Enfrentando uma guerra desigual contra um vírus letal e mutante, o dilema de proteger a vida ao mesmo tempo em que precisam garantir a sobrevivência da atividade econômica, do emprego e da renda dos seus cidadãos e, especialmente, uma gestão federal negacionista que vem sacrificando o país com poucas vacinas, UTIs, kits de intubação, oxigênio e o péssimo exemplo de autoridades distantes no Palácio do Planalto que se recusam a usar máscara, manter o distanciamento e nem qualquer outro dos protocolos preventivos, os prefeitos brasileiros e catarinenses são verdadeiros heróis.

Em Santa Catarina, os prefeitos vêm dando exemplo na luta pela obtenção de mais e novas vacinas além da Coronavac do Instituto Butantan, que hoje representa 80% dos imunizantes que estão sendo aplicados nos braços brasileiros. Mas os prefeitos não têm apenas que vencer a guerra contra a pandemia. Eles precisam pensar que, ao vencerem essa terrível etapa de pico pela qual estamos passando em todo o país, ainda terão que planejar e se preparar para uma retomada econômica que garanta o futuro de seus municípios. Para isso serão obrigados a criar, inovar e encontrar novas fórmulas – uma verdadeira revolução – para fazer crescer o comércio, os serviços, a indústria, a agricultura, gerar emprego e renda, melhorar a qualidade de vida da população depois dessa devastadora crise.

Como ex-ministro e atual secretário do Turismo do Estado de São Paulo, ex-presidente da Embratur, ex-diretor nacional do Sebrae e ex-secretário em SC por sete anos no Governo Luiz Henrique, eu não poderia apontar aqui outro caminho para essa revolução: Viagens&Turismo, a dimensão econômica mais impactada pela pandemia em todo o planeta – e, que, certamente, no novo admirável mundo novo que viveremos em breve, será a que mais se desenvolverá por conta da necessidade, hoje represada, que temos de viajar, conhecer, sentir a natureza, a arte  e a cultura, nos divertir e trocar experiências inesquecíveis com as pessoas.

Por isso não posso deixar de registrar aqui minha emoção e até uma certa surpresa ao ter coordenado na semana passada uma reunião virtual com nada menos do que 380 prefeitos e representantes dos 645 municípios paulistas – todos em busca desse caminho de retomada econômica que é Viagens&Turismo. São Paulo é o Estado que mais recebe turistas no País e o turismo é uma atividade que que movimenta 10% do PIB local, gera empregos e impulsiona os indicadores sociais. Na reunião, compartilhamos o andamento de grandes projetos e ações, muitos criados para atender ao setor durante a pandemia. O objetivo é ampliar o alcance de suas iniciativas e mobilizar os líderes municipais, ainda em início de gestão. Os prefeitos foram apresentados a uma cartilha com a estrutura da secretaria, seus objetivos e canais de comunicação, assim como o Plano 2030 do Turismo de São Paulo, documento que presenta as diretrizes e metas paras os próximos dez anos.

A área técnica da Setur esclareceu as possibilidades de obter crédito sob medida a partir das linhas pensadas para o turismo e pleitear investimentos em infraestrutura com o Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos (Dadetur), que no ano passado repassou R$ 223 milhões para estâncias e Municípios de Interesse Turísticos (MITs). O nosso desejo é que os municípios se aproximem ainda mais da Secretaria e que a gente possa multiplicar os benefícios que o Turismo é capaz de oferecer. Um município que é bom para o turista, também é bom para os seus moradores.

A nossa pasta ainda apresentou a evolução dos projetos de Rotas Cênicas e Turísticas pelo Estado, a nova legislação para distritos turísticos, a plataforma de melhores práticas, que será lançada em abril, e a implantação do conceito de politurismo, que visa tornar São Paulo um centro de tecnologia e informação do turismo, com o apoio do CIET, o Centro de Inteligência da Economia do Turismo. No evento, também foi lançado um curso de gestão de crise para gestores e empreendedores do turismo, com conteúdo desenhado pela Fundação Instituto de Administração (FIA-USP), e inscrições já abertas, com o objetivo de apoiar os gestores em um cenário desafiador de pandemia.

O que fizemos e o que estamos fazendo em São Paulo – e considero importante linkar isso com Santa Catarina – é um projeto de mobilização, que prioriza o turismo de proximidade, o turismo interno, enquanto os brasileiros não podem viajar para o exterior, nem para regiões mais distantes, e as pessoas estiverem fazendo viagens pela mais pura necessidade de “sair de casa”. Com isso começamos a recuperar os 128 mil empregos que Viagens&Turismo perdeu em SP no ano passado, enquanto tinha conquistado 50 mil novos postos de trabalho em 2019. Importante salientar que a indústria e o agronegócio, por exemplo, são importantes no aspecto do emprego – porém, não foram tão afetados e até cresceram, mas agora o fundamental da geração de postos de trabalho é a recuperação daqueles que mais perderam.

As viagens de proximidade são o link ao qual me referi com relação a SC: o Turismo será o caminho mais curto para retomar a receita, emprego e renda, já aqui também setores tradicionais da economia também vão bem, mesmo na pandemia. A flexibilidade do Turismo catarinense, com seu próprio movimento interno, e também em relação ao Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, é o caminho da retomada. A parada do mundo foi a parada do turismo. A volta do mundo será a “volta pelo turismo”, seja pelas viagens de lazer, negócios, eventos, esportes, experiências, enfim, por todos aqueles motivos que nos levam a outros lugares – com os quais sonhamos agora.

Por isso, tenho absoluta convicção de que o futuro de SC vai depender muito do que fizermos daqui para frente, com esse sentimento que os prefeitos têm de fazer uma revolução em todas as dimensões – nas regiões, nas cidades – que o Turismo alcança. Cabe colocar aqui que isso tem sido buscado pela força do movimento municipalista que hoje promove o intercâmbio e a cooperação entre cidades, prefeitos e ações de Santa Catarina, pelas mãos da Fecam, e de São Paulo, pela Associação Paulista de Municípios, ações que tenho apoiado como articulador entre entidades e associações.

Esse movimento, que tem o Turismo como mola mestra, cria assim um novo patamar na lógica da descentralização por regiões, o chamado desenvolvimento regional integrado. Para corroborar com essa lógica, me reporto ao estudo Programa de Desenvolvimento Industrial Catarinense (PDIC 2022), da Fiesc, no qual todas regiões do nosso Estado elegem o Turismo como primeira ou segunda prioridade, ou seja, como indutor de crescimento social e econômico – e aí miramos a própria “revolução do turismo”.

O Turismo oferece um forte e variado arsenal para municiar os nossos prefeitos na guerra contra as consequências da pandemia e na revolução que iniciam para se saírem vitoriosos também no pós-guerra.