No momento em que escrevo este artigo, nesta segunda-feira (29), recebo a boa notícia de que o Instituto Butantan entregou mais 5 milhões de doses da Coronavac ao Brasil – agora já são 32,8 milhões ao Plano Nacional de Vacinação. A vacina que o Governo de São Paulo providenciou ainda no primeiro semestre de 2020 imuniza hoje 9 entre 10 brasileiros que são vacinados.
Meu tema de hoje é vacina e pandemia – como não poderia deixar de ser – mas não posso deixar de registrar a lamentável situação de governabilidade pela qual nosso Estado vem passando. De forma alguma estou fazendo juízo de valor sobre a decisão tomada na sexta-feira pelo Tribunal Especial, afastando pela segunda vez o governador Carlos Moisés. O que não posso deixar de dizer é que considero este o preço que estamos pagando pela fragmentação do Estado, do “mosaico catarinense”; e que isso demonstra o quanto a Capital se encastelou, distanciando-se das economias e das demais regiões – algo que, se já nos impacta agora, será altamente danoso a médio e longo prazo.
A união e a integração das nossas regiões vem se estressando há algum tempo, e isso tem como marco o momento em que as eleições na Assembleia Legislativa passam a ser pela unanimidade dos 40 deputados, desconstruindo mesmo até o histórico bipartidarismo catarinense: UDN x PSD, Arena x MDB. Essa pluralidade sempre garantiu a diversidade de posições, e fazia constante uma oposição vigilante, responsável e fiscalizadora, saudável ao Estado e à Democracia. A chegada da Nova Política, inexperiente e sem um “plano de vida” para SC, rompeu os laços tênues da união catarinense. Hoje temos um Estado sem Governo, desgovernado e sem lideranças que apontem rumos seguros para o futuro.
Essa crise acontece no pico da pandemia, quando mais precisamos de gestão e decisões corretas. Dizendo isso me reporto novamente ao Governo de São Paulo, do qual faço parte da linha de frente, e que comunicou que o Instituto Butantan está desenvolvendo, em fase avançada, a primeira vacina 100% brasileira contra o novo coronavírus, a Butanvac. Na minha avaliação, essa nova vacina aumenta a segurança para o Brasil enfrentar a pandemia e ter uma maior e mais rápida retomada econômica. Estimo que a próxima temporada de Verão será excelente, apesar de todos os erros crassos e imperdoáveis do Governo Federal.
Em entrevista que concedi à jornalista Estela Benetti lembrei que desde que a Covid-19 surgiu no Brasil, paralelamente à parceria com o laboratório chinês Sinovac para fazer a Coronavac, o Butantan desenvolveu essa outra vacina, usando tecnologia própria, semelhante à utilizada na H1N1. É feita da mesma forma que a vacina da gripe, usando ovos como um dos insumos. O Butantan é uma instituição grande, que produz 10% das vacinas do mundo, conta com cerca de 2.500 colaboradores, muitos cientistas que desenvolvem alta tecnologia. Foi importante manter o projeto em sigilo para não causar expectativas que poderiam não se tornar realidade. Como, agora, os testes têm que ser feitos com pessoas, foi possível vir a público para falar sobre o projeto.
A vacina será testada em humanos no Brasil a partir de abril (testes também estão sendo feitos no exterior) e serão produzidas 40 milhões de doses ainda este ano. Quando será essa produção? Quando terminar a produção da H1N1, em agosto, o Butantan iniciará a fabricação da Butanvac. Será no mesmo parque fabril da H1N1, que é enorme. A expectativa é de que teremos as 40 milhões de doses para o país no segundo semestre. Esta nova vacina significa que, a partir de São Paulo, estamos dando um sinal de autonomia, sinal de controle da pandemia no Brasil que, hoje, é a mais incontrolada do planeta. Precisamos estar preparados também para mutações. Então, tendo uma fábrica da Coronavac e outra para a Butanvac, teremos um seguro, um hedge para a nossa economia. Podemos proteger também a América Latina toda.
Pelo cenário atual, o país não estará todo vacinado até o fim do ano. Pode melhorar se o país, após a vacinação dos EUA, comprar mais doses. Mas precisa ficar atento porque muitos países estão interessados. O Butantan vai repassar para o governo federal 100 milhões de doses da Coronavac até o final do ano, para o Programa Nacional de Imunização (PIN). Já foram entregues mais de 25 milhões de doses e até o fim de abril será concluída a primeira fase, com 46 milhões de doses. Além da entrega anual ao governo federal, o Governo de São Paulo comprou 30 milhões de doses para imunizar os paulistas este ano. Isso porque a lei permite fazer isso após a imunização dos grupos prioritários. Outros governos estaduais poderão fazer o mesmo.