As peculiares opiniões de Lula sobre a Democracia – Coluna do Paulo Gouvêa
Já falei nisso, mas vale a pena relembrar. O Presidente Lula produziu, cerca de um mês e pouco atrás, uma exótica referência ao conceito de democracia. Ele disse que a Venezuela até pode ser considerada mais democrática que o Brasil, devido ao fato de que o país de Nicolás Maduro realiza, segundo ele, um número maior de eleições do que aqui. Essa informação é muitíssima suspeita, já que temos 5.568 municípios onde acontece, a cada quatro anos, a escolha dos prefeitos e vereadores. E mais, as votações para Presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. A Venezuela tem 335 municípios – 5.233 a menos que o Brasil. Não sei quantas eleições fazem lá, mas não acredito que sejam mais numerosas do que essas milhares que há no Brasil.
O que Lula falou parece mais um dos seus habituais chutes inconsequentes. No entanto, mesmo que lá houvesse milhões de eleições, isso significaria absolutamente nada. China, Cuba, Rússia, também fazem como a Venezuela, eleições para ingleses verem. E nem por isso, podem ser classificados como países democráticos.
Lembrado desse fato incontestável, Lula saiu-se, então, com a seguinte réplica: “Democracia é um conceito relativo”. Não é não, Presidente. Quando se trata do que aqui interessa, ou seja, a diferença entre um sistema democrático e uma ditadura, não cabe relatividade alguma. Democracia só existe onde há liberdade de pensamento, de expressão, de fazer oposição ao Governo, imprensa livre e respeito aos direitos humanos.
Também é preciso observar se os representantes políticos são livremente escolhidos pelo povo, e se existe Justiça independente. Disso aí tudo, a Venezuela de Maduro não tem nada. O que se vê por lá é imprensa amordaçada, juízes de parceria com o governo, proibição de manifestações, encarceramento dos adversários. Portanto, agrade ou não ao peculiar critério de avaliação do Presidente Lula, o fato concreto é que a Venezuela é uma ditadura escancarada.
Um quebra-cabeça que ninguém ainda resolveu.
O jornalista Altair Carlos Pimpão relatou dias atrás, em seu Blog, uma conversa que teve, em Blumenau, com Alexandre Padilha que atualmente é Ministro das Relações Institucionais de Lula e já foi Ministro da Saúde da Dilma. Nesse encontro Pimpão relatou que seu genro é diretor de uma instituição alemã chamada “Drogen Dienst” – Serviço da Droga – sediada em Berlim. Lá, segundo ele, as pessoas viciadas recebem medicamentos que, para facilitar a superação da dependência, proporcionam sensações semelhantes às das drogas, porém, sem seus efeitos mais maléficos. E oferecem residência e oportunidade de trabalho para os pacientes. Tudo com acompanhamento médico. O Ministro pareceu muito interessado nessa conversa. E combinou com Pimpão que os dois iriam juntos a Berlim para ver isso de perto.
Esse é um assunto crucial para a vida das pessoas que tiveram a infelicidade de cair no vício, e para seus familiares e a sociedade em geral. Mas, o tema, por certo, é muito complicado, como se vê todo dia, na imprensa. O drama que acontece na Cracolândia em São Paulo, por exemplo, parece não ter solução. Pelo que soube, conversando com um Psiquiatra, tratamento semelhante ao da Alemanha existe também no Brasil. Talvez não tenhamos aqui todos os medicamentos que eles dispõem lá, mas, especialmente no que diz respeito ao alcoolismo, há substâncias que auxiliam bastante o paciente a se livrar da dependência.
O que nós ainda não conseguimos resolver é outro quebra-cabeça: como levar o dependente para o tratamento quando ele não quer fazer isso? Se os alemães conseguem reduzir os danos causados pelo vício, se já organizaram a disponibilidade de trabalho para os que passam pela desintoxicação, acho uma boa ideia ir até lá. E, se eles, além disso, descobriram como lidar com o impasse jurídico que impede dar tratamento para quem não quer recebê-lo, certamente é lá, na terra do Doutor Blumenau, que devemos buscar inspiração e informações.
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