Há uma correlação entre as nossas liberdades e as nossas responsabilidades. Se o Brasil tivesse vacinado mais, estaríamos agora mais próximos da chamada ‘imunidade de rebanho’. Na semana passada, os americanos fizeram uma grande festa com fogos de artifício em Nova Iorque e estão ‘liberados’ porque chegaram a 70% da população vacinada. Quando os EUA chegaram a 40%, já haviam liberado a economia turística em 76%.

O Brasil hoje, infelizmente, está muito atrás nessa corrida pela imunização, apesar de todos os esforços do Instituto Butantan, que ainda no primeiro semestre do ano passado começou a negociar a compra da Coronavac e já desenvolve a Butanvac, com o insumo IFA totalmente nacional. Mas houve atraso porque fomos vítimas de uma ‘visão de cloroquina’, uma visão equivocada na coordenação pelo Governo Federal. Isso precisa ser dito. Tem que ser dito porque é verdade e está errado. Há o certo e o errado – e só agora nós estamos caminhando para o certo. O certo significa que, à medida que se amplia a vacinação, aumenta a condição de retomar a economia.

No final do ano nós estaremos, provavelmente, livres de tudo isso. Teremos condições de viajar, de passear, de abraçar, de comemorar o Natal e o Ano Novo. E possivelmente Carnaval e outras festas que marcam o Verão. Esta é a tendência revelada por estudos que nossa Secretaria faz em parceria com a FIA (Fundação Instituto de Administração) /USP, mostrando a correlação entre os altos níveis de vacinação e a ‘liberação’ das pessoas – são desenhados cenários realistas, pessimistas e otimistas, que se alteram à medida em que mais imunizantes são colocados à disposição da população brasileira.

No entanto, os ‘gatilhos’ que permitem uma maior liberação – que no mundo se iniciam a partir de 40% de imunização – ainda não foram atingidos no Brasil. Por isso, acredito que somente daqui a dois meses conseguiremos enxergar claramente esse ‘gatilho’. E tenho convicção de que ele vai acontecer, proporcionando uma mega retomada – algo nunca visto no nosso turismo interno. A demanda vai ser tão grande que pode até faltar produto turístico.

Neste ponto, me vejo no dever de fazer um alerta a você, eleitor que vai escolher o próximo presidente da República. A terrível experiência pela qual estamos passando nesta pandemia – que já levou meio milhão de brasileiros, ou seja, uma Florianópolis inteira – nos serve de lição para atribuirmos nosso voto em gestores públicos responsáveis, eficientes, honestos e com visão de futuro. O Brasil vem perdendo década sobre década na mão de populistas. Era, no século passado, o ‘país do futuro’.

Lamentavelmente, hoje, o que temos que evitar é que o Brasil envelheça sem amadurecer. Nós somos obrigados a amadurecer, a entender os erros que foram cometidos – poderíamos estar bem melhor no quadro mundial de vacinação. Gestão pública não é brincadeira, não é bravataria, nem ameaça, nem motociata.

O Brasil precisa de soluções sérias, nós não poderíamos ter demorado tanto – nossa sorte é que o Governo João Doria, em São Paulo, deu uma contribuição imprescindível ao país e pressionou, como vem pressionando até agora, o Governo Federal, em primeiro lugar, a ‘aceitar’ a vacina como a única arma eficaz para combater o coronavírus. Esta lição na pandemia – ministrada por São Paulo e por seu governador – tem que ser espelho para o futuro da Nação.

Temos que organizar e planejar o nosso país. Mas não conseguiremos fazer isso enquanto nós só soubermos o que nós não queremos. Saber o que nós não queremos – incluindo aí radicais e radicalismos de ambos os lados – é um passo. Mas saber o que nós queremos será a nossa verdadeira evolução. Quando estivermos comemorando no final do ano, com o turismo e as viagens de volta, temos que, como adultos, refletir o que verdadeiramente queremos para o nosso Brasil, um país rico, o mais rico do mundo, e que tem condições de evoluir de forma excepcional – desde que o tratemos com o respeito e a responsabilidade que merece.

Um país que proporcione uma escola de qualidade para nossos jovens e que isso signifique oportunidades iguais para esses mesmos jovens entrarem no mercado de trabalho. Que trabalhadoras e trabalhadores possam ser treinados, especializados, para que cresçam em suas carreiras e melhorem a renda familiar. As pessoas precisam ser promovidas, subir na vida, é um direito legítimo do povo brasileiro.

O Brasil precisa criar uma classe média que tenha estabilidade para não voltar aos degraus mais baixos. Uma classe média que não tenha acesso limitados às coisas – mas que tenha acesso a tudo, com bons salários, com amplas possibilidades de consumo. Com mais vacinas, teremos mais viagens, mais turismo. E então, com muito respeito e responsabilidade, temos que definir e eleger qual é o país que queremos – e também as promessas e ilusões populistas que não queremos mais.