
Em 2021 completamos 75 anos da proibição dos cassinos no Brasil. A decisão do presidente Eurico Gaspar Dutra teria sido motivada por sua esposa, Carmela, para a preservação das famílias. Em 1986, passados então 40 anos, o governador paulista João Doria, à época presidente da Embratur, defendeu a permissão para os cassinos. Desta vez, as vozes contrárias alegavam o risco do crescimento do crime organizado. Ou seja, um atestado de rendição.
Aliás, foi nesse período em que João Doria foi presidente da Embratur que eu o conheci, num evento em favor da regulamentação dos cassinos, realizado em 1988 no então Hotel Diplomata, em Florianópolis. Nessa época eu era superintendente do Sebrae/SC e foi ali, há mais de 40 anos, que João Doria e eu passamos a comungar as causas do Turismo e desenvolvemos nossa amizade.
SC era então um dos estados que mais influenciavam em favor dos cassinos, tanto que o organizador do evento, o deputado Dércio Knopp, tornou-se conhecido no país por ter apresentado no Congresso Nacional o projeto de lei para reabertura dos hotéis-cassino. Dois empresários catarinenses também atuavam na linha de frente desse movimento: Santos Guglielmi, empreendedor do Laguna Tourist Hotel, e Osmar Nunes Filho, do Hotel Marambaia, em Balneário Camboriú. Os dois hotéis foram construídos com a intenção de terem cassinos integrados ao projeto.
No passar das décadas a realidade se impôs e está claro o quanto a proibição foi equivocada. Sem proselitismo, o Brasil tinha e tem problemas muitíssimo mais sérios a corroer as relações familiares e sociais e a criminalidade cresce justamente nas sombras – inclusive na jogatina ilegal, sem o país ganhar nada com isso.
Enquanto o Brasil tem a companhia de Cuba e países de fundamentalismo religioso entre os que proíbem os cassinos, as nações mais ricas não só autorizam como cobram impostos e investimentos, que se revertem para toda a sociedade e não apenas para quem joga. Os exemplos recentes de gestão eficiente da autorização para os cassinos vêm da Ásia. Mediante bilhões de dólares investidos, Singapura e Macau inauguraram resorts integrados com cassinos que recebem milhões de visitantes. O Japão já fez sua aprovação. Esse modelo, de Resorts Integrados, é defendido pelo Governo de São Paulo.
Nos Estados Unidos os cassinos funcionam em diversos estados. Nevada, onde fica Las Vegas, é o mais famoso e apenas 25% da receita vêm do jogo. A maior parte do faturamento está ligada a outras atividades, como eventos, congressos, show business, hospedagem, restaurantes em megacentros de convenções e grande comércio. Famílias vão até lá e todos se divertem. Mais perto, metade dos turistas que vão jogar no Uruguai são brasileiros. O país vizinho recebe cerca de 3,2 milhões de estrangeiros, enquanto isso o Brasil todo estacionou em 6 milhões de turistas internacionais.