Vandalismo injustificável, descuido inexplicável – Coluna do Paulo Gouvêa
Estão certos os analistas que atribuíram na medida certa os pesos e as culpas pelos estúpidos eventos do domingo dia 8 em Brasília. As sementes vinham sendo plantadas e regadas há tempo por fanáticos, desinformados e equivocados em relação às urnas e às eleições. Abro um parêntese: os que têm dificuldade em aceitar que o cidadão condenado e não absolvido tenha sido liberado para disputar as eleições não estão substancialmente errados.
É difícil mesmo entender como nossos juízes chegaram à conclusão de que o réu considerado culpado por todas as instâncias da Justiça deveria ficar livre para pedir o voto do povo, e o juiz que o condenou ser alvo de acusações e descrédito. Essa rejeição ao fato é compreensível. Mas, foi perdido o timing. O protesto contra esse estranho acontecimento teria de ser feito na ocasião adequada. Não foi feito porque o líder Bolsonaro entendeu que essa era a briga que ele queria: enfrentar o cara desmoralizado pelos escândalos de corrupção num cenário de extrema polarização. A estratégia deu errada e a semeadura da revolta contra as urnas foi o erro decorrente dessa circunstância. Logo, a eclosão e a explosão de sentimentos diversos é culpa, sim, do bolsonarismo de porta de quartel, alimentado por seu chefe e seus irmãos de fé. Acho que muitos dos acampados não tinham a intenção de chegar à baderna que aconteceu. Mas, num momento desses o bloco vai no arrastão.
Nada disso, no entanto, justifica a ridícula incompetência do novo governo na prevenção e enfrentamento das turbas. O sorridente Ministro da Defesa, tipo boa gente (mas, ao que parece, inadequado para o cargo) garantiu que “até sexta” (aquela antevéspera dos acontecimentos) os acampamentos estariam desativados. O pescoçudo Ministro da Justiça anunciou que tinha a Guarda Nacional a seu serviço e, com isso, desativou as preocupações de setores outros da segurança. O Presidente da República prometeu diversas vezes “reconciliar o País”, “pacificar a nação” e coisas que tais. Se fosse um estadista e não apenas um político demagogo, teria por certo tentado compreender as frustrações dos que perderam a eleição e não conseguem aceitar a presença dele, de novo, no poder. E então, estender a mão, lançar água no incêndio, acalmar os ânimos. Fez o contrário: jogou na fogueira a gasolina dos desaforos contra o perdedor da eleição e, por extensão, a uma parcela dos quase 50% dos eleitores brasileiros que votaram contra o PT. Deu no que deu.
Quando um não quer, dois não brigam. Quando os dois querem, a briga é certa. E só quem tem a obrigação de não querer (e de ser magnânimo) é o vitorioso.
E o Alckmin, quem diria, acabou no Ministério
Contrariando as expectativas e as declarações de Lula e de Alckmin, o Vice-Presidente da República aceitou ser parte integrante do Governo e, portanto, ser subordinado do Presidente. Foi escolhido e aceitou o cargo que ninguém queria: Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O dono da Coteminas. Josué Gomes da Silva foi convidado e não aceitou. O investidor Benjamim Steinbruch, fundador do Grupo Vicunha, idem, idem.
O comandante do Grupo Ultra, Pedro Wongtschowski, da mesma forma. Nenhum empresário quer esse cargo. Comenta-se que uma das razões é que o Presidente do BNDES já tinha sido escolhido e é Aluízio Mercadante. Contudo, Geraldo Alckmin aceitou, sem vacilar. Erro dele e de Lula. Já porque, segundo a sabedoria política, um governante nunca deve nomear alguém que não possa demitir sob pena de grave crise política.
Santa Catarina abaixo de zero
E nosso Estado, pessoal, ganhou o quê no novo Governo Federal? Os mais realistas diziam que seria pouca coisa, nenhum cargo importante. Um ministeriozinho de menor relevância talvez. Mais, não dava para esperar visto que a votação de Lula aqui em terras catarinenses foi miúda como costuma ser. Mas, tendo em vista que, mesmo diante dessa dificuldade, o candidato do PT a governador conseguiu, ainda que aos traques, chegar ao segundo turno, e que, ele, o candidato, é tido como amigo de fé irmão camarada de Lula, dava para imaginar algum prêmio de consolação. Triste ilusão. Nem a Pesca nos foi dada como usualmente acontecia. Zero, necas de pitibiribas. Ora, alguém dirá, e a Ana Moser? Grande nome, um dos melhores do time de Lula, muito pouca gente poderia ser melhor do que ela para comandar o Esporte. E ainda é de Blumenau. Mas, convenhamos, sua escolha não teve rigorosamente nada a ver com o fato dela ser catarinense. Periga Lula nem saber onde ela nasceu. Palmas para a presença de Ana no Governo, ela que ainda soma outra qualidade nesta era tão turbulenta – não tem partido político. Mas, acabou lá sem ser, digamos, uma autêntica representante do nosso Estado. Nós pelo jeito estamos de castigo.
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