O SC em Pauta entrevista o jornalista Maurício Locks, que foi responsável pelo marketing do prefeito eleito da quarta maior cidade de Santa Catarina em 2024, Orvino de Ávila, e trabalhou nas campanhas do ex-governador Carlos Moisés em 2022 e de Jorginho Mello para o Senado em 2018.

SCemPauta: Como avalia o cenário político para 2026?

Maurício Locks: Antes de falar sobre esse cenário, uma ressalva: 2026 passa pelo futuro do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas tanto Lula quanto Bolsonaro ocupam um cenário instável. Lula por questão de saúde e a possibilidade de concorrer com uma avaliação ruim, por outro lado Jair Bolsonaro pode ser preso devido a uma série de processos que tem enfrentado após as eleições de 2022, além de estar inelegível. O que se pode ressaltar é que, entre Lula e Bolsonaro, o bolsonarismo está em processo de maturação para as próximas eleições, enquanto o petismo ainda titubeia com Fernando Haddad, que tem pilotado os anúncios do governo recentemente, como o salário-mínimo, a reforma tributária e o ajuste fiscal.

SCemPauta: Como avalia o cenário de 2026 em Santa Catarina?

Maurício Locks: O governo enfrentará um dilema em 2025. Ou consolida pontes com outros partidos ou vai precisar atrair prefeitos desses partidos para desidratá-los, o que pode resultar na perda do CNPJ dos partidos, mas levando o CPF. Esse é um movimento arriscado e traz reações. O PL tem dado sinais, e Jorginho Mello, nesse ponto, se mostra muito diferente do seu antecessor, Carlos Moisés, que nunca priorizou a política. Jorginho tem priorizado o diálogo e as aproximações, mas sem sofrer por antecipação. Em contrapartida, me parece que os partidos não estão contentes com o tempo que a Casa d’ Agronômica tem levado nas conversas. Enquanto isso, o prefeito de Chapecó, João Rodrigues; o prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro; e o prefeito de Joinville, Adriano Silva, têm se mostrado no jogo, mas não é o mesmo jogo do governador, que não conseguiu atraí-los para conversas sobre sua reeleição, o que abriu um flanco perigoso.

SCemPauta: O Governo do Estado tem mostrado dados de sua aprovação. Isso influencia no cenário para 2026?

Maurício Locks: Um governo bem avaliado tem tendência à reeleição ou a fazer sucessor. O governo conseguiu cumprir a promessa de campanha de colocar o programa de bolsa de estudos para universitários, que é um ponto que ele deve trabalhar nas urnas em 2026, mas enfrentará prefeitos também bem avaliados ou que fizeram sucessor. Isso vai deixando o cenário aberto.

SCemPauta: Qual sua avaliação do Governo do Estado?

Maurício Locks: Acho que Jorginho acerta quando se mostra presente em todas as regiões do estado. Ele tem viajado bastante e isso é positivo. É uma característica do Jorginho. Mas seu governo ainda peca em articulação. Quando foi inviabilizada a ida de Filipe Mello para Casa Civil, o governo não encontrou uma alternativa. Filipe ajudaria o governo. Falta braço para o governador.

SCemPauta: Mas quem é o favorito para 2026, na sua opinião?

Maurício Locks: Naturalmente, é o governador, Jorginho Mello. Mas não posso negar que, se Adriano Silva, Clésio Salvaro e João Rodrigues estiverem juntos, o cenário se torna imprevisível. Além de articulação, o peso de saber se comunicar influencia e o João Rodrigues é disparado o melhor produto nesse quesito. Um prefeito realizador. Bolsonaro se elegeu sem máquina e Pablo Marçal quase foi para o segundo turno em São Paulo.

SCemPauta: Há um clima de Fla x Flu entre o PSD e o PL que ficou após as eleições de 2024?

Maurício Locks: O governo procurou criar projetos de forma indistinta, me parece. Tanto que investiu pesado em Joinville e perdeu de forma contundente. Da mesma forma em Balneário Camboriú, Criciúma e São José, dos quais participei. Apesar disso, um dia após a eleição, isso fica no passado, porque os gestores necessitam atender a todos, não apenas aos seus eleitores.

SCemPauta: Como foi a eleição de São José?

Maurício Locks: Eu diria que foi uma eleição planejada, sem percalços. O prefeito Orvino construiu o melhor grupo. Isso faz diferença. Um time experiente possibilita enfrentar com tranquilidade e sem dificuldades o PL, a máquina do Governo do Estado. Em termos de estratégia, conseguimos pautar a eleição, o que também nos deu tranquilidade. Antecipamos os movimentos. Sempre tivemos um passo à frente.

SCemPauta: Pós-ciclo com o governador Carlos Moisés, sua ida para São José foi bastante atribulada?

Maurício Locks: Hoje, eu considero um movimento natural. A saída do governo Moisés, que finalizou em 2022, e a ida para trabalhar em São José, com o prefeito Orvino. O apoio do deputado Júlio Garcia e do presidente Eron Giordani foram importantes em todo o processo, inclusive nas eleições.

SCemPauta: Mas houve momentos de tensão?

Maurício Locks: “Eleição na terra é tempo de guerra”. O próprio governador usou essas expressões em Joinville. Eleição é isso. Em 2022, quando eu perdi, o pessoal veio incomodar. É normal. Quem ganha comemora e quem perde tem que ter paciência.

SCemPauta: E os próximos passos?

Maurício Locks: Tenho trabalhado com Alexandre Oltramari. Esses quase três anos de parceria têm me permitido fazer trabalhos pelo Brasil. Após a eleição de São José, também auxiliei na eleição da OAB/SC, que foi bem-sucedida. Ainda, tenho trabalhado com o PSD de Santa Catarina e com o amigo Eron Giordani, que é o presidente do partido no estado. Eu sempre gosto de dizer, quando alguém me pergunta o que vou fazer no próximo ano: estar perto dos amigos. Com amigos por perto, tudo fica mais fácil.