Minha emoção foi ao limite na quarta-feira da semana passada, quando recebi da Federação Catarinense de Municípios (Fecam) uma bela homenagem dos 295 prefeitos e prefeitas de nosso estado que consideraram relevante meu gesto de aproximar a entidade do Instituto Butantan em busca de uma vacina para imunizar o povo catarinense. No momento em que recebi a honraria das mãos do novo presidente da Fecam, Clenilton Pereira, e do presidente que deixava o cargo naquele dia, Paulo Roberto Weiss, por instantes meus pensamentos voltaram no tempo e me veio à memória o professor e um dos visionários do ‘sonho catarinense’ Alcides Abreu (1926-2015), com o qual eu gostaria imensamente de dividir postumamente a homenagem recebida.

Foi bebendo dos seus conhecimentos que aprendi muito sobre a construção do futuro de Santa Catarina e pude aplicar durante todos esses anos de vida pública. Vamos conhecer um pouco mais de Alcides Abreu ainda nesta coluna do SC em Pauta. Mas antes, disso gostaria de voltar à Assembleia Geral da Fecam, em que o diretor do Butantan, o cientista Dimas Covas, foi homenageado, para lembrar que se não fosse a entidade catarinense ter assinado no dia 10 de dezembro do ano passado um protocolo para obtenção da CoronaVac talvez hoje você não estivesse vendo pessoas sendo vacinadas aí na sua cidade. Depois da iniciativa pioneira da Fecam, a qual tenho orgulho de ter apoiado e articulado, dezenas de estados e cidades brasileiras passaram a procurar o Butantan com o mesmo objetivo. E foi assim, sob pressão, que o Ministério da Saúde acabou integrando essa vacina ao Plano Nacional de Imunização.

No meu agradecimento às prefeitas e prefeitos de Santa Catarina, também fiz questão de render outras homenagens. Não poderia deixar de destacar a coragem do governador João Doria, que enfrentou todas as adversidades, críticas, mentiras e ameaças para que hoje o Brasil pudesse ter uma vacina. O mesmo pode-se dizer de Dimas Covas que, naquele momento da homenagem, teve que mandar um representante ao telão virtual, porque estava negociando com o governo chinês para a importação de insumos, fazendo o papel que deveria ser do Governo Federal. Por isso repito aqui o disse naquele evento: é hora de o Brasil ter maturidade política e responsabilidade social. É inaceitável que a terceira maior democracia do planeta não tenha sido sequer convidada para fazer parte do chamado D10, o novo grupo das dez maiores democracias do mundo. É hora de nos afastarmos do ilógico e do irresponsável, que quase nos fazem ficar sem a vacina. Só a vacina vai nos dar a normalidade de volta e hoje ela é o melhor programa de emprego e renda ou qualquer outro programa que este país necessita. Finalmente, deixei meu agradecimento à Fecam e reafirmei minha parceria permanente com meu estado e com as nossas cidades.

Aliás, parceria essa que foi ampliada também naquele ato, com um novo acordo São Paulo-Santa Catarina: um convênio assinado entre o novo presidente da Fecam, Clenilton Pereira, e o presidente da Associação Paulista de Municípios, Fred Guidoni, que estava presente no evento. Ambas entidades vão prestar assistência às cidades dos dois estados para estudo, análise e gestão de soluções integradas. Esse modelo será levado nos próximos dias ao presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Glademir Aroldi, em Brasília, para que outras federações de municípios do país se integrem a ele.

Bem, feitas as homenagens e registrada a nova parceria, é hora de voltarmos à construção do ‘sonho catarinense’, que serve de referência para que a gente possa elaborar um novo plano de vida para o nosso estado. Na coluna anterior voltamos a meados da década de 70, quando começam a ser executados planos de governo, com objetivos e metas, e eles também mexem e modernizam o perfil da nossa economia. Então, o eixo central do sistema financeiro deixa de ser o do crédito ao consumidor para ser o do crédito ao investimento de longo prazo. Foram criados pelo Governo do Estado novos mecanismos de fomento, como o Fundesc (Fundo de Desenvolvimento), o Procape (Programa Especial de Apoio à Capitalização de Empresas) e o Prodec (Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense). Era hora de incentivar a indústria e a agroindústria.

Com isso, o complexo agroindustrial deu um salto quantitativo e qualitativo, o setor eletro-metal-mecânico ganhou dinamismo, a indústria cerâmica integrou-se nas economias nacional e internacional e o Vale do Itajaí se consolidou como segundo polo têxtil do país. Digamos que esse período marca o auge do ‘sonho catarinense’, que aí então já estava identificado, mapeado – como se fosse um moderno Masterplan – e desenhava o planejamento de rotas estratégicas para o desenvolvimento do nosso Estado. Esse roteiro acabou por ser seguido e renovado por governos, pelo empreendedor e pelo trabalhador catarinense nos anos seguintes e foi um dos pilares da consolidação de Santa Catarina como um estado único, hoje reconhecido nacional e internacionalmente. E é aqui, neste ponto, que eu gostaria de começar a fazer minha homenagem ao professor, advogado, economista, filósofo, jornalista e escritor Alcides Abreu. Nascido em Bom Retiro em 5 de setembro de 1926, Alcides Abreu formou-se em Direito pela UFSC (1946/50) e em Filosofia também pela UFSC (1956/60). Concluiu Cursos de Extensão/Pós-Graduação em Economia pela Universidade de Paris (1951/52); fez Doutorado em Direito pela UFSC (1955); Curso de Planejamento do Desenvolvimento nos EUA, USAID, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (1963); Administração de Sistema de Formação Profissional (Rio/1953/Organização Internacional do Trabalho OIT e também na Suíça, Alemanha, França/1957/OIT). Foi titular da cadeira 16 da Academia Catarinense de Letras e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.

Com todo esse invejável currículo, Alcides Abreu era um homem alegre, afável, generoso e de uma perspicácia como poucos. Foi com essa perspicácia que ele ensinou uma das lições que carrego comigo até hoje: a questão que abre toda a formulação para o grande salto econômico catarinense. Algo genial e que, agora, mais de quatro décadas depois, pode parecer simples ou talvez até óbvio. Essa é uma característica dos gênios: eles descobrem ou inventam coisas que a maioria de nós não consegue “ver” – e que depois de descobertas e inventadas parecem muito simples. Essa formulação de Alcides Abreu, que será um dos temas da nossa próxima coluna aqui no SC em Pauta, também é assim. Vamos conhecê-la.