A cassação de Bolsonaro e o vácuo a ser preenchido – Coluna do Paulo Gouvêa
Um possível, e até provável, cenário político para 2026 inclui a exclusão do ex-Presidente Jair Bolsonaro. Há variados indícios de que a Justiça tem em mente a subtração dos direitos políticos do Capitão e, como via de consequência, a impossibilidade dele disputar qualquer eleição – seja a presidencial novamente, seja para o Senado, hipótese que ele próprio aventou na sua chegada dos Estados Unidos. Alguns vêm nessa perspectiva, o entendimento tácito, pelos juízes, de que Bolsonaro talvez não deva ser preso, mas também não deve ser deixado livre para disputar eleições. Pode ser.
De qualquer forma, não creio que isso aconteça por conta de entreveros como o das vacinas, especialmente quanto à duvidosa circunstância, se ele próprio tomou ou deixou de tomar o imunizante contra a Covid ou contra a Caxumba lá nos seus quinze meses de existência. Ou ainda se alguma informação relativa a isso foi fraudada. É pouca minhoca para peixe graúdo. Mas, na parafernália de confusões que Bolsonaro produziu durante seu movimentado mandato, há algumas que podem levar mesmo à cassação judicial. Dessas, sem dúvida a que deve estar dando mais preocupação a ele é a série de eventos que teve seu desfecho no dia 8 de janeiro.
Do meu ponto de vista, uma hipotética imparcialidade, com algum senso de Justiça, deveria levar igualmente à suspensão dos direitos políticos do atual Presidente. E não estou falando do seu passado, que o condenaria a penas maiores. Mas, sim ao fato de que apenas nesses primeiros meses de terceiro mandato Lula já criou encrencas e proferiu asneiras passíveis de alguma penalidade pesada. É claro, no entanto, que não se pode contar com isso. Se Lula sair do cargo, dificilmente será por essa via. É mais previsível que ele fique e que o outro saia, porque, para quem não está no cargo as regras tendem a ser mais rigorosas. Então, o mais seguro para um comentarista é incluir nas suas análises a suposição de que só um deles ficará fora do jogo.
Uma hipótese viável de Bolsonaro conseguir novo mandato só acontecerá se ele antecipar seu planejamento e disputar uma prefeitura no ano que vem, antes que a proverbialmente lenta justiça brasileira o alcance. Se excluirmos essa hipótese municipal, a previsão, com vistas a 2026, é uma partida sem Bolsonaro em campo. E sem ele, abre-se um vácuo no lado mais à direita do leque político brasileiro. O Bolsonarismo e o conservadorismo de raiz, a direita lá da extrema, são bandeiras que ficarão sem mão que as carregue. Segundo a Dona Física, o vácuo perfeito é praticamente inexistente. E, conforme Dona Política, a vacuidade, o vazio, é uma situação que sempre e rapidamente é preenchida por algo ou por alguém. Se sai da cena Bolsonaro, outra pessoa entrará no espaço desocupado. Pode ser Michelle, pode ser Tarcísio Freitas, Romeu Zema ou alguém que ainda nem está ao alcance da vista. E aí fica a questão: qual papel poderá ser representado pelo então supostamente cassado Jair Bolsonaro? O de cabo eleitoral?
A vingança da natureza
Ocorreu há pouco o Dia Mundial do Meio Ambiente. A propósito desse evento, é oportuno lembrar que o século 21 já está no seu vigésimo terceiro ano e uma das grandes preocupações da humanidade continua sendo, teimosamente, os estragos provocados pelos seres humanos ao ambiente em que habitam. O prejuízo causado à natureza inclui florestas devastadas, mares e ares poluídos, animais extintos. Muito disso, causado pelo aquecimento global e suas tenebrosas consequências. De Washington, capital dos Estados Unidos, até Afogados da Ingazeira no interior de Pernambuco, o povo está de orelha em pé com medo do atual e do próximo susto que o desastre ambiental vai provocar.
Todo o mundo já sabe que os humanos precisam tomar juízo porque as agressões que vem fazendo contra a natureza estão ricocheteando e batendo de volta na sua própria cara. Nosso ecossistema cansou dos maus tratos e está se rebelando: é aquecimento insuportável de um lado, frio furioso de outro; chuva demais, chuva de menos, terremoto, maremoto, tsunami. E quem vai pagar o pato, afinal, por todas as besteiras que o homem vem cometendo não é exatamente a natureza. Ela, um dia, no futuro, dará um jeito de se recompor. Renascerá forte, bela e exuberante como foi na origem. O ser humano talvez ressurja também. Mas, de castigo, terá que esperar alguns milhões de anos a mais.