O pessoal ligado ao presidente recém-empossado resolveu batizar seu terceiro mandato de “Lula-3”. A decisão foi baseada em simbolismos e em marketing. Embora as lembranças mais recentes do ex e atual presidente não sejam bem-vistas nem bem lembradas por cerca da metade da população brasileira, elas ainda evocam na memória da outra metade “deste país” alguma sensação agradável.

Na verdade, os mandatos Lula-1 e Lula-2, além dos feitos que deixaram recordações positivas, se notabilizaram pela eclosão dos maiores escândalos de corrupção da história. E plantaram, especialmente nos episódios finais da segunda temporada, as sementes, que Dilma regou, do desmantelamento das bases econômicas do Brasil. O resultado foi o desastre político, social, financeiro e moral que desaguou no impeachment da Sra. “Presidenta”. Feitas as contas, o PT, compreensivelmente, preferiu dar a entender que este, para todos os efeitos mercadológicos, é o terceiro da Era Petista. Mas, não é, não. Tudo o que tem sido dito e tem acontecido nos discursos, nas nomeações, nos atos e ameaças, indica que está começando um Governo Dilma-3, posto que tem, pelo menos por enquanto, a cara das turbulências e incongruências do governo dela. Ou, talvez de modo mais adequado se deva dizer que é um Governo PT-5.

Se o PT reconhecesse que essa é sua quinta temporada em cartaz “neste país”, teria que assumir uma realidade indigesta: muito do que Mestre Lula reclama, indignadamente, que nunca jamais foi feito “neste país” – como a erradicação da pobreza, por exemplo – tem a paternidade lulista, dilmista e petista. Afinal, foram 8 anos de um, mais quase 5 anos e meio da outra, perfazendo quase quinze anos na administração “deste país”. E, ao final dessa maratona, os resultados eram pífios como não poderiam deixar de ser logo após a demolição da ética, da responsabilidade e da capacidade de governar. 

O novo e antigo presidente já deu marcha ré no programa de privatizações. Também anunciou, desmentiu, deixou no ar, a possibilidade da revisão ou cancelamento das reformas trabalhista e da previdência. Ele próprio, de viva voz e falando como quem está baixando as tábuas da lei, assegurou que responsabilidade fiscal é “uma estupidez”. E a independência do Banco Central é uma “bobagem”. Em outra ação própria do estilo PT de governar, superlotou a Esplanada dos Ministérios: elevou de 23 para 37 o número de ministérios. Para tornar possível a exibição da foto do conjunto do aparato governamental, a revista Veja teve de usar duas páginas anexas. Numa só não cabia.

De conformidade também com seus antigos hábitos e costumes, o novo governo nomeou e empossou pelo menos um ministro e duas ministras sobre quem pesam denúncias de autoria de variados “malfeitos”, como a ex-“Presidenta”, chamava, com certa doçura, os atos de corrupção. Umas e outro foram indicados por partidos políticos? Eles tinham liberdade para escolher quem seria sugerido? E Lula tinha a prerrogativa de não aceitar? O cientista político Humberto Dantas, em entrevista à rádio CBN, levantou dias atrás uma questão: por qual razão, neste caso, todo o pessoal do Governo tem corrido para desqualificar as denúncias sobre essas pessoas suspeitas de práticas dos “malfeitos”? No caso, por exemplo, da Ministra do Turismo, a resposta é bastante simples e já havia sido apontada pela jornalista Eliane Catanhêde na GloboNews: ela e seu marido Waguinho, prefeito de uma cidade do interior do Rio de Janeiro, embora filiados ao União Brasil, foram, durante a campanha, dedicados cabos eleitorais do então candidato Lula. Como é que ele agora vai “deixar na estrada” sua fiel defensora só porque, “supostamente”, teria ligações com a milícia carioca?

O ex-Presidente do Banco Central nos tempos de FHC, o financista Armínio Fraga – que votou em Lula – disse recentemente que o novo presidente e o PT deveriam externar aquele mínimo que se espera de quem pecou: o arrependimento. Armínio deu uma espécie de conselho ao novo governante: “Mesmo que não se ajoelhe no milho e faça um mea-culpa, seria bom que mostrasse, através da prática, que as lições foram aprendidas”. Mas, isso, digo eu, é mais difícil que o tal camelo passar no buraco da agulha. Nem Lula, nem PT, se arrependem porque, simplesmente, não reconhecem ter errado. Eles acreditam com muita firmeza e disposição que a conquista de seus próprios desejos e objetivos justifica plenamente quaisquer métodos que venham a ser utilizados.

Justificando as próprias limitações

Em outro movimento, Lula está trazendo de volta uma antiga lenda: a de que está recebendo “um país quebrado”. Que a situação atual é difícil, não há dúvida. Mas, o Brasil está hoje tão falido quanto era “maldita” a herança que recebeu de FHC: uma invencionice de quem já prepara desculpas para eventuais dificuldades.