Na última coluna ressaltei o quanto é estratégico para a economia o turismo ser tratado como uma política de Estado, para que possa ser uma alavanca do desenvolvimento como dimensão econômica. Essa é uma concepção contemporânea em que Turismo&Viagens não pode mais ser tratado como “setor”, atrelado a Serviços como se fosse um mero “penduricalho”. Em São Paulo, o turismo passou a ser tratado como política de Estado especialmente a partir de janeiro de 2019, quando assumiu o governador João Doria, um dos mais abalizados especialistas da indústria turística, ex-presidente da Embratur.

Vale lembrar que foi também nessa época em que a Secretaria de Turismo de Santa Catarina foi “absorvida” pelo Desenvolvimento Econômico, num enorme retrocesso para um Estado que é um dos principais destinos turísticos nacionais e internacionais do Brasil. Felizmente, o mesmo não aconteceu no plano federal, no qual nossa luta junto com o trade turístico nacional sensibilizou o presidente Jair Bolsonaro – e assim a pasta do Turismo foi mantida entre os ministérios.

Como é política de Estado desde janeiro de 2019, quando assumi a Secretaria de Turismo paulista (Setur SP), consegui implementar uma série de ações estratégicas que nos fizeram colecionar uma série de vitórias, com a geração de cerca de 50 mil empregos. A pandemia foi um golpe cruel. Porém, a Setur SP reagiu com rapidez, e adiantou seu planejamento estratégico em dois componentes críticos para o momento. Primeiro, criou e estruturou seu plano de manejo de crises e emergências para responder, na velocidade necessária, às demandas do trade, dos municípios turísticos e da população. Depois, redirecionou seu Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável do Turismo de SP para um plano estratégico de suporte à retomada da economia, tendo a área turística como estratégia de alavancagem de emprego, manutenção dos negócios, apoio aos segmentos mais fragilizados do setor e indução da recuperação orçamentária e fiscal do Estado.

O Plano SP, com seu suporte científico, permitiu enfrentar o transe da pandemia de forma segura e sustentável. Vencemos as diversas fases com suporte de médicos sanitaristas e epidemiologistas, e não sofremos colapso no sistema de saúde, como tantas cidades da Europa e dos EUA. Agora, prepara-se a retomada econômica e da normalidade social.

O sábio Arquimedes, na Grécia antiga, anunciava: “Deem-me um ponto de apoio e eu levantarei o mundo”. Pois o turismo é um dos pontos de alavancagem da economia pós-pandemia. Como explica o professor Mario Beni, um dos maiores especialistas no tema, o turismo impacta 52 segmentos diferentes da economia, criando postos das áreas de alta tecnologia até as de menor qualificação, tanto no emprego formal quanto no informal. E, como já anunciou em artigo recente Sergio Cimerman, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, “já está na hora de retomar as viagens”. Com prudência e estratégia. “Retorno regado a protocolos rígidos (…) será o diferencial para a volta do turismo presencial”, observou o especialista.

Advogo o retorno seguro e sustentável do turismo no Estado, mas um retorno com natureza de renascimento ou transformação. Sabemos que o turismo de massa (overtourism) tinha seus dias contados. A crise acelerou esse processo em benefício de todos e do planeta. O novo turismo será no ritmo do controle da pandemia e se dará pelo turismo de proximidade. Essa modalidade é particularmente interessante para SP, pois somos os maiores emissores de viajantes do país e os que mais gastam em seus deslocamentos. Esse dado é fundamental, porque estamos preparados para oferecer o que há de melhor no turismo mundial aqui mesmo.

Essa nova realidade não acontecerá por acaso, mas por planejamento, consolidado no Plano Estratégico para a Retomada do Turismo. Desenhado para fortalecer a articulação e integração dos atores do setor, estimular e desenvolver a inovação, empreendedorismo e inteligência nessa cadeia de valor. Prevê, entre outros itens, formar profissionais para as demandas atuais e futuras; estimular o desenvolvimento e incorporação da inovação e da tecnologia no ecossistema; estimular o empreendedorismo. E aprimorar o processo de tomada de decisões estratégicas dos atores públicos – do governo à iniciativa privada e o terceiro setor. Criar um ambiente que estimule e promova a sinergia e ações integradas entre esses stakeholders.

Todo esse esforço e dedicação vão desembocar num novo modelo de Turismo, nos posicionando e sendo referência para o Brasil e para o mundo. Sabemos que há grandes desafios além da inteligência embarcada – a decisão política de criar um ambiente de negócios que favoreça o novo modelo de turismo. Estamos numa constante luta contra a burocracia e as normativas retrógradas que são entrave aos novos negócios turísticos. Mas isso já é agenda do Governador Doria: sairemos da crise com os instrumentos legais, normativos e intelectuais que nos colocarão onde tínhamos que estar no mundo do Turismo.

São essas as inspirações e lições que gostaria de deixar para Santa Catarina neste momento de retomada do turismo. Um Estado que sempre venceu os mais impactantes desafios, tragédias naturais e crises econômicas em virtude da capacidade ímpar do seu povo, a força dos trabalhadores e o ímpeto dos empreendedores. Mas que sempre contou também com administrações públicas eficientes, que fizeram uma boa gestão dentro e fora das crises – o que infelizmente não parece ser uma realidade neste momento.