Na coluna desta semana vou me reportar a dois fatos que são marcantes para o turismo e a economia de SC. São marcantes porque revelam todo o significado e importância do nosso Estado no cenário nacional e internacional – e o quanto precisamos avançar num plano de vida estratégico para as próximas décadas, sob pena de, num futuro breve, Santa Catarina passar a sofrer retrocessos, ironicamente pela falta daquilo que nos trouxe até aqui, num roteiro de crescimento e desenvolvimento: a capacidade de planejar e traçar as metas que queremos atingir.      

Mas, vamos aos fatos. O primeiro deles me emocionou pessoalmente, porque se trata de um amigo. Perdemos na semana passada o ‘homem das baleias’, Enrique Litman, empresário hoteleiro na Praia do Rosa, reconhecido até no exterior como presidente do Instituto Baleia Franca e como defensor dos passeios embarcados para observação de baleias. Fotógrafo, também são dele as mais belas fotos das baleias francas na região. 

Enrique Litman foi um homem que só fez o bem, trazendo uma mensagem positiva num mundo complicado e às vezes obscuro, sempre com o rosto iluminado nas feiras internacionais, onde levava o nome do turismo de Santa Catarina. Quando foram proibidos os passeios embarcados para a observação de baleias, Litman liderou o nosso trade turístico e, depois de muitos anos, conseguiu a vitória. Era um idealista, um personagem – no bom sentido do termo – de Cervantes, um homem que como Dom Quixote perseguia moinhos de vento e seus sonhos e os realizou. Espero, sinceramente, que o legado que o Litman nos deixou possa inspirar as novas gerações e diminuir tantas resistências às boas ideias e boas práticas no nosso país.

O segundo fato marcante foi a entrevista concedida pelo segundo homem mais rico do mundo, Elon Musk, a Peter Diamandis, fundador do prêmio XPrize e que incentiva financeiramente projetos inovadores. Na descontraída conversa nos jardins da nova e frugal casa do bilionário (ele vendeu as mansões em Los Angeles “para levar uma vida mais simples”), Musk, descalço e de camiseta, lembrou a Diamandis que eles estavam juntos na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, há vinte anos, quando ele se inspirou pelo excepcional projeto Space X, que prevê viagens de turismo à Lua e até em Marte. Hoje Musk é celebridade mundial também por liderar o projeto de veículos elétricos Tesla.

A revelação de Elon Musk aguçou a curiosidade de pessoas em todo o planeta que assistiram à entrevista, que viralizou na internet, para saber onde fica essa tal Lagoa da Conceição e Florianópolis, das quais o bilionário fala com tanta naturalidade, como se estivesse falando da Flórida, de Paris ou de Roma.  

Esses dois fatos – a morte de Litman e a revelação de Elon Musk – têm uma forte conexão, o turismo catarinense. Explico: ao tempo em que Musk revelou para o planeta um de seus mais lindos lugares, a Lagoa da Conceição, Florianópolis e o litoral catarinense, Litman foi um batalhador incansável na luta pela divulgação internacional das atrações turísticas do nosso Estado, fez uma defesa intransigente – mas também incompreendida principalmente por órgãos públicos da União – do meio ambiente e das suas amadas baleias. Litman via o turismo com algo inovador, que se bem planejado e administrado, poderia ser a grande alavanca de desenvolvimento de SC, preservando sua natureza.

Precisamos refletir sobre esses dois episódios, tanto a passagem de Musk por nosso litoral, quanto a vida e a luta de um dos maiores defensores deste mesmo litoral. Do meu ponto de vista – sempre focado no turismo sustentável, de preservação ambiental e melhoria da qualidade de vida – esses dois fatos revelam acima de tudo a necessidade de o litoral de SC ter, como um todo, um upgrade receptivo.

Nossa tendência de qualidade tem sido marcada por bons governos e por boa iniciativa privada – mas os níveis de coordenação, de planejamento, de integração, têm que mudar de patamar porque já existe uma razoável e desorganizada ocupação do litoral. Há várias ideias e projetos que vêm ainda dos tempos em que Musk andou pela Lagoa e das primeiras batalhas de Litman pelo nosso turismo e que não conseguem sair do papel por questões ambientais, burocráticas e preconceitos retrógrados. 

Particularmente, tenho a dizer que quando ocupei secretarias de Estado e criamos a SC Parcerias, no Governo Luiz Henrique, deixei inúmeros projetos de infraestrutura, investimentos públicos e privados e PPPs para o nosso Litoral. Quando secretário de Políticas de Turismo do Ministério do Turismo, de 2012 a 2015 e depois, como ministro do Turismo, também deixei o mesmo legado, do qual vou destacar como exemplo a concepção e obtenção de recursos para o Centro de Eventos de Balneário Camboriú, com capacidade para 15.900 pessoas, cuja obra física foi entregue em dezembro de 2018, juntamente com todos os recursos liberados na Caixa para equipamentos internos, como ar condicionado, divisórias, elevadores e catracas.

Infelizmente, por questões burocráticas com as que apontei acima, e também por outras razões que não cabe aqui expor, o Centro de Eventos ficou parado e só recentemente, após mais de dois anos, recebeu os equipamentos. No entanto, sua concessão para a iniciativa privada também sofreu nos escaninhos da burocracia, fracassou na primeira tentativa, e só no próximo dia 17 de maio haverá nova abertura de propostas.

E, para finalizar esta coluna, vou incluir mais um importante personagem, este com intima ligação com Santa Catarina, o famoso sociólogo italiano Domenico De Masi. Eu era presidente da SC Parcerias no Governo Luiz Henrique, quando o trouxemos ao Estado para uma profunda pesquisa acerca do turismo catarinense. O resultado foi o livro ‘O Futuro do Turismo de Santa Catarina 2007/2021’, que tem como pilares a importância do desenvolvimento sustentável e dos modelos de turismo adotados por países de primeiro mundo. 

Editada em parceria com a Unisul, a obra traz duas lições como premissa. A primeira é que precisamos atrair turismo de qualidade; e a segunda é que esse turismo não deve ser sazonal, mas ano todo. “E a melhor resposta para isso é o turismo cultural”, afirmou Luiz Henrique no lançamento no Museu Cruz e Sousa, lembrando que nossa equipe estava buscando esse público, mostrando o Estado e atraindo investimentos e visitantes. “Já estive em 12 missões internacionais, levando material nos mais diversos idiomas, como ucraniano e polonês. E quando nos conhecem, os turistas e os empreendedores vêm”, afirmou ele.

Apesar do tempo desde seu lançamento e da pandemia que impactou de forma brutal o Turismo em todo o planeta, ouso dizer que a obra de De Masi segue atual e serve como uma referência indelével do que precisamos construir para esse turismo defendido por Enrique Litman e cantado ao mundo por Elson Musk. O livro aborda as tendências mundiais e brasileiras da atividade turística e avalia aspectos como a Demanda e a Oferta e a Economia do Turismo Catarinense, elencando ações de marketing, organização e profissionalização, políticas públicas e os impactos do turismo quanto à sustentabilidade, meio ambiente e ao econômico e social.

Mais do que nunca, agora que nos preparamos para uma retomada espetacular do turismo, precisamos de um plano consistente e políticas que garantam ações mais rápidas, eficazes e concretas. Algo à altura do nosso Estado, cujas belezas e potencial turístico atraíram o canadense Elon Musk, o argentino Enrique Litman e o italiano Domenico De Masi – o que vislumbra que o mundo todo sempre se encantará por Santa Catarina.