Educação, tanto de combustível para manter a máquina funcionando, a folha salarial em dia, portanto, se somar tudo, passa de 100% da receita e esse é o déficit. Quando eu assumi em 16 de fevereiro, o déficit previsto era de R$ 2 bilhões, por qual motivo chegará a R$ 650 milhões no final de dezembro? Para ter uma ideia, nós gastamos R$ 13 milhões em agências de publicidade e mídia, no governo passado foram quase R$ 60 milhões, portanto, uma economia de quase R$ 50 milhões. Chapecó no ano passado teve convênios de R$ 20 milhões, Xanxerê mais tantos, Tubarão, Lages então, uma loucura, então eu parei com isso tudo e, nós economizamos entre R$ 100 e R$ 200 milhões. Agora, tem situações incontornáveis, por exemplo, o orçamento que será aprovado na Assembleia, tem mais 1% das emendas impositivas, dá mais de R$ 200 milhões, então se somar isso tudo não cabe na nossa receita. Veja, eu vou deixar R$ 650 milhões que não coube na receita do Estado, mesmo economizando 1,35 bilhões. Precisamos urgentemente da reforma previdenciária, pois, o déficit em todos os setores da previdência é brutal. Aqui é o quarto pior Estado do país em déficit na previdência, portanto, se não mudar, serão mais R$ 4 bilhões de déficit no próximo ano e, passará dos R$ 5 bilhões no ano seguinte. Os direitos não cabem no orçamento do Estado, por isso, é necessário fazer uma reforma e, o presidente Bolsonaro quer fazer no primeiro bimestre. Agora, uma outra solução é o aumento rápido da receita e o crescimento da economia. O grande problema de Santa Catarina é que de 2010 a 2017, segundo o INPC a inflação foi de 52,8%, enquanto que o aumento de salários dos servidores foi de 108%, mais que o dobro. Isso significou um acréscimo anual de mais de R$ 5 bilhões na folha. Temos que mudar isso, não há como lidar com um Estado desse tamanho, ou, deixa de investir em infraestrutura. Nós somos obrigados a escolher, se tapamos um buraco ou compramos um remédio. Felizmente estou cumprindo com o meu compromisso e, entregarei o Estado muito melhor do que recebi.
SC em Pauta – Com o fechamento do exercício como fica a questão da lei de responsabilidade? O Raimundo Colombo (PSD) deixou restos a pagar, mas, o senhor tem falado que do seu ano não ficará, mas deixará um valor de resto o qual, segundo o senhor, pertence ao governo de Colombo. A quem recai a responsabilidade?
Pinho Moreira – Eu cometi um equívoco administrativo, por ter pago R$ 500 milhões de restos a pagar até junho. Eu pagava os restos de 2017, então, nós pagamos para eles (governo Colombo), completarem os 13% mínimo na Saúde ainda referente ao ano passado. Nós pagamos dívidas atrasadas com o setor de comunicação e outros vários setores. Quando em maio deu a greve dos caminhoneiros, eu me reuni com o Paulo Eli, e disse que se eu continuasse a pagar as dívidas do ano passado, que não conseguiria pagar as minhas. Então decidimos que pagaríamos apenas as dívidas do nossos exercício. Eu deixo restos sim, mas, empenhado. Veja, eu não deixo nota em gaveta, portanto, o que eu faço é legal. É claro que eu deveria deixar o recurso em caixa equivalente a dívida. Vale explicar que nos últimos dois quadrimestres eu só posso fazer despesa que eu tenha dinheiro para pagar, portanto, essa irresponsabilidade eu não cometi, todas as despesas a partir de maio desse ano, que foram feitas pelo meu governo eu pagarei até o próximo dia 31, ou, deixarei o recurso equivalente. Agora, a receita está apresentando uma boa recuperação, espero que siga em janeiro e que o Moisés consiga fazer o que precisa ser feito.
SC em Pauta – Como cumprir a responsabilidade de fazer o que a população espera, mas, ao mesmo tempo com responsabilidade?
Pinho Moreira – Eu já fui deputado federal, deputado constituinte, aliás, quando eu cheguei em Brasília foi o meu primeiro mandato, de deputado constituinte. Eu percebi que lá havia uma demanda reprimida por causa da ditadura. Direitos sociais individuais estavam sem segundo plano, a imprensa não tinha liberdade, foi uma Constituição muito prodiga em favores, benefícios e pouco exigente em deveres. Fomos benevolentes em direitos, pouco exigente em deveres e não podemos esquecer o exemplo que o mundo tem nos dado. O estatismo, o estado exagerado traz prejuízo. O estado tem que cuidar da Saúde, Educação e Segurança Pública. Agora, a BR-282 que seria um estouro de desenvolvimento no Oeste, imagina se a iniciativa privada a tivesse duplicado, além da BR-470 onde morre tanta gente entre Blumenau e Indaial, e a SC-401, a mais movimentada que vai para o Norte da ilha em Florianópolis, em direção as praias a exemplo de Jurerê e Canasvieiras, mas, o governo que entrou acabou com os pedágios. Não há dinheiro para tudo. Outra situação que nos prejudica, é que a média de valor da aposentadoria dos servidores de um determinado poder é de R$ 32 mil, por mês. Outro poder é de R$ 27 mil, na Assembleia é de R$ 23 mil mensais, enquanto que no Executivo, é de R$ 8 mil. Veja a diferença. Tem corporações no Brasil que domina que tem conquistas diferenciadas, isso tem que mudar. A pessoa que se aposentar contribui para isso. Se não tivermos reformas estruturantes teremos dificuldades. Há uma dissintonia entre o Legislativo e o Executivo. Lá é só lotar as galerias e nós conseguimos convencer os parlamentares, é muito frequente isso. Eles não tem compromisso, a conta não são eles quem paga. Esse negócio de aumentar o percentual da saúde, de 12% para 15%, o Colombo entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) no Supremo Tribunal Federal. A Alesc é que definiu que o Estado iria gastar no mínimo, 15% na saúde no próximo ano, agora, para piorar aprovaram que o dinheiro tem que estar na conta todos os dias 20. E se não tiver, se houver uma catástrofe ou uma greve de caminhoneiros? Então, o compromisso do Legislativo é muito menor por desconhecimento, ou por questão eleitoral. Precisa ter uma sintonia.
SC em Pauta – Para cumprir os 14% neste ano, o Estado terá que ter R$ 400 milhões. Terá dinheiro para isso?