O pesadelo das enchentes e a força de um contato pessoal – Coluna do Paulo Gouvêa
Cá estou, neste ano de 2023 Depois de Cristo, mais ou menos ilhado, com minha esposa, na nossa casa. E vem à minha memória acontecimentos de quarenta anos atrás quando uma inundação catastrófica tomou conta do Estado. Na época eu era Secretário estadual da Administração e vivíamos em Florianópolis. De repente começaram a surgir notícias de que um dilúvio estava acontecendo no Vale do Itajaí e também em muitos outros lugares de Santa Catarina. Blumenau, especialmente, estaria sendo engolida pelas águas. Como o Governador Esperidião Amin estava fora da Capital, vistoriando de helicóptero as áreas mais atingidas, alguns membros do Governo se reuniram, rapidamente, para definir as ações a serem tomadas. E logo se constatou que o Estado não tinha meios de enfrentar uma enchente daquele porte. Era preciso buscar ajuda, urgentíssima, do Governo Federal.
Como era um sábado, as tentativas já feitas tinham sido infrutíferas. Então lembrei que havia um caminho, muito mais pessoal do que oficial. Na época, um dos mais poderosos personagens da República era o Chefe da Casa Civil João Leitão de Abreu que, por acaso da sorte, era meu conterrâneo lá de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul onde nasci. Ele tinha sido vizinho e muito amigo de meus pais, e mais tarde fora meu professor na Faculdade de Direito da PUC, em Porto Alegre. Liguei para a residência oficial do Ministro, em Brasília, e pedi à pessoa que atendeu que dissesse a ele que quem estava na linha era Paulo Gouvêa da Costa, seu antigo aluno, filho de seus vizinhos de Cachoeira. E que eu precisava falar sobre a situação em Santa Catarina. Segundos depois Leitão de Abreu estava na linha, me cumprimentou amistosamente, perguntou sobre meus familiares, ouviu nosso pedido de socorro, disse que já estava a par da gravidade da nossa situação e que em não mais do que quinze minutos o Ministro Mário Andreazza iria nos telefonar para detalhar os meios de apoio.
Dos quinze previstos não se passaram dez e Andreazza ligou perguntando o que estávamos precisando. Foi dito a ele que necessitávamos urgentemente de lanchas, barracas, alimento, remédios, essas coisas imprescindíveis. E vários aviões de menor porte e helicópteros para o transporte dessa ajuda às várias regiões. Na noite do mesmo dia já estavam aterrissando em Florianópolis aviões de grande porte trazendo o socorro.
Espero, como todos os catarinenses, que a enchente atual não chegue nem perto do que enxerguei dias depois sobrevoando Blumenau: quase toda a cidade estava submersa. Mas, se um drama semelhante ocorrer novamente, seria muito bom que alguém aqui pense em contatos diretos com os chefões lá em Brasília. O vínculo pessoal pode ser decisivo num momento desses. E, tendo em vista quem hoje nos governa, não poderia, claro ser alguém como eu, porque, se ligar, aí mesmo que não virá ajuda alguma.
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