É Graças a Auguste Comte, filósofo e ideário do século XVII, que possuímos em nossa bandeira nacional o dilema binário “Ordem e Progresso”. Mas gostaria de centrar-me em apenas um destes dilemas, para assim dar início à nossa discussão em torno da mesma: “o progresso”. Comte desde então havia aclamado a esta expressão, como uma interpretação de que a história da humanidade se encaminhava continuamente a um horizonte de progresso (ou de que a humanidade se encaminhava a condições cada vez melhores de vida), como também lançava, diante da população francesa e europeia no geral, de que esta ideia deveria constituir-se como um dever moral, com o intuito de que as sociedades alcançassem, algum dia, um Estado próximo ao ideal de perfeição.

As sociedades ocidentais, inclusive das Américas (e, entretanto, nós), assimilamos rigorosamente tal ideia para dentro do nosso espírito. Tanto é assim, que inclusive, a nossa bandeira tingiu-se com este símbolo positivista. Com isto, diríamos que o espírito da sociedade ocidental, e com tudo, o espírito de cada um de nós, tende a interpretar a história da humanidade através de um único “olhar”, ou através de um único ponto de vista. Diríamos convictos: “apesar de que todos os atuais conflitos existentes na nossa atualidade (resumidos em crise política, crise social, crise econômica, crise geopolítica, etc.) detenham o progresso da história da humanidade, fazendo que permaneçamos encalhados no tempo por culpa da corrupção generalizada, da má-fé, e da problemática das relações humanas existentes de um modo geral, tudo isto, em realidade, se define como um motor para que, cedo ou tarde, as sociedades continuem avançando ao progresso.

Walter Benjamim, filósofo alemão e exiliado na Segunda Guerra Mundial, alertava sobre os perigos de que obtivéssemos um único “olhar” com respeito ao direcionamento do destino da humanidade. A ideia de progresso, instaurada dentro do nosso espírito, nos conduz a pensar imediatamente (e com isto queria dizer irracionalmente) que o destino da humanidade apesar de tudo, avança a melhores condições de existência. Mas segundo Benjamin, se tratava de uma cegueira ideológica, dado que nenhum individuo da sua época havia jamais sequer pensado que dentro do sistema democrático alemão (República de Weimar, que durou entre 1918 e 1933), formas autoritárias de poder, similares aos sistemas monárquicos de períodos muito retrógrados da história, pudessem ressurgir das trevas para instaurar-se definitivamente dentro de um contexto social aparentemente moderno. Foi então que, por uma desagradável surpresa, o partido nacional-socialista (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiter Partei) acabou reerguendo-se com todas as suas forças.

Por fim, serve-se de exemplo a experiência, em consonância com a inteligência do filósofo Walter Benjamim, para perguntarmos e reflexionarmos sobre as seguintes perguntas: A história pode regredir? A história pode voltar a se repetir? Quer dizer, ir em sentido contrário àquela ideia positiva de que as sociedades se encaminham a um horizonte favorável?