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Jorginho peca pelo populismo – Imagem: Rede Social

O governador Jorginho Mello (PL) tem razão quando cobra um melhor tratamento de parte do Governo Federal para com Santa Catarina. O governador exige um maior retorno para um estado que, a cada real arrecadado e enviado para a União, recebe de volta apenas cerca de R$ 0,13. O problema está no propósito dessas cobranças e na forma como são feitas.

Vale destacar que esse retorno da contribuição para o nosso estado ocorre da mesma forma há décadas, passando, inclusive, pelos governos de Dilma Rousseff (PT) e Jair Bolsonaro (PL), ambos apoiados por Jorginho, que, em troca, chegou a ser o todo-poderoso do DNIT em Santa Catarina. Foram esses governos que também falharam com o estado na questão portuária, na falta de estrutura para ferrovias importantes e nas BRs 101 e 282, sem falar no retorno desigual da arrecadação, o que poderia ser resolvido com um novo pacto federativo. Onde estava o então deputado e depois senador, que não reclamou publicamente do tratamento dado ao estado por esses ex-presidentes?

Mesmo tendo pecado pela omissão nos anos passados, as cobranças atuais do governador seriam legítimas e dignas de aplauso se o objetivo não fosse apenas gerar conteúdo para a internet, criando um confronto artificial com o Governo Federal para tentar manter o apoio bolsonarista, já pensando na eleição do próximo ano. O tom raivoso e a falta de diálogo vão contra qualquer comportamento esperado de um governador que realmente pensa em seu estado. Um bom exemplo que poderia ser seguido por Jorginho é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Seguro de seu potencial para a eleição presidencial, Freitas dialoga com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), participa de atos conjuntos e firma parcerias que beneficiam seu estado, inclusive manifestando interesse em trabalhar em parceria. Ele sabe que o pleito de 2026 será discutido depois; o que importa no momento é atrair recursos federais para São Paulo.

Jorginho segue pelo caminho inverso. Visivelmente desconfortável com o cenário eleitoral que se desenha para o próximo ano, prefere adotar posturas populistas, fazer acenos e discursos que beiram o exagero para segurar um apoio do qual nunca foi detentor. Afinal, foi eleito por uma onda e por exclusão, já que a esquerda não tem musculatura para fazer frente em Santa Catarina a qualquer candidatura de centro-direita, independentemente de quem estiver no lado oposto.

A coluna fez uma comparação baseada em números oficiais, não como forma de crítica a governos, mas para mostrar que o discurso de Jorginho, de que nada tem sido feito para Santa Catarina, não coaduna com a realidade. Há uma única intenção: mesmo sabendo que não está falando a verdade, o objetivo é gerar encantamento no eleitorado bolsonarista, como se fosse um grande combatente da esquerda. Em bom português, trata-se de uma tentativa de enganar o eleitor de direita, disseminando desinformação.

Para se ter uma ideia, somente para rodovias, Santa Catarina recebeu, em três anos, entre 2020 e 2022, durante o governo Bolsonaro, R$ 1,1 bilhão. Já em 2023, no primeiro ano do atual governo federal, foram mais de R$ 1,3 bilhão, e no ano passado, um pouco mais de R$ 1 bilhão.

Dias atrás, houve nova desinformação. Jorginho gravou um vídeo falando da construção do elevado entre as BRs 158 e 282, em Maravilha, no Oeste, e voltou a desinformar. “Já que a turma de Brasília não se mexe, a gente não pode ficar esperando”, afirmou. Acontece que a obra está sendo realizada com recursos das sobras do duodécimo da Assembleia Legislativa, repassados ao Estado já com a destinação específica para essa obra. A única participação do governo estadual foi o trâmite do recurso, que não pode ser custeado diretamente pelo parlamento. Inclusive, alguns deputados chegaram a sugerir, em tom de brincadeira, que o elevado deveria se chamar “Mauro De Nadal”, em homenagem ao ex-presidente da Alesc que articulou a liberação dos recursos.

Essa forma de agir, criando um mundo paralelo, tem distanciado Jorginho Mello dos grandes estadistas que governaram Santa Catarina e levaram o estado a um patamar diferenciado. Ele tem a sorte de administrar um estado que possui dificuldades, mas que, por si só, sobretudo pela força do setor produtivo, se mantém em um elevado patamar econômico. Caso contrário, enfrentaria grandes dificuldades. Uma vez, ouvi de um ex-governador: “É só não atrapalhar que Santa Catarina, por si só, vai bem”, afirmou. E é isso que Jorginho precisa fazer: não atrapalhar. Saber o momento de assumir o personagem de direita para fazer política e o momento de trabalhar pelos interesses do estado como um todo, o que passa por manter um bom diálogo com o Governo Federal.

A coluna não sugere que Jorginho e Lula devam ser amigos, mas o respeito institucional e o bom diálogo devem ocorrer para que Santa Catarina seja bem atendida, como o próprio governador diz desejar. Seria um exagero pensar que Jorginho até goste da ideia de que Brasília trate mal o estado, apenas para ter discurso político em 2026.

Erro de Lula

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também errou. Em vez de cutucar o governador Jorginho Mello (PL), deveria focar nos recursos que estão sendo enviados para Santa Catarina. Criou uma polêmica desnecessária com um governador que, politicamente, mudou de lado, passando para a oposição — o que é legítimo e deve ser respeitado. E não é preciso ser muito inteligente para saber de que lado Jorginho estaria se o momento político fosse outro. Por isso, nesses casos, a entrega de obras e recursos vale mais do que mil palavras.

Posicionamento

O SCemPauta, independentemente de quem for o governador de Santa Catarina, fará sua cobertura com rigor, assim como ocorreu em outros governos. Vale sempre lembrar: nosso foco é a política estadual.

Na gestão de Esperidião Amin (Progressistas) e depois de Luiz Henrique da Silveira (MDB), que antecedeu a criação do SCemPauta, este jornalista já fazia as devidas cobranças em favor das causas do Oeste. Depois, veio a gestão de Raimundo Colombo (PSD), período em que nasceu o projeto SCemPauta e o trabalho se estadualizou. Lembro que cheguei a ser criticado em uma nota enviada à coluna, quando um então assessor afirmou que “o jornalista parecia ter uma antipatia pelo governo”. Eduardo Pinho Moreira (MDB) e Leonel Pavan, na época, no PSDB, também foi alvo de críticas, em escala menor, devido aos curtos períodos de governo.

Carlos Moisés da Silva simplesmente não falou com o SCemPauta durante a maior parte de seu mandato, com exceções em coletivas de imprensa, por nos ver como críticos à sua gestão, inclusive com importantes denúncias, como no caso do Hospital de Campanha e de toda a cobertura envolvendo a questão dos respiradores. Depois de um tempo, entendeu e passou a conceder entrevistas.

A diferença é que, em algum momento, todos entenderam nosso trabalho e sempre agiram de forma republicana. Não gostar de nós é um direito que respeitamos. No entanto, agir de forma sorrateira e não republicana é um grave problema, e qualquer passo nesse sentido será denunciado — seja por governos ou por seus asseclas.

Portanto, criticar governos não é novidade em nosso trabalho. A questão está nos interesses daqueles que defendem esses governos e que não se preocupam com o errado, mas sim com quem faz o errado. Se quem comete o erro for de sua preferência, será defendido independentemente do que tenha feito. É por isso que nosso trabalho em relação ao governo Jorginho Mello seguirá da mesma forma. Claro, não deixaremos de noticiar as boas e importantes ações, afinal, nenhum governo é feito apenas de erros ou acertos. Mas não deixaremos de apontar as falhas, pois, ao expô-las, mostramos o outro caminho — o que beneficiará a sociedade e, consequentemente, nossos leitores.