No comentário que fiz aqui logo no início da campanha eleitoral, lembrei a expressão imortalizada pelo narrador de jogos de futebol do passado, Fiori Gigliotti, quando o jogo começava. Ele dizia: “abrem-se as cortinas do espetáculo”. No final, jogo encerrado, anunciava que as cortinas se fechavam. Pois bem, no jogo das eleições as cortinas continuam abertas, tanto no Brasil como em Santa Catarina. Lá, como aqui, elas permanecem assim, esperando o dia 30 quando, afinal, serão cerradas com a proclamação de quem serão o presidente e o governador a partir de 1º de janeiro.

Os esmagadores efeitos da polarização

Aqui no Estado há alguns fatos dignos de uma análise mais detalhada. O primeiro deles, e mais claro, é que o resultado desse primeiro turno em Santa Catarina foi determinado pelos efeitos da polarização nacional. Na eleição do presidente ela foi tão esmagadora que reduziu a pó a excelente campanha de Simone Tebet, o prestígio de Ciro Gomes e a aura de bom moço do Partido Novo. No Estado a mesma lógica do embate deste contra aquele produziu uma final em que pouca gente apostava: Jorginho do Bolsonaro versus Décio do Lula.

Santa Catarina elegeu um senador biônico 

A maior, porém, de todas as consequências da radicalização foi a eleição para o Senado. Em terras catarinenses foi eleito um senador biônico. Não pela inexistência de voto como acontecia em outros tempos. Mas, porque os eleitores resolveram votar num anônimo, em alguém praticamente desconhecido. Sem entrar na avaliação de seus possíveis méritos ou da falta deles, o fato surpreendente é que Jorge Seif, quatro anos depois, repetiu o feito do então “Comandante Moisés”. Na época ninguém sabia quem ele era, mas venceu a eleição devido a um único e singelo fato: tinha o mesmo número de Bolsonaro. Seif começou a campanha sem votos e precisava ser apresentado por alguém para que o interlocutor soubesse quem era aquela pessoa. E venceu sem que, até agora, a grande maioria do povo catarinense saiba dizer duas ou três coisas que ele porventura tenha feito pelo Estado. Só o que sabia, e que bastava, é que ele tinha o mesmo número de Bolsonaro e passeara de moto com o Capitão. As vítimas desse fenômeno foram candidatos do porte de Raimundo Colombo e Dário Berger sobre quem, ainda que com prós e contras, todo mundo consegue, de cor, enumerar algumas dezenas de realizações.  

Décio deve sua vaga à superlotação

Outro fato importante, previsto aqui em comentário anterior, foi o presente que Décio Lima ganhou dos partidos da ala centro-direita. A pulverização desse lado da política catarinense nas quatro candidaturas fortes de Jorginho Mello, Carlos Moisés, Gean Loureiro e Esperidião Amin, mais a quinta de Odair Tramontin que acabou se revelando menos inexpressiva do que se supunha, possibilitaram que o único candidato da esquerda chegasse ao segundo turno, mesmo com uma votação relativamente modesta. Amin, que ainda é continuará senador por mais quatro anos, merece ganhar um abraço reconhecido de Décio já que, tendo sido o último a entrar no jogo, pode ser considerado o principal responsável pela divisão dos votos à direita. E foi punido e carrega também o ônus das não reeleições de Ângela e João – que talvez tenham sido vítimas do excesso de Amins na mesma eleição. 

O que é um cavalo paraguaio

O maior de todos os derrotados, contudo, foi o atual governador que, como todo o incumbente, largou favoritaço para, no mínimo, chegar forte ao segundo turno. E acabou, quem diria, fora das finais, com modestíssimos, no seu caso,17% dos votos. A política muitas vezes pune a inexperiência e castiga a soberba. A propósito, devo uma explicação. O termo “cavalo paraguaio” que utilizei aqui dias atrás para descrever o desempenho que se vislumbrava ter Moisés, é coisa dos gaúchos e se refere às antigas corridas de cavalo em cancha reta no Interior do Estado vizinho. De vez em quando, numa dessas raias, aparecia algum equino procedente do Paraguai que, segundo os comentários maldosos, costumava ser dopado antes do páreo. Então, com fogo nas ventas, largava na frente, à toda, parecendo que venceria com facilidade. Mas, no meio do trajeto lhe faltava fôlego, começava a ratear e acabava lá na rabeira. Na política também aparece, vez por outra, algum cavalo paraguaio.