
Em geral os analistas políticos avaliam as chances dos candidatos em uma eleição levando em conta as pesquisas. No caso do Brasil e especialmente no que diz respeito à escolha do próximo presidente há aí um grave problema: a descrença nas pesquisas por parte da população em geral e, consequentemente, dos nossos leitores. E o fato é que a desconfiança não acontece apenas porque um ou outro candidato desconfia. Qualquer um que olhe a discrepância entre as votações de Lula e Bolsonaro no primeiro turno fica com um pé atrás em relação ao trabalho feito por alguns dos principais institutos de pesquisa do País. Pesquisa é tradução. Transposição da vontade popular. E como diz o ditado italiano, traduttore, traditore. Ou seja: tradutor, traidor. O que todo mundo de boa vontade anda dizendo é que Ipec, o antigo Ibope, e Datafolha erraram feio. Os mais irados dizem que eles praticaram grossa sacanagem. Como se sabe, o turno terminou com 48,43% para Lula e 43,20% para Bolsonaro 43,20%. Mas, o Ipec previu que Lula teria 51% dos votos válidos – podendo, portanto, vencer no primeiro turno – e Bolsonaro 37%. O Datafolha cravou resultado parecido: 50 a 36. Outros institutos, como Ipespe, Quaest, Poder Data, Atlas-Intel e Idea, mostraram previsões parecidas. Todos eles tiveram de engolir, no domingo da eleição, à noite, os sapos da desonra. Só quem chegou perto do que aconteceu na votação foi o Paraná Pesquisas que captou 47% de Lula contra 40% de Bolsonaro.
Eliminada a conspiração, sobra a incompetência
Eu não acredito em bruxas e não acho que foram urdidas por parte das empresas que tentaram descobrir, na véspera, o que os eleitores iriam fazer no dia seguinte. E meu ceticismo decorre da circunstância de que elas são numerosas. A tecitura exigida por uma tramoia desse porte não comporta tantos participantes. Antes que o primeiro turno chegasse o escândalo já teria aparecido. Eu prefiro acreditar em causas. A primeira, possivelmente, diz respeito ao movimento dos eleitores em direção a algum tipo de voto útil. Esse comportamento já se antevia dias antes e se acentuou nas últimas horas antes da votação. Eu me refiro à mudança de voto dos eleitores de Simone Tebet e Ciro Gomes em direção aos dois favoritos. Os dois andaram beirando os 6% dos votos e, na hora H, tiveram entre 3 e 4%. Claro que esses votos foram para os dois lá de cima e, aparentemente, mais para Bolsonaro que para Lula. Isso, no entanto, não explica tudo. Deve existir também algum erro coletivo nos métodos de avaliação das intenções de voto. Os institutos ficam devendo uma séria revisão de seu modo de operar, sob pena de terem de abandonar as pesquisas eleitorais, como sugeriu Bolsonaro.