Natasha Dow é uma antropóloga americana que investigou durante 20 anos a introdução das máquinas de apostas, assim como as máquinas caça-níqueis na cidade de Las Vegas. O seu objetivo inicial era apenas o de investigar a arquitetura da cidade, mas, aprofundando aos poucos a sua investigação, acabou descobrindo os impactos maléficos tanto com relação aos residentes quanto aos usuários das máquinas. Foi então que, 20 anos mais tarde, resolveu publicar um livro titulado “Addiction by design” (traduzido como “adição pelo desenho”).

Natasha mostra como as máquinas caça-níqueis foram gradualmente se expandindo ao redor da cidade, que já não só permaneciam dentro dos cassinos, mas também nos postos de gasolina, nos supermercados, nas farmácias, nos lava-carros, nas lojas de conveniência, entre outros espaços possíveis.

O objetivo do livro é mostrar como os residentes da cidade foram aos poucos implementando os jogos de apostas nas suas respectivas vidas. Enquanto que em 1984, somente uns 30% dos residentes frequentavam apostas, 10 anos depois esse percentual se incrementou em 78%.

Mas como indica o título, essa prática quase tão visível e cada vez mais presente na vida destes residentes, acabou ocasionando uma consequência maléfica que já então se esperava; a cada ano que se passava, se notava um incremento visível e estatístico de indivíduos “viciados” e “dependentes” de jogos de apostas.

Para compreender melhor o processo gradual de “dependência psicológica” dos indivíduos com estas máquinas, Natasha investigou detalhadamente não só o interior e o design dos caça-níqueis, assim como a disposição espacial dos Cassinos. Em termos gerais, o propósito dos designers que desenvolveram os chips, assim como a dos arquitetos que distribuíam os espaços dos cassinos, era fazer que o jogador permanecesse a maior quantidade de tempo possível apostando.

Em uma entrevista concedida a um apostador habitual, o mesmo afirmava que “uma vez lá dentro, você entra em uma espécie de transe. Você se torna um piloto automático”. E mais interessante é a consideração de outro apostador que afirmava que “já não jogava para ganhar, mas sim para continuar jogando”.

O livro contém diversos detalhes interessantes dos quais, e paralelamente, permite fazer uma crítica não só ao modo em como as máquinas caça níqueis são desenhadas, para que o usuário permaneça a maior quantidade de tempo possível diante dela, mas como também as tecnologias de “tela”de um modo geral (Smartphones, Instagram, Facebook), assim como a disposição dos aplicativos (jogo de cores, funcionalidade, interatividade) também são desenhadas com o mesmo intuito e propósito.

Fazendo-nos conscientes de todas estas informações, seria interessante de perguntarmos a partir de agora se o grande problema da dependência à aparelhos eletrônicos em geral se encontra no “produto” que consumimos, ou nas pessoas. Encontramos uma grande resistência ao saber que a maioria das empresas se fazem donos dessa resposta, e apontam com o dedo que o real problema das adições se encontra no próprio indivíduo (muitos deles vulneráveis às tentações e aos impulsos), e não nos seus inventos. É certo de considerar que existem indivíduos com tendência mais impulsiva que outras, mas também devemos considerar que o design de determinadas tecnologias, e de cujo propósito primordial é o de manter permanentemente o indivíduo conectado, aceleram e contribuem ainda mais com a aquisição de uma possível dependência.

Neste sentido, se faz estritamente necessária a aplicação de um respaldo ético a empresas tecnológicas, das quais são ainda capazes de fazer qualquer coisa para manter-se intacta no marco competitivo com outras empresas. Ou bem da intervenção imediata do Estado, com o fim de preservar o bem-estar dos seus cidadãos.

E como dito na minha última coluna, o problema não reside na liberdade em si, mas sim, nas más condições sociais (fomentadas por indústrias e multinacionais que impõe implicitamente as regras de conduta) que acabam tornando a liberdade de escolha em uma carga insuportável para o indivíduo.