Há um excelente texto escrito por Friedrich Nietzsche em sua obra “A Gaia ciência”. Nela, o autor anuncia a “morte de Deus”. Mas o termo não se refere ao fato de que “Deus”, tal e como o imaginamos, realmente, tenha morrido. Ou tampouco que Nietszche ou outra pessoa o tenha matado. O autor somente nos traz uma breve e maravilhosa reflexão sobre o fato de que a humanidade, aos poucos, foi deixando de acreditar no “divino” (em Deus). Foi perdendo sua fé. Divindade que, de um modo ou outro, nos proporcionava ou outorgava um sentido para as nossas vidas. Similar à função de uma bússola, que guia a direção da vida das pessoas. As direciona a um lugar em concreto.

O que há agora é um momento de descrença da fé religiosa, ou uma tendência que desmitifica a Verdade em Deus. Essa condição, que aparentemente soa tão trágica para o ser-humano, possui um nome: Niilismo. Inicialmente, o termo “Niil” em latim significa “nada”. No entanto, nos encaminhamos aos poucos à tendência do ser-humano em dirigir sua crença (sua fé) há nada. “Crer no nada”. No “vazio”. E agora? Aonde nos guiaremos para encontrar aquele sentido de vida que nos outorgavam as religiões?

Aqui na Europa, o niilismo chega a ser muito nítido. Hoje em dia, já poucas pessoas, sobretudo jovens, cultivam a sua fé, que há tempos atrás eram pregadas com muito rigor pelos seus antepassados. Em contrapartida, acabaram racionalizando a Deus e o puxaram de volta para a terra. Com isto, acredito que o continente europeu enfrenta um grande desafio vital e existencial. Mas enquanto isso, o Brasil, a pesar de tudo, parece resistir-se à tendência niilista. Sendo o nosso país um lugar de múltiplas religiões, ainda existem jovens que se apegam a ela, sem grandes dificuldades. Mas também devemos ser conscientes de que o país, frente a homogeneização do mundo, onde tudo se torna igual, se encaminha à mesma circunstância da Europa. 

Diante desta tendência Niil e aparentemente trágica, Nietzsche nos traz uma solução. Frente a um mundo “niil”, quer dizer, carente de um sentido geral, somente nos resta apelar a nós mesmos. O autor usa a expressão filosófica “vontade de poder” como solução a essa falta de crença. “Vontade de poder” é, de um modo muito resumido, a capacidade do ser-humano de criar os seus próprios valores. Ou a capacidade de reinventarmos. Enquanto que os valores e a “moral” provinham desde fora, através da religião, agora, a falta desta última, a moral deve nascer desde dentro de um mesmo. Mas esta, com certeza, não é uma tarefa fácil.