Entra governo e sai governo lá em cima, onde os impostos catarinenses forram os cofres federais, e a situação continua igual: descaso, abandono, olho branco, faz de conta que não existimos como membros do Estado Federal brasileiro. No primeiro time dos titulares que governam o País, Santa Catarina não tem uma única pessoa. Faço a ressalva: Ana Moser é catarinense e é craque, mas não está lá por causa da sua origem. Não tem ligação política alguma com o nosso Estado. Periga Lula nem saber onde ela nasceu. Estamos mais por fora que surdo em bingo. E o esquecimento não fica só na convocação da equipe. Dinheiro para nossas estradas, praticamente nadica de nada. A BR 470, por exemplo, andou um tanto no passado recente graças ao empurrão dado pelo dinheiro catarinense que o ex-governador mandou para lá. O novo ministro da área já informou que se empenhará, por ora, na conclusão (e inauguração por suposto), do trecho que liga a BR 101 ao Aeroporto de Navegantes – que, não por acaso, está quase pronto. Mas, segundo ele explicou de maneira surpreendentemente franca, a prioridade é o Nordeste do País.
Os presidentes da República e seus ministros vêm e vão e têm a tendência a usar de alguma lógica própria para definir o que é importante ou não. No governo anterior a causa alegada por alguns para tal abandono era o fato de que Santa Catarina era um Estado tão bolsonarista que nem precisava votar algum dinheiro aqui. Bem tratado ou maltratado, o eleitor catarinense votaria em Bolsonaro de qualquer jeito como, de fato, aconteceu. Causa política, ao avesso. Agora, comenta-se, é que nosso Estado é tão contra o PT que não adianta Lula colocar dinheiro aqui que nada vai alterar essa situação. Tudo isso, com um ou com outro, parece ser verdade. Mas, cá para nós, são explicações de um cinismo exemplar. Afinal de contas, votando assim ou assado, nosso povo está aplicadamente botando rios de dinheiro no cofre da Nação. E isso – e apenas isso – é que deveria ser levado em conta.


Como é difícil botar o dedo no nariz de um Presidente e cobrar dele, olho no olho, a retribuição pelo muito que sobra para atender outras regiões do País, a solução é reclamar dos nossos representantes no Congresso Federal. Senadores e deputados que nós elegemos aqui estão lá, entre outras coisas, para garantir isto aí: respeito e contrapartida justa pela importância, também financeira, que Santa Catarina tem para o País. Aliás, é surpreendente que todos eles – 16 de um tipo, 3 de outro – com vários de boa qualidade, tenham produzido tão pouco nessa missão ultra sensível para o Estado que representam: a de canalizarem recursos para obras essenciais no território catarinense.
Risco de colapso burocrático.


A ponte entre Ibirama e Apiúna, na BR 470, está a ponto de desabar. Veja só o estado da coitada: há rachaduras no concreto, ferragens expostas, infiltrações e erosão no concreto abaixo da linha d’água. E só agora descobriram? Não. Em 2020 houve concorrência para a reforma, mas nenhuma empresa se apresentou. Um ano depois, nova tentativa – e o resultado foi o mesmo: sem propostas. Na época já se sabia que o preço definido pelo Governo – 7.9 milhões – era insuficiente. Mas, a licitação foi feita mesmo assim e, claro, não deu em nada. Agora o custo estimado é de 15 milhões. O caso é urgentíssimo – porque essa ponte, que tem 200 metros de extensão, é o único caminho para cima ou para baixo na BR na altura do Médio Vale. Quem vai, por exemplo, de Rio do Sul para Blumenau, não tem alternativa – a não ser que saia, já lá de cima, pela 382, desembocando em Palhoça e pegando a BR 101 e a Rodovia Jorge Lacerda até o destino final. E a ponte, segundo os técnicos, está em “risco de colapso”, o conserto é urgentíssimo. As possíveis propostas, entretanto, vão ser abertas no mês que vem e a vencedora terá seis meses para fazer estudos e projetos e mais nove para executar o trabalho. Enquanto isso, carros e caminhões vão estar rolando por cima da ponte.


A boa notícia é que ela sairá mais larga dessa reforma. Em vez dos atuais 9.40 metros, terá 15.20, com acostamento e passagem de pedestres de dois metros cada. Beleza. Mas, tudo, claro, depende de a concorrência dar certo. E, para complicar um pouquinho mais, essa licitação foi lançada no último dia treze de janeiro, uma sexta-feira.