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Local onde funcionava a empresa de França. Ele morou numa casa no mesmo local – Imagem: SCemPauta

O catarinense Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiü França, de Rio do Sul, causou perplexidade ao protagonizar um atentado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, que resultou em sua própria morte. Considerado um homem pacato, empreendedor e bem-visto pela comunidade, França surpreendeu ao tomar uma atitude tão radical, deixando familiares e amigos sem respostas.

Até recentemente, Tiü França levava uma vida comum, trabalhando como chaveiro em Rio do Sul. Porém, sua rotina mudou em 2018, quando, atraído pelas bandeiras defendidas pelo então candidato a presidente Jair Bolsonaro, iniciou um envolvimento político intenso. Filiou-se ao Partido Liberal (PL) em 2020 e chegou a disputar uma vaga na Câmara de Vereadores, sendo lembrado pela comunidade por circular em uma bicicleta estilizada com alto-falantes e vestindo uma camisa amarela e uma bandana com a imagem de Bolsonaro. Concorrendo com o número 22222, fez 98 votos.

Rogério Carneiro, irmão de França, expressou ao SCemPauta a perplexidade da família diante do ocorrido. Segundo ele, França havia se distanciado da família e parecia cada vez mais revoltado com o sistema político, adotando uma ideologia que o transformou. “Ele se radicalizou, assim como muitas pessoas que hoje estão presas, pessoas pacatas que mudaram de comportamento por questões políticas. Que xingam repórteres, xingam a Globo”, relatou Carneiro, ao destacar a influência da polarização e de discursos inflamados.

Questionado sobre o uso de explosivos, Carneiro disse acreditar que França não tinha experiência com artefatos explosivos. “Até onde sabemos, ele não tinha conhecimento técnico sobre detonadores, apesar de ser um sistema rudimentar. Certamente, alguma tecnologia estava envolvida e ele não sabia”, ressaltou.

A família aguarda a liberação do corpo para levá-lo de volta a Rio do Sul, onde será velado. A mãe, idosa, está profundamente abalada, enquanto o filho de França, que reside em Londrina, segue para Brasília para prestar depoimento à Polícia Federal. “É estranho. Ele se afastou da família e ficou diferente. Parecia que ele tinha uma missão”, afirmou.

Comunidade chocada

Para a comunidade de Rio do Sul, a mudança de Tiü França nos últimos anos foi notável. Pessoas próximas afirmam que ele se tornou mais reservado e contrariado com a situação política do país. “Ele era bolsonarista, mas, no caso dele, houve uma mudança evidente. Ele ficou mais revoltado. Na verdade, seja de esquerda ou de direita, quando a pessoa radicaliza é complicado”, disse uma pessoa que preferiu não se identificar.

Eduardo Marzall, correspondente bancário e ex-presidente do PL em Rio do Sul, aceitou falar abertamente. Lembrou o período em que França tentou uma vaga na Câmara Municipal em 2020. “Ele era uma pessoa querida e não tinha envolvimento político até se apaixonar pelo bolsonarismo”, afirmou Marzall, que ficou surpreso ao saber que França havia se mudado para Ceilândia, uma cidade satélite de Brasília.

Um alerta

O atentado cometido por Tiü França provoca um debate necessário sobre a radicalização de pessoas antes consideradas pacatas. Para Marzall, o ato extremo do amigo pode ter sido reflexo de uma combinação perigosa entre paixão política e insatisfação que ele tinha com o Judiciário, sentimentos que, segundo o ex-presidente do PL local, levaram França a atitudes que ninguém da comunidade esperava.

Hoje, logo cedo, por volta das 7h, a Polícia Militar esteve no bairro Budag, onde se localiza uma casa que abrigava a empresa do chaveiro, além de uma residência onde ele morava com outra pessoa. Foram apreendidos celulares e pendrives. Já na residência de Ceilândia, a polícia encontrou explosivos.