Não sem receber críticas e comentários às vezes até malcriados, venho alertando ao longo deste ano que o Brasil precisa de gestão eficiente – e um gestor que trabalhe -, responsabilidade, honestidade inclusive de propósitos, e de um plano para ser conduzido no pós-pandemia. Não temos nada disso e estamos mergulhando numa crise sem precedentes.


Em entrevistas que concedeu à imprensa na semana passada, o ex-ministro da Fazenda e criador do teto de gastos, durante a gestão de Michel Temer, Henrique Meirelles, foi taxativo: “Eu acho que, de fato, romper o teto seria um retrocesso enorme. Nós corremos o risco de voltar ao tipo de recessão que tivemos em 2015 e 2016. Tão simples quanto isso”. Bom lembrar que essa recessão a que se refere Meirelles, hoje meu colega no secretariado de João Doria, onde ocupa a Secretaria da Fazenda e do Planejamento, foi a pior dos últimos 100 anos no Brasil.


E já que estamos recordando, também lembro que na coluna que assinei aqui depois do 7 de Setembro, previ que isso ia acontecer: depois de “protestos” por todo o país, promovidos de forma irresponsável pelo presidente da República – que depois teve que fazer um vergonhoso recuo nas suas ameaças e bravatas – os postos de gasolina se encheram de filas porque caminhoneiros tipo Zé Trovão, que não fazem parte das entidades representativas da categoria, resolveram fazer barreiras em frente às distribuidoras. Pois bem: o preço dos combustíveis continua subindo de forma desenfreada e agora os verdadeiros líderes caminhoneiros ameaçam parar o país, exatamente o mesmo filme que vimos com Dilma Rousseff.


Não quero e não vou fazer o papel de boletim da desgraça. Pelo contrário: venho aqui dizer que ainda é tempo de corrigir os rumos. Para isso, no entanto, é preciso que o Governo, que o Congresso e também o Judiciário façam um pacto em favor do Brasil. Em primeiro lugar, não há como tolerar que o país fure o teto de gastos, uma conquista de Nação, que colocou ordem na casa.


Em entrevista ao Correio Braziliense esta semana, em que disse que “o país será entregue arrasado” para o próximo presidente, o governador João Doria apontou o caminho para pagar o Auxílio Brasil, ao mesmo tempo em que se ajustam as contas e se recoloca o país no ritmo do desenvolvimento: “Diminuir o tamanho do Estado. Fazer a lição de casa, algo que o governo federal não fez. Diminuir o Estado para ter mais recursos para investimento no social”. Aliás, foi a lição de casa que João Doria fez no governo paulista e pode implantar o maior programa social de um estado brasileiro e da história de São Paulo, o Bolsa do Povo.


Furar o teto de gastos significa mostrar para o mundo que não somos um país sério. O ministro Paulo Guedes está inclusive resgatando um termo que foi muito utilizado na profunda e longa crise dos anos 80 – só corrigida em 94 pelo Plano Real de Fernando Henrique Cardoso – que é o “waiver”. Esse termo, no jargão do mercado, é um pedido de perdão por não cumprir a meta, como fazia o Brasil pré-FHC junto ao FMI. “Waiver lembra dos piores tempos do nosso país. A última vez que o Brasil pediu waiver foi do FMI. Quando o país estava quebrado. E do jeito que está, caminha para isso”, afirma Henrique Meirelles.


O Congresso Nacional tem papel fundamental para evitar que o Brasil caia no abismo. Podemos tomar como exemplo o período em que o próprio Meirelles propôs o teto de gastos. Ele encontrou resistências: “O Legislativo, como sempre é um problema, em qualquer circunstância em qualquer país, um grupo grande de pessoas, cada um representando sua região, seu estado, seu setor, seus interesses, é normal isso”, lembra ele. Mas a responsabilidade dos parlamentares para com o Brasil falou mais alto e com o que chama de “conversa franca, objetiva e firmeza” com deputados e senadores, o então ministro da Economia aprovou o teto e colocou o país no rumo da responsabilidade fiscal.


Impedir que o teto de gastos seja furado por uma pretensão eleitoreira de Jair Bolsonaro, que desde que foi eleito não saiu mais do palanque e abandonou o Brasil e os brasileiros, é o primeiro passo. Não podemos aguardar as eleições de 2022 para fazer isso, até porque são necessárias outras medidas urgentes – como conter a inflação – para que o Brasil não vire uma Argentina ou uma Venezuela.


Cabe a todos nós brasileiros impedir que o filme de terror que assistimos com Dilma Rousseff seja reprisado apenas cinco anos depois. O presidente da República já demonstrou que está completamente perdido e não sabe o que fazer.
Mas o Brasil é muito maior que Jair Bolsonaro. Vamos sair desta, recolocar a Nação no rumo certo e, em 2022, acabar com o populismo Lula-Dilma-Bolsonaro que em duas décadas derrubou o país de 6ª para 13ª economia mundial, elegendo um presidente que, como eu disse nas primeiras linhas desta coluna, faça uma gestão eficiente, que trabalhe incansavelmente, tenha responsabilidade, honestidade inclusive de propósitos, proponha e execute um ‘plano de vida’ para o Brasil das próximas décadas.