No momento em que escrevo esta coluna, na noite de 10 de março (quarta-feira passada), leio nos noticiários que o Brasil atingiu um “recorde macabro na pandemia” (UOL). Pela primeira vez foram registradas mais de 2 mil novas mortes provocadas pela Covid-19 num intervalo de 24 horas: 2.349 óbitos, com média diária de 1.645 mortes até então. Também em 10 de março chegamos a quase 271 mil mortos pela doença (imagino que no momento em que você lê esta coluna as estatísticas sejam ainda mais terríveis).

Reproduzo esses números consciente de que são frios, “desumanos”. Conheço de perto familiares e amigos que perderam entes queridos e sei que para eles um único “número” marca na alma: é o daquela mãe dedicada que criou filhos e netos com tanto amor que sua morte é como se juntos eles morressem também; do avô querido que era o “chefe da família”, aquele em que todos se espelhavam para construir suas trajetórias; do irmão ou da irmã que dividiu o quarto e o sonhos de infância e adolescência; do amigo “do peito” que, de repente, foi embora, sem se despedir – e a maioria de nós não pode se despedir na hora da morte de quem amamos, por conta dos protocolos da pandemia. Porém, neste mesmo trágico Brasil de 10 de março de 2021, assistimos ao que poderíamos chamar de ‘o espetáculo dos insensíveis’.

De um lado renasce Lula, sim, ele mesmo, ‘revalidado’ por uma decisão monocrática de um ministro do STF, que não o inocentou, mas apenas encaminhou seus tenebrosos processos para outra instância da Justiça, e agora, posando de ‘pai da Pátria’, dando de dedo em riste – lamentavelmente, com razão – no negacionismo, na incompetência, na omissão, e nas atitudes criminosas do presidente Jair Bolsonaro – aquele que deveria ter liderado a Nação no combate à pandemia. Horas depois do discurso de Lula, como se tivéssemos vivendo num hospício, Bolsonaro aparece de máscara e falando em vacinas.

A acusação de Lula é a mesma da maioria dos brasileiros: Bolsonaro foi o grande mau exemplo nacional e internacional de como não se comportar na pandemia. Não fosse ele, Bolsonaro, certamente milhares e milhares de mães, avós, irmãos, pais, amigos, não teriam morrido feito ‘baratas’ à espera de UTIs, vacinas, oxigênio e, principalmente, vítimas da falta de liderança e exemplo pedagógico do ser humano Jair para que não houvesse aglomerações, para que se usasse máscara, álcool gel e outros cuidados – e a Nação se mantivesse em permanente vigilância sanitária coletiva.

Lula e Bolsonaro: a pandemia dentro da pandemia. Nem um, nem outro, estão preocupados de verdade se faltam UTIs, vacinas, oxigênio, leitos, hospitais, atendimento, compaixão, saudade e amor ao próximo. Estão apenas jogando para a torcida. O foco de ambos se resume a uma data no calendário político: 2 de outubro de 2022, dia das eleições presidenciais. São dois homens que só olham para o próprio umbigo – semelhantes entre si, na atitude prepotente, populista, egoísta, até criminosa.

Não posso ser hipócrita: também considero legítimo que homens públicos, como eu mesmo, possam sonhar com uma candidatura em 2022.  Mas é hora de falar disso? Definitivamente, não. A prioridade – e esta é minha prioridade como secretário de Turismo do Estado de São Paulo e como cidadão – é vencer a pandemia. No governo paulista, faço parte da linha de frente da equipe do governador João Doria que busca, antes de tudo, conter a devastação provocada pela Covid-19. Para isso, o governador tomou medidas duríssimas nos últimos dias – medidas que são impopulares e que devem pesar contra ele em futuras pesquisas. Mas é preciso ter coragem e, principalmente, sensibilidade, amor pela vida humana, acima de qualquer interesse pessoal.

Em Santa Catarina, desde outubro do ano passado, apoio as ações de Federação dos Municípios (Fecam), em busca da vacina para os catarinenses. Nosso movimento, em dezembro, pela Vacina do Butantan, resultou num clamor nacional de governadores e prefeitos em busca desse imunizante. Sem dúvida, foi o que obrigou o Governo Federal a incluir a Vacina do Butantan no Programa Nacional de Imunização (PNI). Hoje a Vacina do Butantan está em 9 de cada 10 braços imunizados deste país.

E hoje também apoio a ação da Fecam pela vacina Sputnik V, que poderá nos dar mais 4,1 milhões de doses de imunizante, além da Vacina do Butantan – que a partir de agora chegará semanalmente a Santa Catarina, de acordo com o Ministério da Saúde – e de outras fornecidas em menor número pelo SUS.

Lula e Bolsonaro sabem ou se importam com isso tudo? Deixo a pergunta para sua reflexão. Mas reafirmo: este é o triste espetáculo dos insensíveis. Tudo parece muito sombrio, porém tenho a mais absoluta convicção: o Brasil e o brasileiro estão acima de tudo, e não serão derrotados nem por Bolsonaro, nem por Lula.