O adesismo, uma face da cultura política brasileira – Coluna do Paulo Gouvêa
Toda vez que se inicia algum governo no nosso país – seja nacional, estadual ou municipal – abre-se a temporada das adesões: partidos políticos por inteiro ou aos pedaços e, também, parlamentares individualmente, tratam de se colocar sob a sombra aconchegante do poder. A lógica ditada pelo sistema eleitoral não é bem essa. Os resultados mostram, em geral com bastante clareza, quem, por ter vencido, vai governar, e quem, por ter combatido e perdido a parada principal, deveria fazer oposição.
Mas, claro, há ressalvas. Há que se admitir que existem fatores que induzem os que, durante a campanha eleitoral divergiam do agora governo recém-eleito, a encontrar razões para se unirem a ele. Alguns desses motivos são até respeitáveis, como o de dar “governabilidade” a quem acaba de se instalar na administração e não tem maioria no Parlamento. Quando as diferenças programáticas não são muito profundas, é possível, sem propriamente enganar os eleitores, estabelecer essa aproximação com o Governo. E, de resto, governabilidade não implica em apoio. Ela pode muito bem ser seletiva. O parlamentar vota a favor nas questões fundamentais para o País ou para seu Estado ou município e vota contra, e combate, se opõe quando o tema é político, ideológico ou se a proposta é ruim.
Em grande parte, porém, das vezes, as motivações são de outra natureza e nestes casos, com grande chance de serem menos nobres.
Um dos aspectos da política brasileira que contribui para encobrir e disfarçar as diferenças entre quem deveria estar de um lado e quem está do outro, é a multiplicidade de partidos. Há tantos deles que pouca gente, de sã consciência, é capaz de dizer o que o seu próprio time pensa e propõe. Se os programas são tão fluidos a ponto de o eleitor votar sem perceber qual é sua linha programática ou seus pontos de vista sobre questões importantes, o eleito sente-se à vontade para, logo após a eleição, ir até o armário e buscar uma nova casaca para substituir aquela que usou durante a campanha.
No Executivo a conversa é diferente
Até aqui estou me referindo à adesão dos parlamentares, tanto federais como estaduais ou municipais. É no Poder Legislativo, um órgão coletivo e multifacetado, que as diferenças políticas e ideológicas devem se manifestar. É lá que um partido deve fazer oposição. No Executivo é diferente. A relação administrativa é obrigatória entre os três níveis da Federação: o prefeito com o governador e este com o presidente precisam se entender por que, se a harmonia entre eles não existir, quem perde, e muito, é o cidadão. Trabalhar uns com os outros é um dever de todos os lados. Não há lugar político para briga. Oposição se faz no Congresso.
Dois MDBs, dois PSDs, dois PPs
Um fato que ajuda a encobrir as diferenças doutrinárias e de pontos de vista sobre temas administrativos é a variedade de orientações partidárias dentro de um mesmo partido. Há alguns deles, como o MDB, que têm diferenças perenes, quase irreconciliáveis, entre seus diversos diretórios estaduais. O MDB dos estados nordestinos dificilmente se entende, quanto à eleição nacional, com os Estados do Sul. É notório também que o Diretório Nacional do partido cultiva de longa data uma vocação fortemente adesista, assim como o PSD e o PP. Mas, é indispensável distinguir, nesses casos, o que é trigo e o que é joio. Em matéria de caráter e coerência, o que há em SC é bem diferente do que se pode ver em muitos outros lugares do País e, inclusive, nas cúpulas nacionais. Os três partidos citados, que não são os únicos por certo, tiveram e têm no nosso Estado lideranças do mais alto nível. Não dá para confundir esses alhos com os bugalhos que teimam em assombrar a política brasileira em outras plagas.
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