(Todo o relato está disponível no site SC em Pauta).  

No capítulo anterior registrei o momento em que ficou claro um aumento expressivo das intenções de voto em Kleinubing. O movimento seguinte da coordenação da campanha foi a realização de enquetes, sobre intenção de voto, nas ruas, terminais de ônibus, lugares assim. Todas as respostas, a favor de Vilson ou de outros candidatos, e o balanço dos números do dia, eram mostradas na TV. Essas amostragens faziam muito sucesso. Era, por certo, um fato inédito que o programa de um candidato apresentasse manifestações de voto também a seus adversários.

A Dúvida e o “Plano Sequência”, um instrumento demolidor.

À essa altura, ocorreu outra decisão importante. Numa das reuniões diárias dos coordenadores da campanha, observei que a maneira como o programa de TV de Vilson mostrava as declarações de votos feitas naquelas enquetes, contra e a favor de nosso candidato, poderia gerar uma dúvida: não seria isso uma montagem? E assim eu avaliava porque era visível que havia cortes entre as diversas cenas de entrevistas. Achei que um formato sem quaisquer interrupções, mostrando todo o deslocamento das nossas câmeras e do nosso repórter, geraria mais credibilidade. O marqueteiro Hiram disse então que isso a que eu me referia, chamava-se “plano sequência”, coisa rara de ser feita em filmagens desse tipo porque, sem fazer algum corte, pode ser captado alguém dizendo algum desaforo, fazendo careta, essas coisas.

O Plano Sequência, segundo a definição convencional, “é uma técnica audiovisual em que uma cena é apresentada sem cortes, geralmente para acompanhar o personagem a partir de uma única perspectiva e ao longo de toda uma ação”.

Após alguma discussão, a tentativa foi aprovada.

As filmagens passam a ser feitas com absoluto realismo. O repórter, sem identificação, se deslocava, às vezes com alguma dificuldade, com o operador da câmera atrás, até abordar alguém e pedir licença para uma breve enquete. A maioria concordava. As perguntas e respostas iam sendo dadas, os dois continuavam, sem paradas ou intervalos, até atingir um bom número de entrevistas. À noite a filmagem toda ia ao ar. E teve mesmo cena em que alguém falou “Kleinubing não, forasteiro não”. Como, porém, o apoio a ele era dominante e muito animado, todos esses planos-sequência foram ao ar. O efeito foi estrondoso. Foi algo avassalador. Mortal. Ficou evidente que havia muita gente espontaneamente manifestando sua preferência pelo nosso candidato.

A nova grande ameaça e a resposta de alto risco.

A vitória parecia irreversível. No entanto, pouco tempo antes do dia D, surgiu uma nova e perigosa ameaça. Na verdade, o ressurgimento, requentado e ampliado, de um ataque que já tinha sido vocalizado anteriormente: a versão de que Blumenau seria apenas um meio, uma passagem, para Kleinubing se candidatar ao Governo do Estado. E que ele, se eleito para a Prefeitura, ficaria apenas pouco mais de um ano no cargo, renunciando para se candidatar a Governador na eleição de dois anos depois.

Até mesmo nós, os que coordenavam a campanha, acreditávamos que isso poderia mesmo acontecer. A política, independentemente da vontade de seus protagonistas, cria fatos, produz alternativas que podem vir a ser incontornáveis. Mas, o pensamento da grande maioria do grupo é que os eleitores já não deixariam de votar em Vilson em razão de alguma dúvida a respeito dessa possibilidade. Vilson, porém, preferiu não correr o risco e, baseado na empolgação que o cargo de Prefeito lhe provocava, resolveu dizer ao povo que ficaria.

Foi impressionante. Com absoluta convicção, ele falou, em close, na TV, mais ou menos isto: “Meus amigos e amigas de Blumenau. Olhem nos meus olhos, leiam os meus lábios, prestem atenção ao que vou dizer: se vocês me elegerem Prefeito, eu ficarei no cargo até o último dia de meu mandato. Eu não vou sair. Não vou renunciar”.

Foi a pá de cal no assunto. E a consolidação final do triunfo.

No dia da vitória.

No dia da eleição, 15 de novembro de 1988, encontrei-me, no início da tarde, nas dependências do meu local de votação, o Colégio Pedro II, com um dos muitos irmãos do Deputado Vilson Souza, um dos três principais candidatos. Creio que foi o hoje prestigiado advogado Sergio Hess de Souza. Quando me viu, disse com simpatia e animação que nós havíamos feito uma bela campanha, mas que o vitorioso, com certeza, seria seu irmão Vilson. Eu falei então que tinha duas notícias para ele, uma ruim e uma boa. A ruim (para ele) é que o vencedor realmente era Vilson, mas não o Souza, e sim o Kleinubing. E a boa é que Souza faria mais votos do que Renato Vianna, e seria, portanto, o segundo mais votado.

Minha manifestação não era o palpite de um torcedor. Nosso comitê tinha pesquisas feitas por telefone na noite anterior à votação e também muitas amostragens de intenção de voto na “boca de urna”, realizadas já no final da manhã daquele domingo.

E o resultado final foi o seguinte:

A eleição acabou. Nosso candidato fez mais votos do que todos os outros seis concorrentes somados.

Vilson Pedro Kleinubing e Victor Fernando Sasse tomaram posse no tórrido 1º de janeiro de 1989. Com a saída do cargo de Dalto dos Reis, estava encerrado, momentaneamente, o ciclo de 20 anos do MDB na Prefeitura. Sasse passou a ser Secretário das Finanças, Feslski foi o Procurador Geral do Município, Wachholz Presidente do SAMAE, Villar Presidente do SETERB. E eu fui escalado como Secretário do Planejamento. Mais tarde o Vice-Prefeito preferiu ficar apenas nas suas funções originais. O Prefeito trabalhou, já de início, com uma equipe notável da qual participaram, além dos já citados, também o brilhante médico Newton Motta, o engenheiro Luiz Carlos Klitzke, o Vereador Ademar Lingner, a Professora Dinorá Krieger Gonçalves, o Coronel Antônio Bascherotto Barreto, os empresários Caetano Deeke Figueiredo e Manfredo Bubeck, e o primeiro Intendente eleito da Vila Itoupava, Hellmuth Danker.

Epílogo.

O que era presente e futuro na época, hoje virou história. Vilson Kleinubing realmente deixou o cargo de Prefeito na primeira metade de seu segundo ano de mandato. E saiu ileso do que poderia ter sido visto como uma grave mentira para os blumenauenses – a promessa, feita durante a campanha, de que ficaria no exercício de seu mandato na Prefeitura até o final.

Uma soma de eventos produziu a convicção de que, de fato, ele não mentiu. No momento de sua declaração ele acreditava no que estava dizendo. Foi a história, essa senhora volúvel, ajudada por algumas criaturas humanas, quem consolidou acontecimentos que comprovaram a tese, que acabou prevalecendo, da veracidade da afirmação de Vilson. Isso, tudo, voltarei a abordar daqui a algumas semanas.

As próximas e as seguintes.

Nessas futuras colunas, pretendo contar boas histórias ocorridas na administração de Vilson Kleinubing na Prefeitura e, mais adiante, no Governo do Estado.

No próxima o assunto, para variar, será outro. Seguirei relatando casos da política catarinense de que tive a oportunidade de participar ou de ser testemunha ocular.