O sonho catarinense e nosso jeito de fazer as coisas com “as próprias pernas” – já que historicamente sofremos do mal crônico do abandono federal e da falta de influência política no centro do poder – são o tema das nossas últimas colunas, em que buscamos referências na construção de um novo plano de vida para Santa Catarina. Na coluna anterior, nossa referência foi aquele primeiro ‘visionário’ catarinense, o governador Jorge Lacerda, que assume no final de janeiro de 1956, quando o Estado ainda vivia numa situação de quase estagnação: energia escassa, poucos recursos financeiros e um incipiente sistema portuário e rodoviário fizeram a economia catarinense patinar entre 1945 e 1960.

Em apenas dois anos – ele morreria num acidente de avião em 58 – Jorge Lacerda faz uma verdadeira revolução na economia de Santa Catarina, tendo como manual o seu Plano de Obras e Equipamentos (POE), o primeiro instrumento oficial de planejamento de SC. O POE atacou áreas estratégicas, como a autossuficiência energética, com a construção de Termelétrica de Capivari, no Sul, abertura de estradas e construção de pontes pelo interior e investimento em educação de todos os níveis.

Mesmo com a morte de Lacerda, o Plano de Obras e Equipamentos continuou a ser executado pelo vice-governador Heriberto Hülse, que cumpriu o mandato até 31 de janeiro de 1961, quando assume Celso Ramos. Planejar o futuro de Santa Catarina tinha dado tão certo que Ramos já iniciou sua gestão com o Plano de Metas do Governo (Plameg), com o qual efetivamente o Estado passou a usar instrumentos ativos de políticas econômicas para implantar e ampliar a infraestrutura social básica e para financiar o capital privado local.

Assim, o padrão de crescimento se modifica a partir de 1962, com um novo sistema de crédito, investimentos em energia e transporte e a consolidação do setor eletro-metal-mecânico, liderado por médias e grandes indústrias.

Começam a surgir as “marcas catarinenses” no mercado nacional. De acordo com a obra “A formação econômica de Santa Catarina”, do professor Alcides Goularti Filho, no setor de alimentos despontam a Sadia, Perdigão, Chapecó, Coopercentral, Seara e Duas Rodas. No eletro-metal-mecânico a Tupy, Consul, Embraco, WEG, Kohlbach, Busscar e Duque. No setor cerâmico a Eliane, Cecrisa, Icisa, Portobello e Cesaca. No têxtil-vestuário a Hering, Artex, Karsten, Teka, Sulfrabril, Malwee, Renaux, Buettner, Cremer, Marisol e Döhler. No setor de papel e celulose a Klabin, Igaras, Irani, Trombini e Rigesa. Na área madeireira a Sincol, Adami, Battistella e Fuck. Na carbonífera, a CBCA, CCU, Metropolitana, Criciúma, Catarinense e Próspera. No setor moveleiro a Cimo, Artefama, Rudnick e Leopoldo. Na área de plásticos a Hansen, Tigre, Cipla, Canguru e Arkos e, no de porcelanas e cristais, a Oxford, Schmitz, Ceramarte, Blumenau e Hering.

Essas empresas se transformam na grande vitrine dos produtos catarinenses, que passam a ser reconhecidos por sua qualidade em todo o país e também no exterior. Fazer compras em Santa Catarina, especialmente no Vale do Itajaí, se transforma numa atração turística para brasileiros e estrangeiros e assim o Estado sai do anonimato. O crescimento dessas companhias só foi possível em razão da infraestrutura energética e de transportes, assim como da oferta de crédito para investimentos. O POE de Jorge Lacerda e o Plameg de Celso Ramos foram os primeiros “planos de vida” de SC. E foram a referência para os planos que viriam a seguir, com os governadores Ivo Silveira e Colombo Salles. É isso que vamos conhecer e analisar na próxima coluna.